AS ÁGUAS VERMELHAS

A PRAIA

Enfim, dessa vez agora tínhamos certeza de que tudo havia acabado. Com certeza aquela seria a noite mais divertida da minha vida.

Ao sol se pôr, todos os presentes na última e definitiva investida contra os cobradores se reuniram no grande supermercado para festejar. Sem deixar de ser responsáveis, cuidamos para que grande parte do som fosse abafado do lado de dentro. Fechamos o máximo de portas possíveis e instalamos protetores de ruído nas paredes, deixando acessível ao lado de fora para aqueles que preferirem ar fresco.

As torres de vigia, espalhadas por todo o perímetro do mercado, estavam sempre ocupadas por algum segurança kulliano. Trocavam a cada maia hora para que todos pudessem aproveitar a festa que acontecia do lado de dentro, onde havia música, bebida, comida e o mais importante: a alegria de termos conquistado nossa independência

– Bom, acho que não vou me acostumar aos frutos do mar, tem certeza de que quer ir embora? – perguntei à Ava enquanto montávamos nosso prato na mesa de alimentos, onde havia carne, frango, macarrão, grãos e um dos mais variados pratos de salada, pois era a comunidade que possuía a maior horta de todas.

– John, se você realmente não quiser, eu entendo... – Pus o dedo delicadamente nos lábios dela para indicar que estava errada. Eu realmente queria ir.

– Não me importa para onde vamos, só quero ter certeza se é o que você realmente quer. – Ela afirmou com a cabeça, confiante de sua escolha. – Tudo bem, aproveitemos a festa. Amanhã seguiremos viagem.

– Já no dia seguinte?

– Acho que já fizemos a nossa parte. Não quero me prender à mais situações que irão surgir daqui pra frente. As comunidades conquistaram sua paz. Adolf e Indra vão acolher os jovens de Minerva, eu tenho certeza disso.

– Bom, então é melhor você separar roupas de calor. – aconselhou-me ela. – Vamos aproveitas muito as nossas merecidas férias amanhã.

– Pode ter certeza disso. – Tremia de entusiasmos só de imaginar Ava com trajes de banho. – Pode ter certeza.

Foi nesta noite que começamos a conversar e compartilhar nossas histórias. Porém, as folhas estavam se esgotando. Deixei ela misturar seus relatos aos meus para terminarmos o que, quando começamos, não imaginávamos até onde iria chegar.

Aquela foi à noite mais louca e divertida da minha vida. Depois de jantar com John, eu e Lívia seguimos para a pista o meio do salão e dançamos depois de umas garrafas a mais do que o necessário. Nunca tinha bebido bebidas alcoólicas, e por isso foi tão fácil elas causarem seu efeito em mim. A sorte é que não passamos tanta vergonha, pois minutos depois Liz também se juntou a nós e vários outros também, virando uma verdadeira festa quando começaram a pular no meio do salão principal do supermercado.

Enquanto Ava dançava com Lívia e todos os outros, eu as observava sentado com uma taça de vinho ao meu lado. Tentar dançar com uma perna de metal era uma passagem só de ida para mais uma vergonha em público. Depois da bebida, virei um copo por vez de uma outra que nem sabia o que era, mas que estava gostoso. Só tinha uma certeza: não era nenhum suco inocente.

Pensei ter visto um macaquinho passar debaixo de minha mesa, convencendo a mim mesmo de que não era uma alucinação, mas sim Filch, o pequeno sagui de Adolf. Olhei em volta e notei as únicas pessoas desacompanhadas, que se mantiveram em suas mesas acompanhadas apenas da bebida: Alex, depois afastar Lívia, entrou em uma completa tristeza, não podendo beber por sua idade; Thomas também não parecia nada feliz naquela noite, parecendo estar no funeral do seu irmão regado a álcool.

Acontece que ambos foram impedidos de ficarem tristes: Alex foi chamado por Brock e Scot para se juntar à galera enquanto Thomas, depois de tanto se lamentar, foi ajudado por uma mão de metal a se levantar da cadeira, seguindo para a pista com os gêmeos Igor e Linus e esquecendo um pouco a tragédia que presenciou. O único que não me conformei em ter continuado sentado na cadeira foi Vork. Portanto, caminhei até ele para ter alguém com quem conversar.