Uma mulher fracassada

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Nwakusor estava a caminho de casa depois de trabalhar a noite inteira no navio

atracado junto à marina, em Lagos. Era um igbo de estatura mediana e

compleição esguia e, embora fosse difícil adivinhar sua idade pela aparência,

sabendo-se que havia dez anos trabalhava como estivador, era possível supor que

tivesse entre trinta e tantos e quarenta anos de idade. Naquele momento estava

visivelmente cansado; olhos vermelhos, arrastando os pés. Mas um consolo ele tinha: ia até

em casa dormir um pouco antes do turno da noite. Não queria pensar no que viria depois do

repouso tranquilo e do banho refrescante. Com esses pensamentos deliciosos na cabeça,

montou na bicicleta bamba, preta de tanto uso, e encarou a tarefa formidável de fazê-la entrar

em movimento morro acima até Ebute Metta, onde vivia com a esposa de olhos tristes.

Pedalou penosamente da ilha até o continente. O clima estava úmido e tão orvalhado que

todas as formas pareciam imprecisas. Mesmo as palmeiras e os coqueiros de perfil elegante,

que guarneciam as praias de Lagos como zelosas sentinelas, naquela manhã estavam sem

nitidez. Ao fitar a lagoa, Nwakusor via a neblina subir das águas azuladas e fundir-se às

nuvens em movimento. Pensar que em algumas horas aquele mesmíssimo lugar estaria

fumegando de calor direto! Quando chegasse em casa, de todo modo, sua esposa, Ato, estaria

prestes a sair para a banca de peixe do mercado de Oyingbo. Não era que quisesse evitá-la,

mas estava com pouca disposição para ouvir sua tagarelice inconsequente.

As duas laterais da ponte de Lagos eram guarnecidas de complexos montantes de ferro

pintados de vermelho e com pontas em lança, e uma via estreita, asfaltada, serpenteava entre

essas peças de ferro que pareciam uma cerca. Chegando a Tabalogun, Nwakusor era

obrigado a passar da estrada mais larga para a parte mais estreita da ponte que unia a ilha ao

continente.

Ainda pensando em sua cama, enquanto bufava de modo sinistro, ele foi catapultado para o

presente por brados de fúria e gritos agudos.

"Se está querendo morrer, por que me escolheu para acabar com sua vida, hein?".

Nwakusor ergueu os olhos e viu um ônibus kia-kia desviando perigosamente para a

esquerda para não atropelá-lo. Como sempre àquela hora da manhã, era quase impossível

embarcar num ônibus comum; por isso, veículos particulares de todos os tipos, aproveitando

a alta demanda, eram utilizados para que seus donos ganhassem um dinheirinho. Eram

chamados de "ônibus kia-kia", com o significado literal de "ônibus quick-quick", rápidorápido,

pois a vantagem daquele tipo de transporte era que uma vez lotado ele não parava

mais até chegar à ilha, e era possível fazer várias viagens numa única manhã, enquanto o

ônibus da frota da empresa do homem branco se arrastava devagar de parada em parada,

As alegrias da maternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora