The Soulmate Myth I

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Quando Crowley tinha por volta de nove anos, uma família se mudou para a casa no final da rua onde ele morava.

Era apenas uma mãe e seu filho, Aziraphale, que era um ano mais novo que ele, com cabelos loiros e grandes olhos azuis.
Ele era como qualquer outra criança de sua idade, exceto por ter nascido com deficiência auditiva.

As mães dos meninos se tornaram próximas, o que fazia com que Aziraphale fosse frequentemente na casa de Crowley.
Rapidamente, os dois se tornaram amigos, mas a comunicação entre eles era limitada. Com isso, Crowley se empenhou dia e noite em aprender mais sobre língua de sinais, e com o tempo, eles se entendiam perfeitamente.

Ao passar dos anos, eles se tornaram inseparáveis. Onde Aziraphale estava, você podia ter certeza que Crowley estava também.
Eles tinham a si mesmos, e isso bastava.

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Crowley estaciona seu carro na encosta de uma estrada de terra, seguindo até Aziraphale, que estava sentado na beira do lago.

A barra de sua calça estava dobrada e seus pés se moviam em círculos dentro da água. Ele olhava para o céu e bebia de uma garrafa de cerveja.

Crowley senta ao seu lado, retirando a garrafa da sua mão e dando um gole.

"Chegou cedo" disse Aziraphale.

— Matei a aula da Srta. Anathema — Crowley riu.

Aziraphale lançou-lhe um olhar sério em reprovação.

— O que foi? — Crowley questionou — Era geometria! Me diz quando na minha vida eu vou precisar saber a área de um triângulo?

"Me promete que não vai mais fazer isso?"

— Se você não gosta...tudo bem, eu prometo — ele sorri, recebendo outro sorriso de Aziraphale como resposta.

Crowley tira seus tênis e também coloca os pés na água.

Uma brisa balançava o cabelo de Aziraphale e os raios de sol faziam seus olhos brilharem. O dia estava perfeito, e se fosse outra ocasião, os dois estariam mergulhando no lago após um dia exaustivo.

Aziraphale reclamaria da água fria enquanto Crowley batia com suas mãos no ritmo de "We Will Rock You", com respingos para todo lado.

Mas aquele não era o momento, e Crowley definitivamente não estava no clima.

— Quando sai o seu vôo? — ele pergunta ao loiro.

"Ainda temos um tempinho".

— Desde que nos conhecemos, há quase uma década atrás, passamos as férias juntos. Não sei o motivo da sua mãe querer viajar esse ano.

"Será só durante o verão, logo estou de volta", Aziraphale tenta consolá-lo.

— Não acredito que você vai me deixar aqui sozinho. Eu vou morrer de tédio! — Crowley se joga para trás com os braços abertos.

"Você age como se eu estivesse indo embora para sempre! Você é o rei do drama sabia?", Aziraphale ri e bate no ombro de Crowley.

— Ai! — ele se senta novamente — É só que...eu vou sentir saudades — ele procura com a mão uma pedra e arremessa na água, observando ela quicar cinco vezes e afundar — Hah! Viu isso?

Aziraphale olhava para ele com um sorriso no rosto.

— O que foi? — o ruivo pergunta.

"O que você disse sobre saudade...Me lembrou algo".

— O que?

"Tem um mito de Platão...", Crowley revira os olhos e Aziraphale lhe dá um tapa no braço, "Presta atenção em mim!".

— Claro, nerd — ele debocha.

"Existe um mito de Platão que conta que há milênios atrás éramos seres de duas cabeças, quatro braços e quatro pernas. Éramos fortes, e esse poder subiu à cabeça. Acreditávamos que podíamos nos igualar aos deuses e até destruí-los. Porém, os humanos perderam a batalha, e como punição, Zeus resolveu nos dividir ao meio. Assim, ele nos condenou à procurar pelo resto da vida nossa outra metade e viver com uma saudade desconcertante".

— O que isso tem a ver? — Crowley arremessa outra pedra na água.

"A saudade nada mais é do que a sensação de que algo nos falta, algo que antes era nosso", Aziraphale responde.

Crowley agora prestava atenção no que ele contava e no modo como contava.

"Esse mito tenta explicar o verdadeiro significado de um sentimento tão profundo. Encontrar essa outra parte original de você mesmo...Isso é amor", quando termina de contar, Aziraphale se vira em direção ao lago e os dois ficam em silêncio por um tempo.

Crowley o encarava, como se quisesse lhe contar algo importante mas não conseguisse.

O loiro olha no relógio e levanta rapidamente.

"Preciso ir, o vôo vai sair logo", ele pega seus sapatos e se vira de costas para o outro enquanto calça-os.

Crowley, sabendo que não seria ouvido e a única pessoa a qual saberia de seu segredo era ele mesmo, disse em uma voz suave:

— Aziraphale, provavelmente nunca vou criar coragem para te dizer isso, mas eu sou perdidamente apaixonado por você desde o momento em que te vi...

O loiro se vira rapidamente, e por um segundo, Crowley achou que ele havia entendido tudo.

Aziraphale se aproxima com um sorriso no rosto.

"Te vejo no final do verão?" ele pergunta.

Crowley balança a cabeça em afirmação.

Aziraphale acena com a mão e segue para a estrada até desaparecer da vista de Crowley, que continua sentado no lago por um tempo, até finalmente voltar para casa.

One shots - Ineffable HusbandsOnde histórias criam vida. Descubra agora