Capítulo 01

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- Clarinha - Manuela chamou a filha, enquanto afastava os fios de cabelo emaranhados de seu pequeno rostinho.

Ela precisava da criança acordada para tomar o café da manhã, antes das duas precisarem sair para sua jornada diária. A Jovem mãe levantava diariamente às 5:00 da manhã para ter tempo de deixar tudo arrumado, e por mais que ela se sentia sendo cruel acordando uma criança tão cedo, ela sabia que era preciso, pois essa era sua vida, e ela não poderia fazer diferente.Desde que saiu da casa do pai quando descobriu estar grávida, não teve um dia de descanso, sua rotina era cansativa e nem um pouco gratificante. A única coisa que a confortava em meio a tudo, e a fazia ficar firme em todas as adversidades, era a ideia de dar um futuro melhor para sua pequena, para que ela não precisasse nunca passar pelo que ela passou.

- Vem amor, mamãe vai dar um banho em você - ergueu a pequena no colo, enquanto ela resmungava no sono.

Enfiando a ponta dos dedos na pequena banheira, ela testou mais uma vez a temperatura da água, antes de colocá-la dentro. O banho foi rápido, já que nesse horário o clima era sempre gelado, e ela não queria que a criança pegasse algum golpe de ar frio e adoecesse.

Depois que secou seu pequeno corpinho, pegou uma combinação de roupas bem quente e uma touquinha de lã vermelha para a pequena cabecinha. Clara estava acordada, a encarando com os enormes olhos azuis, e Manuela mandava beijinhos para ela, que retribuia com um sorriso parcialmente desdentado de volta, enquanto chutava as perninhas para cima, e assistia atenta, a mãe preparar com prática uma bolsa de materiais para o dia.

Pegou quatro fraldas, uma troca de roupas, uma lata de leite, mamadeira, chupeta, lenços umedecidos e tudo aquilo que a menina pudesse precisar enquanto ela não estivesse. Quando engravidou, Manu nunca imaginou quão caro e trabalhoso seria cuidar de uma criança sozinha, e atualmente só podia agradecer a Deus, pelo trabalho que tinha, que não pagava muito, mas que permitia que ela colocasse um teto sobre suas cabeças, e mantivesse sua filha sempre alimentada.

Depois da pequena pronta, alimentada e dormindo novamente, era a vez dela se aprontar, e em tempo recorde ela carregava Clara para fora de casa, em direção ao ponto do ônibus que as levaria até a casa da babá. Sua jornada no transporte público estava apenas no início, já que ainda precisava pegar mais 2 ônibus para chegar ao serviço.

- Bom dia - cumprimentou alguns vizinhos, que pegavam diariamente o mesmo ônibus que ela.Ela nunca chegou a fazer amizade com nenhum deles, apenas trocava alguns cumprimentos, porém se sentia muito mais segura não tendo que ficar sozinha na rua uma hora daquelas, quando o sol ainda nem nascera.

Sempre se sentia um pouco sortuda toda vez que o ônibus chegava, porque o ponto onde ela pegava a condução, era o segundo depois do começo da linha, então sempre havia um lugar para ela poder se sentar com a filha. Por mais que em todos os ônibus existissem assentos preferenciais, nem sempre estavam disponíveis, e nem todas as pessoas tinham o bom coração de oferecer um lugar.

Após deixar Clara na casa de Dona Emília, uma Senhora muito bondosa que entrou em suas vidas, ela seguiu para seu destino. Chegou cedo, já que era uma das únicas funcionárias, que começava a trabalhar antes do horário de funcionamento da lanchonete.

- Bom dia, Maria - ela cumprimentou a colega de trabalho, que chegara antes dela.

- Oi, Manu! - Maria sorriu simpática, enquanto segurava a porta de vidro para ela poder entrar. - Bom dia.

Manuela viu que o balcão de pedidos ainda estava ocupado com os pertences da moça, e percebeu que ela também tinha acabado de chegar.

- Tudo bem? - ela perguntou, quando observou Maria caminhar até o espelho do bar, e passar um pouco de corretivo sobre as olheiras ao redor dos olhos.

Minha salvaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora