Fenda

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Sumário: Dois passos a frente, um atrás. É um progresso, ou uma dança?

Notas: Eu resolvi simplesmente ir colocando os capítulos aqui quando eu tivesse tempo, em vez de manter uma rotina. Afinal, você tem toda a liberdade de ler essa história no AO3.



A primeira coisa que Zulema sente quando acorda é o tecido macio sob os dedos.

A segunda a faz desejar não ter acordado.

Dor. Dor agonizante. Sua mandíbula está dormente, o interior de suas bochechas queimam e seu estômago está sensível.

O gosto de metal ainda permanece em sua língua, ela percebe, amaldiçoando mentalmente a própria existência daquela cadela de cabelos encaracolados.

Depois de alguns segundos, sua mente alcança seus ouvidos e ela ouve o som mais inacreditável.

Gaivotas.

Um sorriso começa a se formar em seus lábios, mas ela lamenta instantaneamente o movimento, sentindo a pele sensível em seu rosto reclamar alto.

Soltando um gemido, ela tenta acessar o dano que aquela cadela fez em seu rosto.

"Você está acordada."

Isso a faz pausar. Ela não percebeu que tinha companhia em seu quarto.

Cuidadosamente, ela abre um olho — apenas para fechá-lo novamente. Muito claro.

"Você pode desligar a maldita luz, por favor?" Sua voz sai rouca, sua garganta estava seca.

"São as janelas, na verdade." Ela ouve Macarena se levantando e indo para algum lugar à sua esquerda para fechar as janelas. A sala é abraçada pela escuridão e ela solta um suspiro de alívio.

Lentamente, ela tenta abrir os olhos, uma tarefa muito mais fácil quando não se tem a luz apunhalando sem piedade seus olhos.

Piscando uma, duas vezes, ela os abre completamente e examina a sala em que se encontra.

Há uma cama singular em que ela se encontra, um guarda-roupa e uma escrivaninha à direita — à esquerda, a maldita janela e uma cadeira confortável que Macarena estava ocupando anteriormente.

"Você estava me assistindo dormir? Quão romântico" Ela resmunga, não se incomodando em enfrentar Macarena tão cedo nessa... tarde, aparentemente. Ela fecha os olhos novamente, deixando-se desfrutar da primeira cama confortável em anos.

Ela ouve Macarena bufar, antes de voltar ao seu assento. "Mais para garantir que você não iria me trair." Ela diz, cruzando os braços.

Zulema realmente solta uma risada.

O som faz Macarena se contorcer em seu assento.

"Certo, porque estou em condições perfeitas para escapar." Zulema abre novamente os olhos para, finalmente, olhar para sua ex-companheira de cela.

Como ela suspeitava, ela parecia a mesma do dia em que veio visitá-la na prisão.

Seu cabelo havia crescido durante os meses que passaram separadas, as raízes loiras sendo substituídas por sua cor escura natural. Desta vez, não havia jaqueta de chuva, apenas uma blusa de mangas compridas que ela continua mexendo nas bordas — um tique nervoso, talvez. Completando com um simples jeans desgastado e os pés, Zulema nota, estavam nus.

Quando seu olhar alcança seus olhos, ela percebe que a encarou por muito tempo. Curiosa, ela decide estendê-lo. Um, dois, três segundos se passam antes que Macarena desvie o olhar.

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