O LABIRINTO

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No meio da madrugada, paramos para descansar em algum lugar na imensidão de túbulos subterrâneos debaixo da floresta onde antes se emergia uma cidade. Ao longo de todo o nosso trajeto, só o que encontramos foi mais bifurcações e mais túneis para seguir. Nos cansamos de encarar grades de ferro que bloqueavam a nossa passagem e nos obrigavam a reformular o caminho.

– Bom pelo menos não havia grades de ferro quando estávamos debaixo da água – comentou Luke, com um otimismo que todos já haviam perdido.

Encontramos dois ou três zumbis no esgoto que não foram nenhum problema para matar pelo grande grupo que formamos. Porém, os mortos que andavam por aqueles esgotos poderiam estar lá há mais de um século, o que os deixou muito mais asquerosos e nojentos do que os da superfície.

Tony nos avisava dos mortos, nos deixando atentos. Mirávamos as lanternas para os lados quando ouvíamos um ranger ou qualquer som ameaçador. Não sabíamos quantos metros de terra se estendiam acima de nós, o que era pavoroso, principalmente para Yumi, que era claustrofóbica.

O nosso maior problema era decidir entre dois ou três túneis, o que sempre causava discussões e até brigas entre as mais variadas personalidades que compunham aquele conjunto que aceitou me seguir para longe do Lar.

– Já passamos por este, vamos pelo da direita! – dizia Alicia.

– Como já passamos pelo da esquerda, droga! Nem ao menos chegamos neste lugar – retrucava Vork.

– Vamos pelo meio – opinava Gus.

– O do meio está com cara de ter mais grades – deduzia Peter.

– Por que não nos separamos? – sugeriu Linus.

– E como vamos nos reencontrar, espertão? – reclamava Vork.

E assim se estendia as brigas até que chegávamos a um acordo. Sempre quando pensávamos ter visto a luz da noite, acabávamos nos decepcionando com grades ou mais bifurcações. Eu tinha a impressão de que estávamos adentrando ainda mais naquele lugar, e talvez demorassem dias para encontrar alguma saída.

– Que bom que paramos, eu não aguentaria dar nem mais um passo – admitiu Martim depois de decidirmos parar para recuperar as energias.

– Vamos descansar por algumas horas e depois voltamos a andar – declarei.

– Pessoal – chamou Thomas. – Alguém trouxe comida?

Ninguém respondeu. Igor e Linus trouxeram armas (incluindo a minha lâmina oculta e a minha pistola de cano curto), mas nenhum alimento. Minha barriga roncava e minhas roupas estavam encharcadas, assim como a de todos.

A única solução que encontrei foi adormecer e tentar acreditar que no dia seguinte tiraria todas aquelas pessoas daquele assombroso lugar. Sabia que, de alguma forma, era culpa minha que estarem em um labirinto subterrâneo.

...

– O que você fez?! – gritei.

Os cobradores nos encontraram. Todos os que fugiram comigo naqueles túneis subterrâneos foram mortos e agora perambulavam grunhindo de um lado para o outro.

Alicia, a mais baixa do grupo, terminava de devorar o corpo de Luke. Os gêmeos Igor e Linus e os irmãos Peter e Thomas foram abatidos por Ártemis e Gormon antes que causassem mais problemas. Gus estava com a cabeça estourada no chão ao lado de Yumi, que começava a se transformar assim como Vork, o qual acabou tendo o mesmo destino que seus amigos, Clon e Jeremy.

Martim era o único que não fora abatido, e agora andava cambaleando para a minha direção com o rosto deformado e cadavérico.

– Fiz o que disse que iria fazer – disse Tron. – Destruí aquela escola, matei todas aquelas crianças... matei a mulher de cabelos vermelhos. – Robert, Ártemis e Alfie, o narigudo, riam ao fundo como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo.

AS ÁGUAS VERMELHASOnde histórias criam vida. Descubra agora