um novo lar

retorno de Lipe

No dia seguinte Lipe chegou de viagem, Marcus tinha me colocado no "meu" quarto novamente e passara o dia anterior todo me fazendo uma enorme pressão psicológica pra eu não contar nada para seu irmão. Confesso que fiquei um pouco aliviada quando ouvi o barulho do carro de Lipe chegando, não que ele seja uma pessoa boa, mas em certa medida significava que eu não iria apanhar mais, pelo menos não com tanta frequência, e que Marcus voltaria a respeitar meu corpo. Eu não seria louca de contar pro Lipe tudo que aconteceu, pois tenho certeza que seria uma péssima opção pra mim, Marcus não costuma mentir, sei que ele é capaz de fazer qualquer coisa em um momento de raiva e não quero isso, só preciso de um pouco de tempo e paz pra me recuperar.
Lipe chegou e a primeira coisa que fez foi abrir a porta do meu quarto, eu tentei me conter, mas abri um leve sorriso quando o vi, ele imediatamente foi até mim e perguntou indignado sobre o que tinha acontecido com meu corpo e meu rosto, eu abaixei a cabeça tentando fazer com que parecesse que não tinha nada de errado comigo, na realidade eu nem sabia como eu realmente estava pois não tinha me olhado no espelho nos últimos dias, então esqueci de esconder meu rosto do Lipe, mas acho que isso também nem seria possível.
Fiquei com vergonha de estar naquele estado, de não ter conseguido me proteger sozinha e de não ter conseguido ser forte o bastante pra evitar tudo o que ocorreu nos dias que ele viajou, eu não contaria pro Lipe não somente pq seu irmão tinha me proibido, mas também pq eu não preciso que ninguém me proteja e tenha pena de mim, no fim das contas seria uma proteção com um preço alto, pq eu continuaria tendo que obedecer o Lipe e ficar grata por estar só nas mãos de uma pessoa e não de duas.
Mas Lipe insistiu na pergunta.
- O que meu irmão fez contigo? Sabia que ele não ia se controlar, olha só seu estado, você também né, pq não se defendeu? Ele vai se ver comigo, ele tocou em você?
- Não, foi culpa minha, ele não fez nada!
Eu fiquei desesperada, que raiva de mim mesma, eu nunca menti tão pessimamente assim, ele sequer me escutou, estava na minha cara que eu inventei tudo aquilo na hora. Tentei segurar o braço dele pra ele não sair do quarto e ir brigar com o irmão, mas ele estava furioso e nem me escutou mais.
Eles estavam gritando tão alto que do meu quarto eu conseguia escutar a briga.
- Você tá maluco cara, o que você fez com a garota?
- Eu não fiz nada! Ela disse o que pra você? Ela tá querendo te manipular, essa puta mentirosa, e mesmo se tivesse feito, ela não vale nada, pq vc se importa? Qual a diferença?
- Ela é minha e não sua! Você pode se divertir com ela, mas só eu tenho o direito de castigar ela, você pega muito pesado! Ou já esqueceu das vezes que tive que frear você? É só eu ficar uns dias fora que você acaba com a menina assim?
-Desde quando ela é sua? Não foi esse o combinado, e quer saber, pouco me importa se ela está bem ou não, ela é minha e eu faço o que eu quiser com ela, fiz foi pouco. E além do mais quem se diverte fazendo medo nela não sou eu.
Lipe voltou no meu quarto nervoso, porém falando em um tom de voz baixo e pediu pra eu dizer o que tinha acontecido, como os dois já tinham brigado eu resolvi contar. Ele me perguntou detalhes e eu fui descrevendo o que tinha acontecido naqueles dias, ele manteve um semblante controlado e depois que eu terminei de falar tudo saiu e deixou a porta aberta.
Ele foi direto em direção ao Marcus e deu um soco na cara dele, os dois começaram a se agredir, mas Lipe saiu na vantagem pois tinha começado a briga.
Mais tarde Marcus veio trazer minha comida, com o rosto machucado, assim como o meu, ele me olhou com ódio, mas não fez nada além de cuspir no meu prato, senti nele um rancor guardado, que uma hora ou outra seria descontado no elo mais fraco da casa, que na situação atual era eu. Disse pra ele que não tinha dito nada, mas ele não acreditou, era melhor eu ter ficado calada do que dito algo tão obviamente mentiroso.