A CORDA

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No dia seguinte, acordamos bem cedo para aproveitar a ausência das interrupções, pois o que eu menos queria era uma plateia para me assistir falhar nas tentativas de escalar a Torre Oeste com apenas uma corda. As reclamações de Gus já valiam por uma plateia inteira.

– Vamos John, você nem está se esforçando. – Como minhas mãos já estavam calejadas por causa do dia anterior, resolvi colocar um par de luvas de couro para amenizar a dor. Desta vez também escolhi os pés de metal corretos para este tipo de função: os de escalada, com a ponta dobrável e cravos para fincar nos vãos dos blocos. – Tente mais uma vez, e nessa quero ver você batendo seu recorde.

A manhã estava fria. O sol prometia esquentar o dia daqui a algumas horas. Continuava falhando em conquistar o meu objetivo, mas meu resultado foi melhor do que o esperado: consegui ultrapassar o equivalente a três andares e ainda voltar ao chão depois.

– Para termos certeza, precisamos que você suba a altura dos cinco andares e depois desça, pois não sabemos o que pode acontecer no Lar.

– Meus braços estão anestesiados de tanto aguentar meu peso. – Ele achou engraçado porque não estava no meu lugar, mas tenho certeza de que se estivesse, não estaria sorrindo.

Neste mesmo instante percebemos uma grande movimentação vindo da frente do castelo, e imediatamente paramos para o caso de alguém passar por lá e achar estranho o que estávamos fazendo. Havia suspeitas de um possível traidor entre nós, por isso não poderíamos arriscar suspeitas para o nosso lado.

– Ouviu isto? – perguntou Gus.

– Está acontecendo alguma coisa. Vamos fazer uma pausa e ver o que é.

Abandonamos o nosso local de treinamento e corremos para frente do castelo, onde encontramos um bando de pessoas armadas e aparentemente cansadas. Elas não pertenciam a nenhum dos grupos aliados. Parecia um grupo de aproximadamente trinta pessoas, comandadas por ninguém menos Gormon, o largo homem e meu antigo supervisor de faxina no Lar. Logo atrás vinha outro cobrador que também reconheci: Finn, o homem da cicatriz no olho que escutou Tony latir no meu quartinho de vassouras e que quase descobriu que fomos nós os responsáveis pela libertação dos cachorros em uma noite antes. Felizmente, antes que ele abrisse a porta, Alicia apareceu bem a tempo de impedi-lo.

– Mãos para o alto! – gritou Pietro do alto da muralha semidestruída, apontando uma metralhadora pesada para os recém-chegados. – Eu disse mãos para o alto!

– Viemos em paz! – gritou Gormon, largando sua escopeta e chutando-a para frente. – Não viemos para lutar! Queremos nos juntar a vocês!

– E por que aceitaríamos vocês em nosso grupo? – perguntou Indra, ainda de roupão.

– Porque trouxemos muitas armas e explosivos. Eu, Gormon Bellini, organizei um grupo secreto e convoquei todos aqueles que estavam insatisfeitos com os métodos de Tron. Estávamos de acordo e percebemos que muitas pessoas inocentes morreram por uma estúpida causa. Por isso gostaria de compartilhar as informações que temos para que possam terminar vitoriosos esta guerra.

Os líderes se entreolharam e pensaram por um instante. Eu e Gus estávamos do lado de fora do castelo, escondidos atrás de uma moita e observando tudo de longe. Quando Adolf, Pietro e Indra pareceram chegar a um consenso, a líder de King Kullen voltou a falar, dando a resposta final:

– Larguem todas as armas e levantem as mãos. Vamos revistar um por vez e só assim vocês entrarão no castelo. Depois os algemaremos e falaremos com o líder do grupo a respeito desse acordo. O líder deve ser o grandalhão da frente, estou certa? – Gormon assentiu. – Ótimo, sigam as minhas instruções e resolveremos isto.

AS ÁGUAS VERMELHASOnde histórias criam vida. Descubra agora