Capítulo 7

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Horas mais tarde, acordei com uma alegria completa aquecendo-me a alma. Quando tentei se espreguiçar na cama, me vi presa num abraço aperta

Voltei a cabeça para Noah, um sorriso terno aflorando-lhe nos lábios diante do sono tranquilo do homem com quem passara a noite. Nós dois tínhamos feito amor com uma intensidade que eu nunca julgaria possível. Na verdade, só então descobriria em si mesma a mulher ardente e sensual, capaz de retribuir da mesma forma todo o prazer que recebia. Por isso, me sentia tão revitalizada naquela manhã.

Com muito cuidado, me levantei da cama.

–– Aonde você vai? –– Noah resmungou, a voz pastosa de sono.

–– Ao banheiro.

–– Hum.

Ele enterrou o rosto no travesseiro, pegando no sono imediatamente. Minutos mais tarde, quando saiu do banheiro, encontrou na mesma posição. Sorrindo, procurei um roupão e me vestir, agasalhando-se do vento frio da manhã. Em seguida, descei para preparar o café, contente por ter algum tempo de solidão.

Precisava pensar sobre a reviravolta que havia ocorrido em minha vida. Ainda estava atônita com as mudanças operadas dentro de mim nas ultimas vinte e quatro horas.

E o mais espantoso de tudo era que em nenhum instante nem pensara em voltar atrás. Aquelas poucas horas na

casa de Noah haviam representado para mim, uma pausa propicia para a reflexão.

Enquanto aguardava o alarme da cafeteira, detivesse junto a janela. La fora, as árvores eram açoitadas por um vento forte, cujo assobio acompanhava a queda ritmada de uma chuva mansa.

Um dia perfeito para ficar na cama, pensou com um sorriso cheio de malicia. Já fiz isso tantas vezes e, no entanto, o mesmo programa assumia agora outro significado. E sonhando com os afagos ardentes de Noah, encheu duas xícaras de café e retornou ao quarto.

Logo ao entrar, concluiu que estava certa em suas expectativas. Noah, já acordado, sorriu de uma maneira tão calorosa que lhe provocou um arrepio de satisfação.

–– Senti sua falta, mocinha. –– Ele disse, com um dedo indicador à guisa de boas-vindas.

–– Fui fazer café.

Coloquei a bandeja sobre a mesinha de cabeceira e, em seguida, me deitei ao seu lado.

–– O cheiro está delicioso –– Noah estendeu-se na cama e me envolveu num abraço carinhoso.

–– Pelo jeito vai nevar bastante hoje.

–– Merda! –– Noah praguejou sem ênfase, arranhando de leve o meu ombro com os dentes.

–– Isso vai te atrapalhar em alguma coisa?

–– Não, a não ser que não vou poder fazer nada do que pretendia. Inclinou-se, mordendo os meus lábios suavemente. –– Terei de encontrar outra distração.

–– Podemos jogar sinuca. –– Sugeri.

–– É uma boa ideia...

–– Posso lhe perguntar uma coisa? –– Quis saber, nos olhos, um brilho de curiosidade.

–– Quantas você quiser.

–– Qual foi o verdadeiro motivo de você ter me trazido para cá?

Houve um momento de silêncio antes de Noah responder:

–– Você acha que eu já estava com intenção de te levar para cama quando a convidei para se hospedar em minha casa, não é isso?

Refleti um pouco. Poderia usar um subterfugio doce e conveniente, entretanto não se constrói um relacionamento sólido com mentiras agradáveis. Por isso, decidi pela honestidade.

–– Já pensei nisso várias vezes, não posso negar.

–– Eu queria te proteger de verdade Marina, e não encontrei local mais seguro para isso em minha casa.

Mas não posso negar que morria de vontade de fazer amor com você.

–– Mas você não acha tudo isso uma grande precipitação de nossa parte?

–– Do seu ponto de vista, deve ser, mesmo.

–– Eu sei que fui eu mesma quem começou toda essa história. –– admiti, como se lesse os pensamentos de Noah. –– Mas estou muito confusa e nem posso colocar a culpa na pancada que recebi na cabeça.

–– Espero que virar de cabeça para baixo tenha um significado positivo para você... de qualquer forma, fez a pergunta a pessoa errada, mocinha. Nunca senti uma atração tão grande por outra mulher e também não sei explicar como isso aconteceu. Se eu acreditasse em magia, juraria que você me enfeitiçou. Esses teus olhos azuis e essa cabeleira para todo o transito masculino de Seattle, inclusive o meu.

–– Eu sinto o mesmo em relação a você, Noah. Sempre me considerei uma pessoa prática, racional, realista. Além disso, nunca fui para cama com outro homem... e, no entanto, aqui estou!

–– Arrependida?

Sacudi a cabeça, numa negativa.

–– Acho que devemos tentar. –– Retruquei, afastando-se quando Noah tentou me beijar. –– E, para começar, nada de ficarmos aos beijos, não é?

–– Tem toda razão... por que não comemos alguma coisa e, depois, jogamos sinuca?

–– Ótima ideia, estou mesmo faminta! Quanto a sinuca, não espere muito de mim.

Como num jogo sensual, estava retrocedida a cada avanço de Noah, retardando o que ambos sabiam inevitável. Só parou ao sentir contra as costas nuas a aspereza do pano da mesa de sinuca.

Loucura, desvario, insensatez. Seu relacionamento com Noah bem merecia todos esses objetivos. A Marina metódica e avessa a mudanças súbitas encontraria muitos outros qualificativos para designar o turbilhão no qual envolveria nas ultimas vinte quatro horas. Mas era outra mulher quem enlaçava a nuca de Noah com as mãos.

Ofegante, Noah sentiu a minha língua introduzindo-se dentro de sua boca, os dedos carinhosos e febris deslizando sobre os ombros.

–– Te quero tanto... –– Gemi, o corpo inteiro exigindo o prazer que apenas Noah me proporcionava.

Ele me penetrou devagar, conduzindo-me com malicia pelo caminho de delicias que ambos aprendiam a conhecer. Inebriada, eu murmurava o seu nome num lamento ritmado, movendo-se em perfeita harmonia com o corpo dele até atingirem junto o clímax.

Por longo tempo, ficamos abraçados e quietos, ainda prisioneiros de uma comunhão na qual não necessitavam de palavras. De repente, Noah abriu os olhos e me fitou docemente.

–– Nada mal para um relacionamento platônico, não concorda?

–– Se não jogarmos sinuca, conseguiremos manter nosso acordo.

Noah ergueu uma sobrancelha irônico.

–– Você acha, mesmo? –– E, como ignorasse a pergunta, prossegui, após um instante: –– Só me pergunto o que estamos tentando provar com essa loucura.

–– Tive uma ideia excelente. –– Noah anunciou.

Segurei a cabeça entre as mãos, soltando um suspiro profundo.

–– Não conte comigo. Suas ideias sempre terminam na cama.

–– Essa eu garanto que não. Que tal assistirmos um filme para relaxarmos um pouco?

Noah riu da minha expressão desconfiada, levantou-se e me puxou pela mão.

––Venha. Prometo que será divertido. –– De mãos dadas, Noah me conduziu escada a cima. ––Não precisa ficar com medo querida. Não vou me vingar da maldade que você fez comigo durante o jogo.

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