Manuela Menezes é uma jovem mãe, forçada desde o início da gravidez a lidar sozinha com todas as adversidades da vida. Ela se sente perdida ao testemunhar um sequestro, e após fazer uma denúncia, teme pela sua vida, ao ter sua segurança e de sua fil...
Manuela recolheu as duas peças de roupa penduradas no boxe do banheiro e caminhou em direção a cama. No meio do quarto, ela girou sobre seus pés e olhou ao redor, observando o pequeno quarto de hotel, se certificando de não estar esquecendo nada para trás.
O lugar era triste e decadente, pensou a garota desanimada, as paredes pareciam algum dia ter tido uma cor amarela, alegre, mas hoje em dia estavam encardidas e descascadas com as marcas do tempo. No banheiro o chuveiro era antigo e estava queimado, fazendo com que ela tomasse banhos rápidos que a deixavam sentindo calafrios por um bom tempo, e os poucos móveis que existiam, estavam esfolados e com a estrutura bamba, aparentando mau parar em pé por conta própria.
Aquele lugar não era, e não seria uma opção para ela até duas semanas atrás, poderia soar arrogante, ou até mesmo irreal para qualquer ouvinte desinformado, mas ela jamais imaginou que existissem lugares assim, essa era uma realidade feia que estava muito longe da antiga vida que ela tinha.
Nesses últimos dias ela aprendeu da pior forma possível que, não só esse lado da vida era muito real, como também, que mendigos não podem escolher, e esse foi o único teto que o dinheiro deu para ela pagar. Era isso ou ela teria dormido esse tempo todo na rua. E ela não se considerava uma pessoa ingrata, sabia reconhecer que independente da aparência, se não fosse por esse lugar, não haveria para onde ela ir.
Ela recolheu 2 pequenas garrafas, que estavam vazias em cima da cama, e enquanto aguardava toda a água enferrujada do velho encanamento escoar pelo ralo, no pequeno banheiro, encarou seu reflexo no pequeno espelho à frente.
O rosto que a olhava de volta era a viva imagem do fracasso, ela tentou arrumar a aparência o melhor possível, amarrou os fios loiros em um firme rabo de cavalo, escovou os dentes, vestiu uma roupa limpa, mas não foi o suficiente para melhorar sua imagem. Havia olheiras horríveis ao redor dos seus olhos, o cansaço era notável em seu rosto, e ela também havia perdido alguns quilos nas últimas semanas, esse último fato é o que a deixava mais preocupada, porque ela estava carregando uma vida dentro de si.
A loira sabia que não deveria se alimentar tão mal, quanto estava se alimentando ultimamente, e se preocupava que a falta de nutrientes poderia afetar a saúde do bebê, mas não havia nada que ela pudesse fazer no momento para evitar isso.
Não foi realmente uma surpresa para ela, quando descobriu estar grávida, já estava desconfiada por um bom tempo antes de resolver comprar o teste. A surpresa de verdade veio depois.
Seu pai ficou furioso, ela nunca imaginou vê-lo tão bravo em toda sua vida, em um momento ela chegou a pensar que ele fosse a agredir e temeu pelas suas vidas, a dela e a do pequeno ser que ela gerava. Mas ele não fez nada tão extremo, apenas subiu para o andar de cima, seus passos furiosos retumbaram pela casa, e quando voltou, jogou sua mochila escolar e três notas de 100 reais no chão, sobre os pés dela. Portando uma expressão furiosa, ele ergueu o braço apontando para a porta da casa, e a mandou sumir da sua frente, antes que ele fizesse uma besteira.
Foi o que ela fez.
Saiu da casa, chorando e percorrendo as ruas sem rumo, passou sua primeira noite em claro, encolhida atrás de uma caçamba de lixo amarela, em um beco úmido e escuro, nos fundos de um restaurante, assustada até com a própria sombra para conseguir dormir, esperando amanhecer para se sentir mais segura.
Logo que o dia clareou, seguiu seu rastro de volta para casa, bateu na porta na esperança que seu pai abrisse, que a raiva tivesse passado e ele reconsiderado. Ficou mais de uma hora plantada, chamou, esperou sabendo que ele deveria estar em casa, mas ele não a atendeu.
Depois de muito tempo esperando, desistiu. Caminhou desolada, sem saber o que fazer, eles viviam sozinhos, apenas ela e ele depois que sua mãe morreu. A garota não tinha mais avós, não tinha parentes próximos nessa parte do país, e definitivamente não tinha amigas na cidade, já que os dois haviam se mudado a muito pouco tempo.
Depositou todas as suas esperanças em uma única pessoa. Caminhou durante um tempo até onde ela sabia ser sua casa, mas não foi recebida da forma como imaginou. Quando contou o que aconteceu, e pediu ajuda para o pai do bebê, ele a agarrou pelo pulso e a puxou pelo quintal não muito gentilmente, acusando-a de estar louca por aparecer assim na casa dos pais dele, sugerindo grosseiramente que ela interrompesse a gravidez, garantindo que se fosse preciso ele dava o dinheiro para isso, mas que Manu não podia pensar que ele ia assumir uma criança que não era dele, porque segundo ele "ela poderia ter dormido com qualquer um".
Depois disso ela se desesperou, com o medo paralisante percorrendo seu corpo, se perdeu um pouco naquele lado da cidade que ainda não conhecia, até passar em frente a rodoviária , um pouco após ter começado a cair os primeiros pingos de uma garoa persistente, se abrigou embaixo da marquise, abraçada firmemente com sua mochila, que continha os únicos pertences que ela ainda possuía.
Ali ficou, até que o segurança gentilmente se aproximou para alertar que ela não poderia ficar mais, ao menos que estivesse esperando o horário de um dos ônibus, Manu não pensou muito sobre o que fazer na hora, impulsionada pela incerteza e pelo orgulho ferido, comprou a passagem mais em conta, e para o lugar mais longe que ela pôde encontrar.
Duas semanas depois, ali estava ela, hospedada em um hotel barato, de beira de uma estrada, em uma cidade desconhecida, buscando um recomeço.
Ela não se arrependia de continuar com a gravidez, mesmo não sabendo o que a esperava no futuro, tinha certeza que nunca iria se arrepender disso.
Sempre quis ser mãe, sempre esperou com ansiedade o amor, a sensação de pertencimento, cuidado e proteção, obviamente ela não eu não queria ser mãe tão cedo, com apenas 19 anos, mas aconteceu, e ela não conseguia pensar em abdicar disso. Simplesmente soava como uma idéia absurda para ela.
Balançando a cabeça para afastar a neblina das recordações, que estavam afugentando seus pensamentos, ela guardou as garrafas de água na mochila, enquanto calculava mentalmente se as moedas no bolso do Jeans desgastado seriam suficientes para alguns pacotes de bolacha. Não era nutritivo para o pequeno que estava dentro dela, mas era a única coisa que ela podia comprar.
Manu observou novamente o relógio de plástico pendurado na porta de madeira, ela tinha em 1 hora uma entrevista de emprego. No dia anterior, durante a manhã, ela passou em frente a uma lanchonete, que ficava há dois quarteirões de distância do hotel, e viu um cartaz colado do lado de dentro da porta, nele anunciava-se uma vaga disponível para garçonete. A garota entrou na mesma hora, não podia deixar passar essa chance e dar a oportunidade de alguém chegar primeiro que ela. Uma jovem muito simpática a atendeu no balcão, e explicou que a contratação era feita apenas pelo dono, e que ele estaria de volta no dia seguinte, após as 9 horas.
E era de volta para a lanchonete que ela estava planejando ir, não tinha experiência nenhuma servindo mesas, fazendo lanches, e muito menos lidando com clientes. Mas ela tinha muita necessidade, e isso bastava para tentar ser a melhor empregada que aquele lugar já vira.
"Se Deus quiser tudo vai dar certo " ela pensou, passando a mão sobre o pequeno volume em seu abdômen.
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