Bônus

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- Oi Filho... - Diz com os olhos brilhando.

- Oi pai...

O motorista fecha a porta atrás de mim e logo vai para o seu lugar.

- Qual o destino senhor Heitor? - Pergunta.

- Vamos para o Central Park, tenho boas memórias de lá - Sorri para mim minimamente.

Ficamos em silêncio até chegarmos no Central Park. O clima desconfortável entre nós era quase palpável.

- Me desculpa chegar assim de repente e te trazer comigo sem mais nem menos, mas depois do nosso encontro no hotel em Chicago não pude mais ignorar a saudade que sentia do meu Christian - Desabafa sentando-se em um dos bancos no parque.

- Está me seguindo desde Chicago? Eu pensei ter deixado claro aquele dia que não queria te ver - Respondo sem o encarar. Ele solta o ar pesadamente.

- Naquela manhã quando ligaram para o meu quarto perguntando se eu havia reservado um quarto  para um tal de "Christian Jackson" em meu nome, eu não soube como reagir. Eu precisava te ver depois de tanto tempo. Saber como você está e...e me desculpar por tudo - A ultima frase saiu mais baixa e eu o encaro desacreditado.

No dia que a recepcionista disse que só estava encontrando um quarto reservado em nome de Heitor Jackson eu paralisei na hora. Aquele nome era proibido em nossa casa e ouvir assim sem mais nem menos, depois de tantos anos, me chocou.

- Tudo bem? - Perguntou a Rebecca quando eu não reagi.

- Tudo sim - Sorriu fraco tentando disfarçar o meu pânico naquele momento.

Para piorar parecia que meu pai também ficou sabendo que eu estava no mesmo hotel que ele. Na manhã seguinte junto com o café da manhã que eu pedi, recebi um bilhete em uma das travessas me indicando hora e local de encontro. Assinado por H.J. Deixei a Rebecca dormindo no quarto e fui apreensivo ao restaurante do hotel, onde meu pai me esperava lendo um jornal.

Quando ele me viu, abaixou o jornal imediatamente e me encarou de cima a baixo surpreso.

- É você mesmo campeão..? - Disse com a voz embargada.

Me sentei sem dizer nada, apenas coloquei o bilhete que havia me enviado em cima da mesa.

- Christian...meu filho como você está grande - Ele tentou segurar minha mão por cima da mesa, mas eu tirei ela no momento certo.

- O que você quer Heitor? - Pergunto frio.

- Eu não sabia se você estava sozinho ou se sua mãe estava junto, por isso tentei ser discreto. Carmen está...

- Ela está em Nova York - Respondo direto e vejo ele relaxar na cadeira.

- Quando soube que você estava aqui eu precisava te ver. Se passou tanto tempo desde que eu te vi campeão - Quando ele diz isso eu riu desacreditado.

- Desde que você nos jogou pra fora da nossa própria casa para ficar com sua secretária você quer dizer? Quando eu tinha 5 anos apenas? Acho que me lembro vagamente daquele dia.

Ele solta o ar pesadamente e massageia a têmpora.

- Christian eu queria te ver justamente por conta disso, eu cometi vários erros no passado.

- Vários erros no passado?? Você trocou minha mãe por uma secretária que ela mesma contratou! Nos expulsou de casa e sumiu do mapa! Sabe o que passamos desde então?? O sufoco que era para uma criança de 5 anos ver sua mãe chorar toda noite e parar de viver, sem saber como ajudar?? Dormir sem saber se ia ter o que comer na manhã seguinte?? Não, não sabe. Você foi egoísta e pensou só em você em vez de pensar na sua família. Veio aqui para me explicar o que eu já sei? O grande covarde que você é? - Me levantei exaltado - Não perca seu tempo. 

- Christian espera! - Ele grita mas eu continuo andando. Meu ódio era tanto que meu ouvido zumbia e o som era distante.

- Já estou cansado das suas desculpas. Por que agora? Por que me procurar depois de tantos anos? Não vê como isso é desgastante? - Admiti cansado.

- Filho, chega um momento na vida da pessoa que você olha para trás, para sua vida e escolhas tomadas, e pensa: Fiz a escolha certa? - Diz - Infelizmente eu só vim perceber o que eu havia feito depois de anos, sentado na cadeira do meu escritório, observando minha vida passar diante dos meus olhos até chegar aqui. Sou bem sucedido Christian, sou dono de uma das maiores empresas imobiliárias do estado de Nova York. Tinha uma esposa bonita e amigos ao meu lado. E mesmo assim o melhor momento da minha vida foi quando estava com vocês.

Fiquei em silencio encarando as pessoas passando no parque. Não sabia o que responder, não sabia o que pensar no momento.

- Foi com a Karina que se casou novamente? - Foi a única coisa que saiu da minha boca. Vi meu pai se mexer desconfortável no banco.

- Sim, foi com a Karina que eu me casei - Sua resposta por mais que já esperada, me deu um aperto no peito - Durou um ano.

- Um ano?

- É difícil ser casado com uma mulher que te enxerga como um cartão de crédito e nada mais que isso. Brigavamos constantemente, quando ela pediu divorcio levou metade dos meus bens - Ele suspira se lembrando e eu não evito de sorrir - É eu fui besta. Logo depois ela apareceu namorando meu melhor amigo. Fiquei mal e comecei a reparar nas pessoas ao meu redor. Era patético e triste! Se eu falasse que gostava de verde apareciam dez funcionários de verde no outro dia, se eu mencionasse que não gostava de um filme imediatamente todos meus "amigos" começavam a criticar o mesmo. Minha vida foi cercada por puxa sacos interesseiros Christian. Eu levo uma vida vazia.

Ele se vira para mim e eu finalmente olho nos olhos dele. Pareciam cansados.

- A única parte da minha vida que eu não me arrependo é de você e da Carmen, é meu pecado e fardo diário que eu carrego por ter deixado as únicas pessoas que me faziam bem. Eu era jovem e cego pelo dinheiro, queria manter o legado do meu pai. Era tudo mais fácil quando Carmen e eu eramos apenas namorados, ela era incrível. Via o lado bom das pessoas mais amargas, era isso que me fez apaixonar por ela. Eu sou filho único como bem sabe, e seu avô morreu quando eu tinha 20 anos. Tudo aconteceu tão de repente...Tive que assumir a empresa, assumir sua mãe, me casar sem estar preparado, liderar funcionários sabendo que uma mulher carregava um filho meu no ventre - A voz dele começou a ficar embargada.

Eu respirei fundo começando a tremer. Ouvir ele dizer isso depois de anos...

- Isso não justifica o que você fez...Você traiu ela, traiu a gente! Como pode falar isso agora? 

- Você está certo. Não tem por que eu ficar perdendo meu tempo lamentando das minhas ações erradas no passado. Mas eu não posso desistir de concertar minha relação com meu único filho, que tive com a mulher que realmente amei - Ele não aguenta mais e lágrimas começam a descer pelo seu rosto - Eu foquei tanto no meu trabalho como empresário que esqueci do meu trabalho como pai e marido, mas continuei cobrando da sua mãe o trabalho dela como esposa. Sendo que ela dava o máximo para equilibrar atenção para o filho pequeno, para cuidar dela, e ainda tinha tempo de vir me ver todo dia no escritório para perguntar como foi meu dia e se precisava de algo.

- Pai para... - Disse segurando as lágrimas. Odeio esse assunto. Odeio essa época, e tudo piora vendo ele desse jeito vulnerável.

- Eu fui estúpido e egoísta o suficiente para querer mais, comparar a atenção que ela tinha com você com a que tinha comigo. Me desculpa filho....me desculpa por não ser um bom pai para você campeão.

A essa altura nós dois estamos chorando. Ele abre os braços timidamente, incerto do que fazia.

- Sei que não posso pedir seu perdão imediato. Mas gostaria de tentar conquistar ele e...

Antes que ele terminasse eu abraço ele, que fica tão surpreso que demora para corresponder. Mas quando corresponde me aperta em seus braços.

- Te amo filho...

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Vocês não fazem ideia de quantas vezes escrevi esse capítulo extra para ficar bom. Espero que tenham gostado. Vamos de baile?

Sentiu minha falta @ ?Onde histórias criam vida. Descubra agora