AS EXECUÇÕES

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– John, câmbio... É a Ava. Uma horda cercou o hospital, nós precisamos de reforços.

A minha concentração na conversa que estava tendo com Tom dissolveu-se quando escutei a voz de Ava no radinho de Yumi. A médica cuidava de registros dos pacientes em uma maca usada como mesa, perto da saída da enfermaria.

– Só um minuto Tom. – Levantei e peguei a bengala para chegar até ela, a qual percebeu a minha aproximação, mas não me impediu.

– Ava, o que houve?

– Yumi, nós conseguimos render os cobradores, mas os tiros atraíram uma grande bando que agora está bloqueando todas as saídas do hospital abandonado. Estamos presos aqui junto com os cobradores rendidos.

– Não se preocupe, vou falar com a colíder de King Kullen e organizaremos uma escolta para resgatá-los.

– Conseguem vir antes do anoitecer? – perguntou ela, demonstrando certo medo na voz.

– Estaremos aí em algumas horas... prometo. – E desligou, se levantando da cadeira rapidamente e dirigindo-se para a porta.

– Espere. – Parei-a. – Deixe que eu vou, você precisa cuidar dos pacientes.

– Você nem consegue andar direito John, como vai lutar com uma horda inteira de zumbis?!

– Eu dou um jeito.

– Eu não tenho tempo para perder com discussões. – Ela se virou e voltou a andar. Porém, no meio do caminho, decidiu voltar. – Olha, me desculpa. Eu sei que deve ser difícil para você, mas é melhor que você fique para que a recuperação seja rápida e possa voltar logo à ativa.

– Os pacientes vão ficar bem? – perguntei.

– Se você cuidar deles pra mim, sim. Não se preocupe em lhes dar medicamentos, estão todos no horário por enquanto. Você pode ficar de olho neles até eu voltar? – Não era exatamente o que eu desejava, mas era difícil negar algo à Yumi quando ela nos lançava um olhar de pena, pois isso não era normal dela. – Pode fazer isso por mim?

– Tudo bem, mas me prometa que vai fazer o possível para tirar eles vivos de lá.

– Eu prometo. Agora tenho que ir, provavelmente os cobradores escutaram o que Ava falou, e não vão hesitar em agir também. Nos vemos mais tarde.

A médica saiu da enfermaria para reunir uma equipe de busca enquanto voltava mancando para a minha maca.

– Bom, como eu dizia – continuou Tom. – Falam que nestes quadrinhos o protagonista leva uma série de vantagens apenas porque... – Eu não conseguia mais prestar a atenção nele. Se Ava morresse, a culpa seria minha por não ter ido e tentado ajudar. Mesmo que eu não fizesse muita diferença, pelo menos poderia mudar os fatos e garantir a sobrevivência dela. – John! Está me ouvindo?

– Hã? Ah, sim... estou cansado Tom, acho que vou dar uma cochilada.

– Tudo bem, depois eu te conto o final da história.

Ainda de tarde, adormeci.

...

Acordei com um sobressalto quando o barulho de um trovão soou do outro lado da janela.

O céu desabava com uma forte tempestade. Já era noite, o que me deixou confuso com relação ao horário que dormi. Não sonhei com nada, mas acordei atordoado e assustado. Estava com a sensação de que não descansara o suficiente, pois o novo pedido de ajuda de Ava me fez sentir o mesmo desespero da vez que estavam presos na galeria de lojas em Rodes.

AS ÁGUAS VERMELHASOnde histórias criam vida. Descubra agora