EU DEFINITIVAMENTE NÃO DESEJEI VOCÊ

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Quando se tem uma vida completa e inteiramente perfeita, pouco nos questionamos sobre seus detalhes, mesmo que estes detalhes possam alterar qualquer parte que seja desta mesma vida.

Não importam os pequenos tropeços, desde que todo o restante se mantenha intacto.

O importante era ter aqueles que amava por perto, assim como ter a possibilidade de fazer o que quisesse de ir onde quisesse. Tudo era uma questão de ter possibilidades e de usar sua liberdade a seu favor.

Seus pais já estavam divorciados a alguns bons anos, mas Tae não se importava com isso também, afinal, era apenas um detalhe. Desde que sempre teve a mãe ao seu lado junto de todas as outras coisas importantes, detalhes assim não o incomodavam realmente.

Era feliz: tinha seus bons amigos e um cachorro fofo, gostava de praticar esportes, de música, de videogames e até mesmo de ir para o colégio. Era um dos poucos que adorava aquele lugar abarrotado de adolescentes afobados. Sempre aprontava, mas nada que fosse realmente grave ou perturbador, então nunca era realmente criticado por suas ações.

Também havia a velha questão de ser filho único, o garoto mimado da casa, sabe? Tudo era completamente perfeito e ele com certeza não tinha do que reclamar, mesmo se parasse para pensar em algo, jamais encontraria um motivo.

Isso foi o que Tae achou, mas...

...tudo pareceu mudar quando ele finalmente surgiu em sua vida, aquele intruso abestalhado.

Sua mãe havia arrumado um novo namorado após anos de término com o seu pai e eles pareciam se dar bem. Até então nada demais, nunca questionaria a mais velha por ter um novo relacionamento. Ela era jovem e bonita, pretendentes não lhe faltavam, porém, o que realmente lhe incomodava era o fato de ele ter um filho também.

Não desejava um irmão, ainda mais um que fosse mais novo. Um pirralho só atrapalharia sua vida perfeita e acabaria por destruir todos os seus planos.

Sua vida tão perfeita estava por um fio e Tae sabia disso.

— Tae, querido! — Podia ouvir a voz alta de sua mãe ecoar pelos corredores da casa.

Se mantinha deitado junto à cama, de forma errada por assim dizer, já que estava atravessado nela tendo a cabeça pendida para baixo. Dessa forma seus fios ficam soltos, desengonçados. Se sua mãe o visse, diria que o sangue iria subir a cabeça ou uma veia lhe estouraria na testa.

O pirulito em sua boca tinha um sabor doce que gostava: melão. Tirou-o da boca enquanto analisava a forma arredondada e esverdeada que o mesmo tinha, antes mesmo de responder, estava super concentrado.

— Estou aqui em cima! — Soltou alto o suficiente para que ela pudesse ouvi-lo, mas ainda assim, não se moveu do seu ninho de conforto. Ainda mantinha os pés cruzados ao se balançarem sobre o lençol desalinhado.

— Desça aqui querido, eu quero lhe apresentar alguém. — A voz continuava firme, mas continha um finzinho de doçura, parecia feliz na realidade, provavelmente ela o estava preparando.

Revirou os olhos diante da preguiça que o dominava, esta que era tanta que o impedia de sair da cama um milímetro que fosse.

Olhou mais uma vez o pirulito antes de levá-lo de volta à boca. Com um suspirar pesado se endireitou sobre a cama para então se levantar. Balançou a cabeça tentando organizar os fios, possivelmente desarrumados e eles aos poucos foram caindo em seu devido lugar.

Desceu as escadas sem a mínima vontade, encontrando finalmente o rosto brilhante de sua mãe, que sorria tranquilamente para si. Arqueou uma das sobrancelhas como se a questionasse ainda em silêncio. Tudo lhe parecia suspeito.

In-desejávelOnde histórias criam vida. Descubra agora