CAPÍTULO 1

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— Você não vai escapar Safira! — Escuto sua voz ao longe, mas minhas pernas continuam correndo sem cessar.

"Ele não pode me pegar..." Penso comigo mesma.

Meus pulmões ameaçam parar e por um segundo sinto que vou desmaiar, mas não posso parar agora. Para me salvar pulei do carro assim que o semáforo se fechou, se não tivesse feito isso, talvez não estaria consciente nesse momento.

Ofegante alerto o motorista do ônibus com batidas incessantes na porta que se abre deixando-me entrar, ele encara meu rosto machucado, mas permanece em silêncio. Abaixo a cabeça para esconder minha face, porém recebo olhares de todos os passageiros.

Desta vez consegui fugir de mais uma surra, espero que quando retornar ele esteja mais calmo. Deveria tê-lo avisado que ficaria até mais tarde na casa de Victor, mas meu celular descarregou impossibilitado de falar com ele.

Passo pela catraca com o coração acelerado e me recomponho para não chamar atenção.

Apanho o aparelho celular e disco o número do meu amigo, mas com as mãos trêmulas desisto no mesmo instante. Encaro meus dedos cortados e não consigo evitar a agonia causada por esse sofrimento e me pergunto repetidas vezes, por que sempre volto para aquele homem?

Me sento no último banco e coloco as duas mãos sobre a cabeça pensando em alguma forma de apagar os vestígios do passado; suspiro, na esperança de convencer a minha mente que agora estou em segurança, debruço sobre a janela e observo tudo ao meu redor, um pouco mais calma.

O vento assopra as folhas verdes das árvores, espalhando-as pelo chão. O cheiro da chuva é inerente, criando um clima agradável, noto diversas pessoas correrem a procura de proteção da chuva que se aproxima.

Ergo a cabeça e encaro o céu negro formado pelas nuvens e um arrepio percorre minha espinha ao sentir as primeiras gotículas de água adentrar pela janelinha do ônibus. Fecho meus olhos cansados e lanço um longo suspiro, imaginando as gotas atingirem meu rosto, posso sentir o frescor.

O momento nostálgico, desperta coisas que estavam enterradas em minhas lembranças. Coloco minha mão sobre o rosto, como um reflexo ao sentir mais uma vez o ardume percorrer pela pele. Lágrimas se formam em meus olhos, mas enxugo-as com a palma da mão. Luto para que elas se mantenham no lugar, a dor no peito é grande ao saber que quando cruzar a porta do meu apartamento tudo voltará a acontecer.

Desde o momento que disse o grande sonhado "sim" minha vida mudou por completo, criei uma barreira dentro da minha mente para não desapontar quem eu mais amo nessa vida, mas o que fazer quando alguém que você se importa tanto, lhe machuca além da sua carne?

Penso no que eu possa ter feito de errado para receber tantos maus tratos, e mais uma vez me questiono o motivo que me liga a este homem. Infelizmente sei da resposta, ainda amo o Leonardo, mesmo depois de tudo o que ele me fez. Às vezes me pergunto se a culpada disso tudo sou eu.

Enterro minhas angústias no profundo do meu coração, sei que amo meu marido e faria tudo por ele, mas as vezes penso até quando conseguirei suportar o seu comportamento instável.

Ouço de muitas pessoas que estou em um relacionamento abusivo, mas sinceramente, não consigo admitir isso. Mentalizo todos os dias que isso é uma fase, mas as vezes é difícil manter o controle o tempo todo, quando menos espero me pego chorando baixinho no banheiro, antes de voltar para a cama e tentar dormir, forçando minha cabeça a esquecer os problemas por meio o sono.

Perdida em seu toque ( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora