Capítulo 068 🦋

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KATRINA 💎

Ficamos conversando sobre coisas aleatórias durante todo caminho, adorava isso no Pedro, a forma como ele me tratava...

Era a coisa mais próxima do que eu poderia chamar de amigo.

Ele não me julgava ou perguntava sobre coisas indiscretas, apenas falávamos sobre o tempo, sobre política ou até mesmo da nossa cor favorita...

Menos da minha “profissão”, e isso de certa forma, me confortava, era como se naquele momento, eu fosse uma garota que pediu carona pra um amigo.

Assim que desci do carro, agradeci o Pedro balançando a cabeça e o molhando com a água dos meus cabelos, ele me xingou de todos os nomes possíveis, mas acabou rindo no final.

Assim que entrei em casa, o breu tomou conta da minha visão, nenhuma luz acessa, Pedro entrou logo atrás e foi acendendo tudo.

— Estou com fome — Falei passando a mão na barriga —.

— Agora que você fala? Poderíamos ter passado em algum lugar e ter comprado algo... Mas sério, falando nisso, agora bateu uma fome também...

Sorri e olhei a hora no relógio redondo que ficava no corredor, marcava 3:45 da madrugada, nenhuma pizzaria estaria aberta essa hora.

Pedro garantiu que conhecia uma lanchonete que fazia lanches ótimos, e essa hora deveriam estar funcionando, não o questionei.

Sentei no sofá e tirei o salto, passando as mãos pelos meus pés doloridos.

Que noite...

Eu estava com sono, mas a fome falava mais alto, então iria esperar pelo Pedro.

Ouvi algo cair no chão, levantei e ouvi que o barulho veio do quarto onde Kenedy dormia, ele deveria estar acordado...

Uma ótima oportunidade para conversar com ele.

Bati na porta algumas vezes, ouvi uma conversa e segundos depois, Kenedy abriu uma fresta, encarando-me por ela.

— O que é? — Ele falou grosseiramente —.

— Posso falar com você? — Ele ficou em silêncio. Suspirei — Preciso te pedir um favor, Kenedy... — Ao ver sua cara nada amigável, continuei — É importante... Por favor! — Ele não disse nada outra vez, apenas me encarava, como se estivesse pensando em algo. Vi uma movimentação no quarto, e olhei através de seu ombro, vi que Morgana estava na cama, enrolada no lençol... Que momento memorável pra se humilhar perante ao tirano vulgo Kenedy e de quebra, assistir tal terror em 3D — Kenedy? — Falei e pra minha surpresa, ele fechou a porta na minha cara, encarei a mesma ainda sem entender... — O que? — Murmurei sem entender. Dando-me por vencida, virei as costas e quando estava saindo completamente arrasada, ouvi a maçaneta da porta virar, fiz o mesmo dando de cara com o Kenedy, ele estava ajeitando a calça que havia acabado de vestir... — Sério isso? — Perguntei frustrada — Já estreou a cama com a Morgana? — Fiz uma careta — Vestiu a cueca pelo menos?

Ele balançou a cabeça rindo, mas logo sua postura dura tomou conta.

— O que você queria pedir? — Ele falou, fingindo não estar interessado —.

— Que você me livre do Matheus... — Pra minha surpresa, Kenedy sorriu, sorriu como se eu tivesse lhe entregado um grande prêmio — Sério?

Ele ainda sorria.

— Sim... — Passei a mão no rosto, talvez de cansaço ou até mesmo em sinal de impaciência, nem eu mesma sabia —.

— Por que disso agora? — Ele perguntou desconfiado —.

— Sei lá... — Dei os ombros — Já não vejo graça nele quanto antes, se tornou meio que exaustivo — Falei tentando soar indiferente —.

Mas Kenedy não era burro, desse jogo ele era um velho jogador, e não seria eu, uma mera iniciante que iria enganá-lo.

— O que aconteceu, Katrina?

Olhei pra baixo e fechei os olhos, lembrando de tudo o que “aconteceu” até agora, tentando achar uma resposta para eu estar pedindo aquilo, meu cérebro me alertava, pra que eu tomasse cuidado, ficasse distante do Matheus...

E já meu coração...

Ah, meu coração!

Pedia, esperneava, gritava, para que eu ficasse o mais perto possível do Matheus.

E bem, eu tentei fazer o que o meu coração pediu, e só levei bomba em troca, e se eu continuasse insistindo nisso, me machucaria ainda mais, e isso eu já não poderia suportar, minha vida sempre foi uma grande tristeza, cercada de melancolia e injustiça, eu não ficaria submissa a ele, que ele se dane!

Em primeiro lugar eu me escolheria.

— Responde, Katrina! — Kenedy me balançou, arrancando-me dos meu devaneio —.

— Nada... Eu só não quero que ele ache que manda em mim, que é meu dono... Pois a única dona de mim, sou eu mesma! — Falei — E eu não estou mais suportando conviver com ele.

Kenedy escutou-me com atenção enquanto me olhava de forma bem intensa, talvez procurando um rastro de culpa, mas mantive a minha postura, fria e indiferente.

Por fim ele respirou fundo e passou a mão na nuca.

— Tudo bem... — Ele olhou para os lados — O que eu ganho em troca? — Ele perguntou com um sorriso malicioso —.

Que asqueroso!

Mas novamente, tive que agir como uma sobrevivente, então sorri e me aproximei dele, envolvendo minhas mãos em sua nuca e sorrindo de maneira convidativa, me apoiei em seus ombros e tentei alcançar sua orelha, cochichando algo.

— O que você quiser — Sussurrei e afastei-me um pouco, ganhando seu olhar fixo em mim —.

— O que eu quiser? — Ele repetiu e eu assenti — Pois bem... Farei o que você está me pedindo, juntarei o útil ao agradável e irei me livrar do Henric e de quebra desse cara.

Meu sorriso se desfez rapidamente.

— Se livrar? Como assim? — Perguntei desesperada —.

Kenedy sorriu e voltou a me puxar pra perto dele, segurando meu queixo e aproximando sua face da minha. 

— Se livrando... — Ele sorriu ironicamente — Te prometo que em no máximo um mês, tanto os seus problemas quanto os meus estarão resolvidos, Katrina — Ele acariciou meu rosto, eu não conseguia nem piscar de tão alarmada que eu havia ficado — E então, irei cobrar o que você acabou de me prometer — Ele deu-me um beijo rápido, no qual nem tive o tempo nem vontade de corresponder — Boa noite — Ele disse e enfim me soltou, atravessando o corredor e voltando ao quarto, deixando-me sozinha e cheia de dúvidas... —.

“Se livrar”, “desse cara”, “farei o que está me pedindo”.

Eu não quero isso!

Não quero o mal de ninguém, não há esse ponto, talvez do Pietro...

No entanto, jamais pediria que ele cometesse algum mal ao Matheus.

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