Reparo

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Sumário: Sinais de vício, sinais de abstinência. Ou talvez, algo entre os dois?

Notas: Acredito que esse capítulo iluminará uma nova perspectiva nas coisas. Uma conversa muito necessária.


Após a décima primeira mudança de posição, Macarena aceita que seu descanso simplesmente não viria.

Fabio está roncando profundamente, seu corpo como uma fornalha pesada pressionando contra o lado dela. O braço direito dele atravessado pela barriga dela.

Ela se sente sufocada.

Depois que o jantar terminou, ele não perdeu um sequer segundo antes de arrastá-la para o quarto, exigindo suas respostas. Zulema, sentindo-se inspirada, estava pertubando ele durante o jantar, testando a paleta de cores de tons de vermelho que seu rosto teria.

Fabio estava furioso quando ela fechou a porta do quarto. Ele rosnou mais do que falou, sem entender por que ele não era o suficiente — ela duvida que as preocupações dele se restringissem ao bem-estar do plano. Ela, no entanto, apenas se sentiu cansada.

Por mais que tentasse confortá-lo, Macarena simplesmente não conseguia confessar, para ele ou para si mesma, que ela simplesmente precisava de Zulema mais do que precisava dele.

Soltando um suspiro, ela delicadamente remove o braço de Fabio, vestindo um roupão antes de ir para a cozinha.

Ligando o interruptor, ela coloca uma chaleira no fogão, decidindo fazer um chá para ajudá-la a dormir. Seu corpo se acostumou a dormir com outras quatro mulheres no mesmo quarto.

Ou pelo menos uma.

Seus olhos naturalmente traçam um caminho direto para a varanda — de alguma forma, não se surpreendendo com quem ela encontra lá.

Decidindo mentalmente que ela simplesmente não conseguirá dormir esta noite, apaga o fogo e vai até a figura sentada, parando brevemente para embolsar o maço de cigarros que esconde secretamente na estante.

Hábitos da prisão.

A varanda tem um conjunto simples de mesa, com duas cadeiras de madeira velhas. A cabana pertencia à família dela, onde seu pai queria passar a aposentadoria. Ele acreditava que o ar na praia lhe faria bem.

O primeiro lugar que ela pensou em ir ao sair da prisão. Muitas lembranças em sua antiga casa.

Zulema está sentada à sua esquerda, simplesmente olhando para o oceano alguns metros à frente delas.

Ainda não a notou.

Ela aproveita o momento para realmente olhar para Zulema. A luz da cozinha que vinha de trás dela estava lhe dando um brilho suave, mas mesmo a pouca luz não pôde mascarar o olhar aguçado de seu rosto. Sua cabeça estava inclinada para o lado, o ângulo fazendo as maçãs do rosto parecerem mais nítidas, a curva roxa se tornando uma borda. No lábio, um corte desagradável — ela não sabe se quer beijá-lo ou pressioná-lo para machucá-lo.

"Cigarro?"

Zulema se encolhe, uma mão indo ao peito.

"Merda!" Zulema não esperava companhia nem queria. "O que?"

Decidindo mostrar, em vez de se repetir, Macarena estende o maço de cigarros.

Zulema muda de idéia.

"É engraçado que meu corpo tenha se acostumado a dormir no mesmo quarto que você."

Zulema tem uma expressão divertida quando chega e pega um cigarro. Macarena dá um passo para acendê-lo, curvando-se levemente, cobrindo suavemente a chama com a mão, a brisa do oceano muito veloz.

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