Capítulo 07

152 19 6
                                    


— Daniel me disse que destruíram seu apartamento - Rafaela comentou, enquanto manobrava o SUV para fora do estacionamento do hospital.

— Na verdade, eu não vi direito o que aconteceu, sei que os móveis estavam revirados e minhas roupas estavam espalhadas, na hora só pensei em pegar minha filha e sair.

— Eu sei que você deve estar bastante sonolenta ainda devido aos remédios, mas eu preciso que você fique mais um tempo acordada para nos guiar para sua casa.

— Nós vamos para lá, agora? - Manuela perguntou, com os olhos arregalados em direção a mulher. — É bem tarde.

Sem soltar a mão do volante, Rafaela chacoalhou o braço levemente conseguindo afastar a manga que cobria o visor do relógio no pulso.

— Faltam 15 minutos para meia-noite, realmente é bem tarde, mas é o melhor momento para voltar para lá. Quanto mais cedo nós formos, mais seguro é. Depois do ataque a você, eles provavelmente não vão ficar nas redondezas por medo das patrulhas de polícia. Nós entramos, e pegamos alguns objetos pessoais das duas, tudo que pudermos transportar, e que couber no carro. Tudo bem?

— Ok, vou tentar ser rápida. Pegar nossos documentos é minha prioridade.

Passaram os próximos minutos em um silêncio contemplativo, cada uma perdida em seus próprios pensamentos. Silêncio esse, que só era quebrado de poucos em poucos minutos, quando Manuela indicava a direção das ruas que Rafaela deveria seguir. Quase 30 minutos depois Rafaela estacionou o carro em uma viela escura e suja, na lateral do pequeno edifício.

O lugar diante delas era um cenário decadente, e se não soubesse melhor, qualquer um pensaria que o prédio estava abandonado. As paredes estavam totalmente ocupadas, pichações novas cobriam as velhas em uma confusão de cores e formas que eram impossíveis de se decifrar. Algumas das janelas possuíam tábuas de madeira ou papelão cobrindo os buracos dos vidros quebrados.

Manuela sentiu seu rosto corar de vergonha quando a mulher desligou o carro, e se virou para ela no banco traseiro.

— Vocês moram aqui?

— Sim.

— É terrível.

— É o único lugar que eu consegui pagar. - ela não pode evitar o tom frio em sua voz, ao interpretar a crítica na fala da mulher. — Nem todo mundo ganha mais de 15 mil por mês, como a Doutora faz.

Rafaela arregalou os olhos e levantou as mãos em um pedido de paz.

— Uou, calma. Eu não quis te ofender Manuela, o que acontece é que eu comecei a ficar preocupada quando o cenário da cidade foi mudando conforme avançávamos, mas confesso que estou surpresa, por esse lugar ser pior do que eu imaginava.

— ... - o silêncio foi sua única resposta, enquanto encarava a mulher mais velha nos olhos.

— Não há segurança nenhuma aqui, esse bairro é extremamente perigoso.

— Eu sei disso, sei de tudo isso que você falou, mas era minha única opção. Ou isso, ou morar na rua - a jovem deu de ombros tristemente, sentindo a humilhação se infiltrar em todo o seu sistema.

— Para, não precisa ficar se justificando para mim, eu entendo sua situação. Mas eu estou sinceramente muito feliz por você ter aceitado ficar no meu apartamento, porque de nenhuma maneira eu deixaria você ficar mais um minuto morando nesse lugar, principalmente sozinha com uma criança pequena.

A garota sentiu o coração acelerar, com a determinação e naturalidade com a qual Rafaela afirmou aquilo, o que provavelmente vinha da profissão ela pensou, já que a mulher devia estar acostumada a mandar e não ser contrariada.

Minha salvaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora