Zahir

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Sumário: Zahir, do árabe, significa alguém que, uma vez que entramos em contato, ocupa gradualmente todos os nossos pensamentos, até chegarmos a um ponto em que não podemos pensar em mais nada.

Notas:  Este capítulo será um flashback do tempo na prisão, antes de Macarena partir.

Vamos ver o que aconteceu logo após o tumulto, a primeira vez delas, como Macarena foi embora e como essas duas mulheres conseguiram se viciar em si mesmas sem que nenhuma delas percebesse.

Vocês também vão notar que meus capítulos fica maiores a partir daqui, gradualmente. 



A polícia tinha trancado a prisão completamente no instante em que as encontraram. Não esperando ver todas elas sentadas, quietas, no pátio.

Macarena não lhes deu muita atenção, seus olhos nas chamas, brilhantes, queimando o corpo de sua amiga — sua mãe. Ela ergue o olhar para o céu acima, para as estrelas, observando a fumaça subindo, gentilmente, para encontrá-las — perguntando-se se procurasse muito, encontraria uma estrela que brilhava tanto quanto o sorriso da Sole.

A polícia hesita por meio segundo antes que o caos explodisse. Levando-as, à força, ao pátio principal. Eles não podiam — nem iriam — saber  quem eram as mulheres responsáveis ​​pela morte de Sandoval. As prisioneiras não diriam.

A solução que eles encontraram? Solitária para a maioria dos criadores de problemas que podiam nomear do alto de suas cabeças. Claro. Zulema e ela mesma incluídas.

Na verdade, elas foram as primeiras a serem arrastadas pelos cabelos.

Macarena podia ouvir os rosnados de Zulema atrás dela, a cabeça baixa, sendo segurada pelo guarda, os pés tropeçando em si mesmos enquanto as arrastavam para as celas da solitária.

O guarda joga a loira dentro de sua cela, fazendo-a cair de cabeça primeiro, os pulsos amortecendo o impacto, enviando ondas de choque de dor até os cotovelos. 

A porta se fecha com um baque pesado. Através da parede, ela consegue ouvir Zulema chutando e socando o guarda na cela ao seu lado. 

Outro baque pesado e depois silêncio.

Macarena se joga pesadamente no chão — virando-se de costa — soltando um suspiro enquanto encara o teto.

Ela odiava a solitária.


— - —


Três dias depois, o silêncio é cortado com um som.

Macarena leva dois ou três segundos para entender que não é apenas o seu batimento cardíaco  no leito das orelhas. 

É uma voz.

Sentando-se na cama, ela coloca a orelha perto da parede. Nada. Ela cai no chão de joelhos, rastejando para a saída de ar mais perto da porta.

O som fica mais alto.

As luzes estão apagadas, elas deveriam estar dormindo — mas em solitárias, noites se tornam dias, dias se tornam noites, quanto mais você fica dentro de sua própria cabeça.

Macarena senta-se de costas para a abertura de ar, os joelhos contra o peito — nesta posição, ela consegue distinguir a voz perfeitamente.

É Zulema, cantando.

Yalla Tnam, Yafki Albaka.

Yalla Yalla, Habibi. Yalla Yalla Tnam.

Macarena não entende uma única palavra, mas o sentimento por trás delas é clara: Luto.

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