Meus momentos eróticos com V eram tão sagrados quanto é a hora da confissão para os religiosos. Ali tínhamos a liberdade e, quem sabe até, obrigação de sermos verdadeiros, de nos desvendarmos um para o outro. Os pecados ficavam na cama. Não mentíamos, não julgávamos. Era o único momento em que éramos cem por cento sinceros.
Expostos, nus, nós descobrimos o corpo um do outro. Aos poucos, sempre. V podia assumir muitos papéis, dependendo do dia, da sede, de sua carência. Eu, em geral, deixava que ele me guiasse por seus desejos. V era criativo na cama como eu sou criativo na tela.
Depois eu me perdia a observá-lo, por um longo período. Amava V depois do orgasmo. Nu, ofegante, o cabelo desalinhado, o rosto vermelho, o corpo brilhante úmido de suor, olhos semiabertos, enevoados, torpes.
E pensava: me pertence. Tem que ser meu e apenas meu.
— Eu adoro a forma como você me olha. – V sorriu, travesso. Abraçava um travesseiro, o lençol branco cobrindo-lhe só até a cintura. – Mas está começando a me assustar. Sinto que você me engoliria, se pudesse.
— Talvez. – ri, fascinado. – Como Cronos comendo todos aqueles bebezinhos.
— Náh, Cronos não é nem um pouco romântico, Seagull! Se você vai me engolir, prefiro que seja como Zeus devorou Métis, toda duma vez só, depois de fazer amor com ela... bom, pelo menos assim nasceu Atena, da cabeça dele. Só que ninguém dá crédito a Métis, coitada.
— Você vai ficar? – perguntei, dessa vez sem nem tentar me conter. V sorriu e afirmou casualmente com a cabeça.
— Esse papo me deu fome. – ele se esticou para perto de mim e mordeu de leve meu ombro. – Vamos sair.
Ah, de novo não.
— Sair?
— Não aguento mais seus miojos e comida de microondas, Seagull. – V riu. – Fiz reserva num restaurante aqui perto, à beira da praia.
Franzi as sobrancelhas, confuso. V tinha feito reserva pra nós?
Então, entendi. Ele sabia que eu ia pedir para que ficasse, e também sabia que ia acabar cedendo. Tinha feito reserva de antemão.
Aquilo provocou uma coisa efervescente dentro de mim.
— Você está me convidando para jantar? – perguntei.
Soou menos estúpido na minha cabeça.
V soltou uma risada seca, obviamente entretido pela minha reação ridícula.
— Sim, Seagull. Estou com desejo de comer camarão. – se levantou da cama, buscando a camisa. – Anda, troca de roupa, e tenta ficar apresentável, sim? É um encontro.
O negócio efervescente borbulhou até a minha garganta.
Um encontro. Eu e V não íamos a encontros. A gente saía dirigindo sem destino. Nos escondíamos na segurança do meu ateliê no meio do mato. Ocupávamos espaços em branco, lugares que não eram de interesse das outras pessoas.
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Vinte Minutos e V
FanfictionJeongguk, um jovem pintor, conhece um modelo enigmático que se torna sua fonte infinita de inspiração. V, a misteriosa musa sem nome, passa a frequentar o ateliê de pintura, no topo de uma colina em frente a praia, e espalha-se na vida de Jeongguk p...