Capítulo 9

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Dean 

— Se alguém perguntar de onde veio esse hambúrguer, vou dizer que foi o senhor. — A enfermeira aponta para Brad e parece estar realmente brava com ele. Brad faz que sim, batucando com as pontas dos dedos no balcão.

— Nós sabemos o que está acontecendo aqui, Nancy.

Ela tenta se manter séria, mas então vejo que, disfarçadamente, enxuga uma lágrima no canto do olho esquerdo.

— Vou pedir transferência para a maternidade — diz e sai, deixando nós dois sozinhos.

— O que está acontecendo? — pergunto curioso, encarando as duas crianças que conversam animadamente dentro do quarto. A garotinha de gorro azul, repleto de pequenos corações vermelhos está sorrindo tanto que dá até vontade de sorrir junto com ela.

Brad inspira profundamente antes de falar.

— Rachel é uma paciente terminal.

— Sem chance. — Brad nega e meu estômago se contrai. — Ela está bem, olha só como está rindo com ele — digo inconformado e aponto para o quarto. Lucca está sentado na cama junto com ela, assistindo alguma coisa na TV enquanto ela come a batata-frita, bem devagar, como um passarinho.

— Ela está em surto.

— O que é um surto?

— É comum pacientes terminais terem uma melhora repentina, como um último pico de energia.

Limpo a garganta porque parece que alguma coisa entalou dentro dela.

— Você está dizendo que ela melhorou para depois piorar e...? — Não consigo terminar a pergunta. Brad vira o pescoço na minha direção e assente. — Que merda, cara! Como você aguenta isso?

— Não sei. — E ele parece bem cansado ao dizer isso. — Acho que acabamos filtrando grande parte dos nossos sentimentos — diz ao dar de ombros. — Faz parte do nosso dia-a-dia, infelizmente.

— Por que você me deixou vir com você? — pergunto e desvio o rosto, esfregando os olhos rapidamente. Não quero que ele veja que há lágrimas querendo escapar.

— Desculpa.

— Preferia ter ficado em casa com aquela maluca — digo, cruzando os braços no peito.

— Tem certeza? — Ele arqueia uma sobrancelha, claramente me provocando.

Estalo a língua e desdenho da sua pergunta.

— Você precisa ficar aqui?

— Não, meu plantão só começa à noite.

— Então vamos embora logo, esse lugar está começando a me dar arrepios.

— Só vou me despedir deles e já volto.

— Tá. — Cruzo os braços no peito e apoio as costas o balcão. Brad entra no quarto falando alguma coisa engraçada porque as duas crianças caem na risada no mesmo instante. E isso me arranca um sorriso. Ele lava as mãos e começa a examinar o garoto, conversando com eles o tempo todo, prestando atenção em tudo o que eles dizem. Meus olhos percorrem o quarto, acompanhando cada movimento seu, porque é meio impossível desviar os olhos dele e esse pensamento é bastante estranho. Já achei isso durante a noite, enquanto aquela garota falava e falava e falava sem parar, só pensava que eu deveria ter ficado em algum bar com ele, bebendo cervejas e falando besteira.

Solto o ar e esfrego a barba. Acho que ter ficado a noite toda acordado não está me fazendo pensar direito.

— Tudo bem lá? — pergunto assim que Brad sai do quarto.

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