Escolha

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Sumário: 

(para as estrelas) a lua implorou:

fique.


Notas:  Este foi um capítulo publicado logo após a morte de Zulema, então eu o fiz com muito peso em meu coração. 

Este é um capítulo centrando inicialmente em Macarena, e ela lidando com uma das peças chaves da continuação desta história, mas logo após esse tumulto inicial, temos uma cena muito intima e relevante entre essas duas, afinal,  esse é o penúltimo capítulo e elas não terão tempo para se resolverem no finale. 




O som de choro faz Macarena abrir os olhos.

Era um tom agudo — breve o suficiente para ressoar na cavidade de seus ouvidos enquanto ela se sentava na cama, olhos claros percorrendo o quarto ao seu redor, procurando algo que pudesse lhe mostrar de sua origem.

Nada. Ela estava sozinha.

Observando o lugar ao lado dela, ela franze a testa. Ela não estava sozinha quando se deitou naquela noite. Pegando movimento pelo canto dos olhos, ela vira o olhar para a janela, a linha entre as sobrancelhas se afundando mais profundamente com o que encontra lá.

Neve.

Neve caindo.

Num piscar de olhos, ela puxa os lençóis para trás e joga as pernas para fora — pés encontrando o chão frio com um suspiro. Levantando-se, ela caminha pela casa invulgarmente silenciosa, os braços envolvendo os cotovelos, indo direto para a varanda e saindo para a areia.

Ela levanta o olhar com um franzir, sentindo-se confusa. Seus olhos seguem as pequenas partículas brancas caindo do céu, descendo suavemente das nuvens escuras e pesadas acima, dançando em círculos preguiçosos ao seu redor. Estendendo a mão em sua frente, ela pega alguns flocos de neve na palma da mão — puxando-os para mais perto do rosto para inspecioná-los, deixando escapar um suspiro assustado quando ela o faz.

Não era neve.

Eram cinzas.

Cinzas caindo do céu.

Fechando a mão em punho, ela a aperta contra o peito quando começa a sentir um medo esmagador se acumular ao redor do coração. Ela não estava mais com frio. De fato, a temperatura estava subitamente extremamente alta — suas costas estavam esquentando a cada segundo, um calor insuportável lambendo sua pele, percorrendo suas roupas como a mão de um amante, uma respiração abrasadora roçando seu pescoço.

Virando-se, ela solta um grito.

A cabana estava em chamas.

Chamas quentes brilhavam diante dela, envolvendo toda a estrutura, consumindo cada centímetro de madeira, tijolo e pedra. E inevitavelmente, tudo dentro.

Antes que ela pudesse processar completamente o que estava acontecendo à sua frente, ela ouve o choro novamente. Desta vez, vindo de trás dela.

Tentativamente se virando, seus olhos captam algo que não estava lá antes.

Um berço.

O choro fica mais alto.

Ela começa a caminhar em direção ao som, prendendo a respiração, mentalmente desejando que seu coração pare de bater contra o peito — um pedido que, inevitavelmente, atinge ouvidos surdos. Coração triplicando sua batida no segundo em que seus olhos avistam o que estava dentro dele.

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