The Beast (Tradução PT)

9. Anjo caído

A noite veio, engolindo toda a foresta em escuridão. O uivar de lobos conseguia ser ouvido. Pássaros a fugir quando os predadores passavam, como se eles estivessem a ser perseguidos pelo Diabo. Mas, eles não tinham de se preocupar com o Diabo. Não... Eu era aquela que se tinha de preocupar com o diabo. Eu era aquela que tinha de o ver todos os dias, servi-lo, falar com ele, obedecer-lhe. Eu era aquela que iria ser dele para sempre. Eu era o pequeno pássaro enjaulado na jaula do Monstro.

Eu fui para o meu quarto depois de lavar a loiça. Eu não vi o Sr. Styles mais após sair da sala de jantar. Eu acho que ele estava a caçar agora, a matar uma criatura inocente, a sugar-lhe a vida. O homem tinha de tomar conta de si, não?

Eu desprezava-o e odiava-o. Eu queria-o morto, eu queria o monstro morto. Eu nunca iria ver a minha cidade e a minha mãe novamente. Ele destruíu a minha vida e ele sabia-o e adorava-o. Ele adorava torturar-me, abusar de mim, ver-me caída no chão. Ele adorava o facto de que eu estava presa entre as paredes do seu castelo, ele adorava a ideia de que eu pertencia-lhe e que eu nunca iria escapar. Ele simplesmente adorava-o...

Estava escuro quando eu entrei no meu quarto, então eu imediatamente acendi a vela que estava na minha mesa-de-cabeceira. Eu estava extremamente cansada, tal como tinha estado o dia todo. Com sorte, eu iria dormir um pouco. Tirei as minhas roupas e senti imediatamente o ar gelado colidir com o meu corpo, causando arrepios na minha pele. Decidi não dormir apenas de roupa interior, por isso fui até ao guarda-roupa na esperança de encontrar algo confortável.

Quando o abri dei novamente de caras com os lindos vestidos. As roupas que o Mestre me deu estavam lá também. Quando as vi, relembrei-me do buraco que continha os corpos mortos, que estavam agora a apodrecer. Era uma forma cruel de morrer. Ninguém merecia algo como aquilo.

Comecei a procurar no guarda-roupa e vi algo branco no fundo, aproximei me mais e tirei o do guarda-roupa.

Era uma linda camisa de dormir branca. Parecia perfeita para dormir por isso experimentei-a. Passei a pela minha cabeça e deixei-a cair sobre o meu corpo frágil. Quando já a tinha vestida, olhei-me ao espelho.

E ali estava eu, usando uma linda, longa e branca camisa de dormir de cetim. Tinha longas mangas e uma pequena fita ao redor do meu corpo, logo abaixo dos meus seios, formando um laço atrás. A camisa de dormir era absolutamente linda. Eu não me reconhecia. Parecia tão mágica e pela primeira vez, eu não sei, eu acho que estava... bonita.

Que desperdício deixar esta linda camisa escondida num guarda-roupa onde ninguém a veria. A camisa deu-me tanto calor e era tão confortável, desejava puder usá-la para sempre, embora fosse apenas uma camisa de dormir.

Caminhei lentamente até à minha cama e deitei-me, puxando os cobertores para cima. A cama era tão macia e confortável, dando-me paz e descanço. Não percebi isso ontem, calculo que estava demasiado chocada.

Decidi limpar a mente e domir um pouco, olhei para o meu relógio e vi que já eram 23:47. Apaguei a vela e enrolei-me nos cobertores. Sentia-me tão confortável...tão em paz. Não me sentia assim há dias, semanas talvez.

Comecei a pensar na minha casa, será que a minha mãe iria sentir a minha fallta? Provavelmente não. Provavelmente, ela estava deitada no nosso sofá outra vez... bêbeda. Não tenho que me preocupar com amigos, isso era um bónus. No entanto...  Havia uma questão que me preocupava...

Conseguiria a minha mãe sobreviver sem mim? Quer dizer, ela não precisava de mim para se divertir ou para ser amada, não... Quer dizer, quem vai tomar conta dela enquanto eu não estiver lá? Quem vai pagar as contas? Quem vai limpar a casa? Como é que ela vai comer se ela não tem dinheiro?

Preocupei-me com isto durante quase uma hora antes de conseguir dormir e ficar em paz... Pelo menos por agora.

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