Me Chame De Anjo

Quem tem medo do lobo mau?

Saint Paul, Minnesota

O começo pelo qual me recordo, é eu andando por aquela estrada sem rumo. Árvores secas me cercam, assim como a quietude que paira sobre mim. Tudo em minha volta parece "bem".

Diferente de mim. Me sinto perseguida, observada, mas não sei pelo o que. Ou quem. Apenas sinto uma profunda vontade de correr para longe de quem quer que esteja à espreita. Mas estranhamente, permaneço apenas andando.

Tento acelerar o passo apesar de não saber para onde estou indo. "Está tudo bem" penso comigo mesma "Você vai acordar".

Foi apenas minha mente se calar. As vozes daquele dia, voltam a encher minha mente. "Afaste-se dele". "Não é o que pensa". "Não há para onde fugir. Não deixe..." "Tarde".

A pressão é diferente agora. Sinto uma vontade indescritível de calar essas vozes, fazê-las parar. É como se eu soubesse do que elas falam.

Numa falha tentativa de fugir de mim mesma, dessas vozes, corro em direção às densas árvores altas que cercam ali e "esconde" a pequena estrada. Corro o morro abaixo enquanto galhos arranham meu rosto, mas eu não ligo. 

Paro quando vejo uma mulher a minha frente. Dou passos largos para trás. É ela?...

- Quem é você?... - pergunto. 

Minha voz está carregada de medo. Eu não confio nela. Definitivamente.

Seus cabelos eram negros e ondulados. Ela era esbelta e o rosto um pouco fino.

- Eu? - ela sorri maléfica. - Seu passado… e o pesadelo do seu futuro.

- O que você quer?

-Ela…

Me levanto num impulso, e sinto uma leve tontura. Estou suando frio e ofegante. Posso sentir as gotículas se formar em minha testa.

Essas vozes já estavam me assustando, agora sonhos? Não se trata do meu propósito.

Respiro fundo e solto o ar de uma vez. Meu passado… e o pesadelo do meu futuro.

De que diabos isso se trata? Como me prevenir de uma ameaça iminente, sendo que eu nem sei o que está por vir.

Eu queria fugir disso. Apenas isso. Queria que fosse menos complicado.

Eu preciso resolver todas essas questões. Não posso mais agir como uma garota de dezessete anos, que a única obrigação é ir e voltar da escola.

Minha mãe encosta no batente da porta e me encara. Ela se assusta levemente com o meu estado de choque, mas não diz nada.

- Está atrasada. - ela diz óbvia.

- Não vou para a escola hoje. - falo mais rápido do que penso, enquanto me levanto.

- Já falou com sua mãe sobre isso? - ela pergunta levantando uma sobrancelha.

- É sério. Eu não faria se não fosse preciso. Tive um péssimo pesadelo.

-Sei disso. Você tem eles desde os seus seis anos de idade. - diz minha mãe despreocupada, com certo ar de ironia.

-Mas não apenas, um pesadelo. - falo pausadamente. - Era com uma mulher. Que se designou meu pesadelo… do meu futuro na verdade. E disse que ela é meu passado.

Minha me olha com mais seriedade dessa vez. Assim como eu, essa história de conselhos celestiais não já está agradando mais. Se é, que é assim que isso pode ser chamado.