Era um dia úmido de julho de 1939. Que grossa estava a chuva naquele dia! Dava
a impressão de que todas as torneiras do céua haviam sido abertas pela mão de
seja lá quem for que se ocupa do tempo. Num instante, a propriedade do dr.
Meers, as ruas e a vizinhança inteira viraram um emaranhado de córregos em
miniatura. Mal dava para acreditar que apenas algumas horas antes a mesma área
era um terreno completamente seco. A água escoava do céu, obscurecendo o sol que lutava
para aparecer, até que a terra não pôde absorver mais nada e as pessoas pensaram que a
própria terra também estava vertendo água. Quase todas as árvores que cercavam as casas,
depois de horas encurvando-se e erguendo-se com a força do vento ululante, perderam os
galhos. Enquanto isso, a chuva prosseguia.
Nnaife não gostava daquilo. Não teria onde secar sua roupa, e sabia que a madame ficaria
desgostosa. Com a ausência de lógica típica das mulheres, irromperia na sala de passar pondo
a culpa nele, falando naquela sua voz ao mesmo tempo abafada e estridente, como se ele,
Nnaife, fosse o responsável pela chuva. Num instante espremeu à mão toda a água que
conseguiu da roupa lavada e abasteceu o ferro com carvão. Pelo menos daria um jeito para
que seus patrões tivessem alguma coisa seca para vestir, mesmo não havendo sol para alvejar
bem a roupa. Concentrou-se na tarefa, dizendo para si mesmo que dedicaria o resto do dia
àquilo. A chuva podia continuar despencando até tudo ficar como o dilúvio da Bíblia, mas
ali, no lugar onde estava, ele se encarregaria de manter um cantinho enxuto.
Podia ouvir a madame arrastando os pés pelo chão, ainda de sapatos de andar em casa; não
calçara os de caminhada que tamborilavam por todo lado, anotou Nnaife mentalmente.
Depressa, parou de assobiar. Ela não veio direto falar com ele; primeiro foi até a cozinha e
falou com o cozinheiro e seu "small-boy", que estava lá. Nnaife ouviu-a rir baixo, num tom
condescendente, exibindo a atitude que os brancos adotavam para falar com os criados nas
colônias. De todo modo, a julgar pelos grunhidos de Ubani, como os de um porco irado, ou
ele não estava gostando do que a patroa lhe dizia ou não estava entendendo, embora não
houvesse razão para que não entendesse, já que a madame se dirigia a ele no inglês pidgin
usado para falar com os nativos. Nnaife sabia que era pidgin pelo tom da voz dela, mas não
estava suficientemente perto para escutar o que dizia. Notou os passos arrastados vindo em
sua direção – podia ouvi-la agora; sim, era sua vez.
Seu coração começou a bater acelerado. Resolveu voltar a assobiar, assim a madame não
perceberia que ele sabia que ela estava vindo. Ao vê-la, endireitou as costas, com a barriga
protuberante bem acomodada no short cáqui, e continuou passando a roupa com tanto
empenho que até parecia que o mundo inteiro lhe pertencia.
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