Cada palavra é um fraco apelo, um pedido, minha busca.
Todas as minhas humilhações escancaradas.
Para V.
Terrivelmente cansado. Preferia passar horas infinitas trabalhando em algum projeto extenso do que aturar as dores físicas de um bloqueio criativo. Quando se é um artista – e não importa se você tem sucesso na profissão ou não – mas quando se é um verdadeiro artista, real mesmo, que vive da arte e para a arte, tão somente para a arte, então um bloqueio criativo é o pior dos pesadelos. Se você é um verdadeiro artista, sabe do que eu estou falando. Já deve estar até sentindo aquele aperto no peito, só de pensar sobre o assunto.
É, isso mesmo. Falo das horas infindáveis olhando para a porra do nada, procurando aquela coisa que você tinha, mas sumiu! Merda, você pensa, como pode simplesmente ter sumido? Estava comigo ainda agora.
A gente tenta todo o tipo de maluquice quando está tendo um tempo longo o suficiente em abstinência de inspiração artística. Eu comecei a acordar cedo pra cacete, umas três e meia ou quatro horas da manhã, porque queria ver o nascer do sol. É um troço bonito, o céu negro e profundo se abrindo em pétalas azuis, alaranjadas, lilás, cor de rosa, carmesim. É diferente a cada manhã e dura quase nada. Eu estava acordando todo dia de madrugada feito um mendigo, só por aqueles míseros vinte minutos (quando muito!) em que eu podia ser preenchido pelas nuvens compridas e acinzentadas, se espalhando feito um mapa mundi no infinito de cores pastéis.
Enfim, rapidinho a coisa acaba e depois vira só um gradiente chato de lilás turvo pra azul celeste, o conhecido azul celeste com o qual eu não pretendia ter coisa alguma a ver. Eu gostava dos meus vinte minutos milagrosos todas as manhãs, mas eles não eram nem de perto suficientes para começar um quadro, é claro. Já estava ficando louco e comecei a buscar meios mais extremos atrás da tão desejada inspiração.
Eu estudava as minhas peças antigas, as mais bem-conceituadas, as mais elogiadas pelos críticos, as minhas favoritas, e era como se eu estivesse admirando o trabalho de outra pessoa. E que gênio incrível era esse tal de Jeon Jeongguk! Queria algum dia chegar pelo menos aos pés do trabalho dele. Mas eu não conseguia, não sem o surto de inspiração, não sem alguma musa, eu não conseguiria jamais fazer outra peça que se equiparasse aos meus maiores êxitos como artista plástico. Os êxitos de Jeon Jeongguk.
Acho que todo artista na minha situação vai eventualmente se agarrar ao sexo. Faz sentido, é claro, sexo é sublime e costuma ser inspirador. Sexo é êxtase, é prazer, é asco, é saber fingir e saber ser sincero. Sexo foi desde sempre uma das grandes fontes de inspiração dos artistas, e para sempre continuará sendo, enquanto o mundo for mundo e sexo for sexo. O amor também é fonte recorrente de inspiração, mas desse eu entendo pouca coisa ou quase nada, e mesmo assim acho o troço complicado demais e não quero me meter em suas armadilhas. Sexo, sim, nesse eu posso me meter sem peso na consciência.
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Vinte Minutos e V
FanficJeongguk, um jovem pintor, conhece um modelo enigmático que se torna sua fonte infinita de inspiração. V, a misteriosa musa sem nome, passa a frequentar o ateliê de pintura, no topo de uma colina em frente a praia, e espalha-se na vida de Jeongguk p...