O CASTIGO

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As grades da cela pareciam se mexer, seria possível que finalmente me tirariam daquele lugar?

– Levante-se! Tron quer vê-lo – ordenou Gormon, o grande e volumoso homem que me encontrou na estrada junto de Ártemis.

Meu corpo ainda relutava em se mover. Apoiando nas barras consegui me levantar e, pulando em uma perna só, acompanhei Gormon para fora da cela e depois para fora da masmorra, onde finalmente pude ver a luz do dia.

Passou sete dias desde que me capturaram na estrada no fim daquela madrugada. Naquela noite, fui levado na traseira do caminhão até o Lar, chegando quase de dia.

Pensei que me levariam direto para Tron. Porém, ao invés disso, me trancaram na segunda cela de uma prisão subterrânea. Neste momento pensei que teria um pouco de sossego e descanso. No entanto, colocaram algo que fazia um barulho estridente e agudo que no começo não me incomodou tanto, mas depois de dois dias me enlouqueceu.

Quando finalmente silenciaram o perturbador som, me levaram a uma sala onde acumulei os piores traumas de toda a minha vida.

O homem da máscara de ferro me amarrou à uma cadeira de alumínio enferrujada. Olhei para os lados: não via sequer um sinal de luz natural, apenas um lampião em cima de uma mesma mesa com assustadoras ferramentas de tortura. Engoli em seco e olhei para os olhos atrás daquela assustadora máscara: usei minhas últimas palavras de coragem antes de perder qualquer espírito de herói que me restava.

– Não vou contar nada...

– Abre a boca – ordenou, me calando com um pano sujo de óleo e me eletrocutando com duas fiações desencapadas.

Senti meus sentidos desaparecendo. Meu coração, ainda disparado, começou a parar e as queimaduras grudaram minha camisa em minha pele. Acordei com um balde de água fria e me deparei com a mesma pessoa: agora segurando minha própria lâmina oculta.

Arregalei os olhos quando o homem puxou uma maca na minha direção. Ao me desprender das fitas, tentei me debater, mas estava fraco demais. Logo estava com as costas às mostras e deitado naquela horrenda cama de hospital. Gritei ao sentir a lâmina cortando minha pele até que saísse um pedaço inteiro de carne, jogado em uma bandeja bem à minha frente. Senti a afiada ponta escorregar até meu quadril e neste momento desejei estar morto, mas ainda não havia acabado.

O mesmo balde que usou para me despertar um dia atrás foi usado para me afogar. O cobrador da máscara de ferro empurrou minha cabeça contra a água e me deixou submerso várias vezes até minha reserva de oxigênio se esgotar. Perdi a consciência na quarta vez que era afogado e minha visão escureceu.

Acordei, talvez depois de dias, com a mão aberta em uma mesa cirúrgica. O homem entrou na sala segurando um cutelo e eu já imaginei o que poderia acontecer.

– Por favor – Ele esticou o meu dedo mindinho da mão direita e se preparou para amputar. – Não, por favor...

Foi meu mais alto grito de dor. Sentir meu osso se quebrando e ver aquela mesa se encher de sangue enquanto meu dedo, separado de minha mão, rolava para a beirada me fez vomitar o pouco de comida que havia no meu estômago.

Senti uma torturante dor e desejei já ter parado de respirar. O torturador passou a retornar com um pedaço de pão embolorado e com uma atadura que eu mesmo usei para fechar o ferimento da mão. Isso perdurou por mais três dias até que me esqueceram na cela, onde fui alimentado apenas com ração e água. Nos últimos dois dias finalmente consegui dormir no chão duro, tendo sonhos horríveis em que Minerva era destruída e Ava acabava sendo transformada em um zumbi depois de ser morta pelo homem da máscara de ferro.

AS ÁGUAS VERMELHASOnde histórias criam vida. Descubra agora