O pai soldado

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Notícia de que Adaku abdicara de suas responsabilidades e se tornara uma mulher

pública se espalhou por toda Lagos como uma labareda. Os homens de Ibuza se

fartaram de discorrer sobre a infidelidade das mulheres: "Basta deixá-las

sozinhas por dez minutos e elas viram outra coisa". Muitas pessoas punham a

culpa na própria Lagos; diziam que era uma cidade dissoluta, capaz de corromper

a mocinha mais inocente. As mulheres estremeciam só de pensar numa possibilidade

pavorosa daquelas. Procuravam Nnu Ego para indagar sobre os mínimos detalhes do caso. A

maioria achava estranho quando ela dizia que não houvera conflito, Adaku simplesmente

tomara a decisão de partir.

"Sabe", declarou uma dessas mulheres de Ibuza que gostavam de visitá-la, "eu entenderia

se você abandonasse Nnaife e deixasse todos os filhos dele para trás, mas Adaku eu não

entendo. Ela foi realmente abençoada por seu deus nesta cidade. Que mais ela poderia

querer? Não entendo".

Nnu Ego concordava com elas, mas no fundo ainda se perguntava se havia alguma coisa

que pudesse fazer. Quanto mais demorasse, mais impossível seria fazer qualquer coisa.

Tentou alertar Adaku sobre os comentários das pessoas, mas seus esforços não deram em

nada. Na última vez em que a vira em sua banca no mercado, voltara a insistir com ela para

que não seguisse seu plano, embora no instante mesmo em que insistia, já soubesse que não

restava esperança. Nesse dia mesmo, Adaku já vivia de acordo com o significado de seu

nome: "filha da riqueza". Disse a Nnu Ego que deixaria de vender feijões e pimentas, pois

estava comprando uma banca maior, onde venderia tecidos abadá para a confecção de lappas.

Sorriu ao ver o espanto e a surpresa no rosto de Nnu Ego. Teria transferido sua banca antiga

para Nnu Ego, disse, não fosse o fato de que ia alugá-la para uma pessoa que lhe pagaria uma

quantia anual.

"Pelo menos o assunto do meu aluguel está resolvido", concluiu, com uma risada.

"Quer dizer que você não vai precisar depender de amigos homens para resolver seus

problemas?".

"Não", respondeu a outra. "Quero ser uma mulher sozinha digna. Vou trabalhar para dar

educação a minhas filhas, embora não pretenda fazer isso sem a companhia masculina". Com

outra risada, completou: "Eles até que servem para certas coisas".

Nnu Ego percebeu que Adaku estava mais bem vestida; não que estivesse usando alguma

peça nova, mas envergava suas melhores roupas nos dias comuns de mercado. Agora Adaku

ria com gosto; Nnu Ego nunca percebera que ela possuía tanto senso de humor. Adaku

declarou que agora vivia em um quarto separado só para ela, muito maior do que o partilhado

pela família inteira antes. Nnu Ego ficou curiosa para vê-lo, e só um esforço de autocontrole

impediu-a de dizer: "Eu gostaria de visitar sua casa nova". O que as pessoas iam dizer?

As alegrias da maternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora