Uma aliada

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          Saint Paul, Minnesota

Na sua infância, em certas tempestades, você já deve ter sentido medo. Como uma criança como "qualquer outra", eu imaginava monstros debaixo da cama. No guarda-roupa.

Então eu fechava os olhos, contava até três, e corria do quarto, para ir ao da minha mãe. E lá, aninhada nos seus braços, eu me sentia segura. Protegida.

Eu não cogitava, até quando eu teria essa proteção. Eu não fazia ideia até quando eu precisaria. Mas uma coisa eu sabia: uma hora eu teria que enfrentar tudo sozinha. E minha mãe não estaria lá para me proteger. 

Isso, ela que dizia.

Mas... e quando a coisa está na sua escola? Te rondando. Como se estivesse sussurrando: " eu estou aqui...". E você tivesse que proteger - e quer - aqueles que convivem com o seu medo. 

Você está com medo. Mas quer proteger aqueles que você quer bem, do medo. Do seu medo.

Como? Essa é uma boa pergunta.

Recuar ou atacar? Contar ou ocultar?...

O que eu vou fazer? Essa é também  uma boa pergunta.

O despertador toca. Desligo ele no segundo toque. Tenho hoje e amanhã. Passo as mãos no rosto. Um minuto de cada vez.

- Bom dia. - diz animada Amber do outro lado da linha.

Acabei de sair do banho. Visto as peças íntimas, e visto a calça jeans.

- Bom dia Am. - falo rindo do seu entusiasmo. - Estou feliz que sentiu falta de conversar comigo.

- Convencida você, hein? - diz ela irônica.

- Então, como está Londres? - pergunto deixando o celular na escrivaninha, no modo viva-voz.

- Olha, bastante movimentado. Ontem comecei um curso de desenho. É legal lá.

- Parece bom, estou feliz que está gostando.

- Sim, é, papai disse a mesma coisa. E Saint Paul?

- Está a fim de saber algumas coisas sobrenaturais? - pergunto vestindo um cardigã preto. Com uma blusa listrada por baixo.

- Ok... - diz ela receosa. E curiosa ao mesmo tempo. Eu também ficaria.

Resumo os acontecimentos desde domingo, quando ela foi embora. E olha que se passaram quatro dias.

Conversamos por mensagens, desde que ela foi embora. Mas não entrei no meio "sobrenatural".

Tento excluir Christopher da conversa. O máximo possível.

- Uau... olha eu não sou especializada em casos sobrenaturais, mas sou especialista em dramas entre amigas. Fala com Katherine, que você e Stephanie, querem o bem dela, que ela é alguém especial para vocês, e você não quer vê-la magoada. E que isso é algo infantil da parte dela. E ela está ignorando isso.

- Pois é... Agora por isso naquela cabecinha loura, é a parte complicada.

Amber ri.

- Vocês podiam vir para o Thanksgiving Day. - falo passando rímel. - Digo... você e papai

- Sim, seria legal... - diz ela feliz com a ideia. - Tenho que ir, escola, sabe como é?

- Claro, boa escola, Am.

- Para você também Bella.

A chamada é desligada. Pego o celular e guardo na bolsa.

- Amber? - pergunta mamãe batendo na porta.

Me Chame De Anjo Onde histórias criam vida. Descubra agora