APENAS A LUA E EU
AYLA
Somos interrompidos pelo pigarro de minha mãe, que aparece na entrada da cozinha, com o tipo de olhar que diz: Não se iluda, amanhã ele vai partir seu coração. Ela informa que Júlia está aqui junto a um outro garoto. Sua expressão não está nada amável, talvez seja pela cena constrangedora deste momento, muitas pessoas na casa ou pela volta repentina de meu pai. Todos os motivos são compreensíveis.
Me afasto de Isak e vamos junto com minha mãe até a sala, onde está Júlia e o tal garoto, que imagino ser Henrique. Antes de chegarmos, minha mãe vai para o corredor que dá a seu quarto e logo os vemos, Júlia e Henrique
— Emily já está chegando. — Júlia esclarece e, surpreendendo-a, eu a abraço forte.
Ela é incrível, a melhor amiga que alguém poderia ter. Ela e Emily são as melhores e agora sou grata como nunca por isso.
Subimos para meu quarto e confesso que fiquei receosa em deixá-los lá. Henrique e Isak não eram do tipo “melhores amigos” há muito tempo.
Júlia me pergunta o que aconteceu e eu conto tudo, a volta do meu pai, o ultimato ridículo, e até mesmo sobre Isak.
— Eu não sei o que dizer em relação a seu pai, mas estou feliz que você vai ficar mais três meses conosco. Claro que eu gostaria que fossem mais, mas, se não dá, eu entendo e estarei aqui durante esse tempo. — Ela cruza as pernas na cama e aperta minhas mãos nas dela. — Sempre, Ayla.
— Obrigada. Você sabe que sempre pode contar comigo, independente se eu estiver aqui ou do outro lado do mundo — digo, sendo sincera.
E então ela se ajeita na cama, o sorriso desconfortável já é um aviso do próximo assunto. Tudo bem, eu contei, não foi? Vou lidar com isso.
— Agora, sobre Isak, eu realmente estou feliz por vocês, mesmo com um pouco de receio que se machuquem, pois além da embalagem, poucas coisas nele são para serem apreciadas, Ayla. Isak nunca foi o melhor aluno da classe, não te trará rosas em datas especiais ou abri a porta de um carro, porque nem isso ele tem, mas, se ele disser que se importa, é isso que ele faz e é mais intenso do que ele diz. Ele não teve a melhor infância do mundo, nem sequer a pior também, mas isso modificou ele. Porém, nada disso importa se ele sente por você o que você sente por ele. Parece ser algo difícil de encontrar, essa coisa intensa... É especial.
— Aparentemente, sim. E obrigada por ter vindo, me escutado, por tudo! Mas, vamos esquecer de mim e focar em você.
— Você, quem? — Uma Emily muito bem agasalhada invade o quarto e se joga na cama, deitando de bruço ao nosso lado.
— Júlia e o porquê de ter aparecido aqui com o Henrique — informo a Emily, brincando.
— Minha história com Henrique é bem longa, — Ela respira fundo. — conturbada e cansativa, mas hoje foi assim: eu fui pegar uma bebida e apareceu um garoto, que começou a falar algumas coisas para mim, sem sentido e ridículas, e bem nessa hora Henrique estava passando. Quando dei por mim, Henrique já estava em cima do cara distribuindo socos e pessoas começaram a se aproximar... Enfim, demorou, mas consegui ajuda para tirá-lo dali. Saímos para tomar um ar e eu recebi uma mensagem de Isak falando para vim para cá e rápido; então eu vim e o trouxe. Pensando na volta, claro — Ela dispara as palavras, terminando com um sorriso e olhar de desespero que me fazem rir. O jeitinho meigo e afobado dela é de conquistar qualquer um.
— Um adendro: o garoto era meu primo e ele merecia! — Emy afirma e acompanhamos sua gargalhada alta.
Precisei explicar um rápido resumo de tudo que aconteceu para Emily, o que foi meio difícil e demorado pelos comentários sórdidos da loira. Depois de jogarmos conversa fora sobre o nosso espetáculo no jardim, a roupa que usaríamos combinando na segunda-feira e que o meu tênis verde deveria estar incluído, também combinamos de ir à casa de Emily para ajudar a limpar a bagunça que restou da festa antes de seu pai chegar, no caso domingo a noite, e garantirmos que os próximos três meses vão ser os meses mais fenomenais que esse mundo já ouviu falar, só então, descemos.
Na sala, estavam os garotos. Cada um sentado numa ponta do sofá, mexendo em seu próprio celular, exatamente como estavam quando subimos.
— Quem vai nos levar para casa? Eu vim de Uber, Isak no carro da Ayla e Henrique trouxe a Júlia e vai leva-la de volta, como Isak, por coincidência, mora na mesma casa, e a minha fica no caminho, acho que Henrique não se importaria de nos dar uma carona. Não é Henrique? — Emily faz seu jogo, como havíamos tramado no quarto e que, ouvindo agora, não parece ter ficado muito bem planejado.
Henrique não diz nada, apenas olha para Isak, que balança a cabeça assentindo, e direciona novamente seu olhar para nós com um sorriso amarelo.
— Claro, sem problemas.
Alguns minutos depois e eles se foram. Desde então, minha mãe está falando desde reclamações ao tanto de gente que ela não conhece dentro da sua casa a até em como sente muito por isso e coisas do tipo.
— Eu entendo, — pronuncio, enfim, as mãos nervosas em minhas coxas. — mas preciso ficar sozinha. Desculpa.
Subo para meu quarto e tranco a porta, seguindo até a janela, onde olho para a noite fria e escura, e subo para o telhado.
Ao lado da pequena coluna como apoio da escada, me sento sobre as telhas, olho para cima e o céu está cinza, gélido e escuro, com uma lua cheia bonita escondida por rastros de nuvens. Minha respiração pesa e, então, todos os sentimentos que venho guardando nesses últimos meses me invadem. Sem nenhum aviso, as lágrimas escapam de meus olhos como enchentes; minha mente fica nublada com meus pensamentos conturbados e frenéticos, mas é disso o que eu preciso: a lua e eu, tentando passar por tudo, afinal não é a primeira vez e algo me diz que não será a última.
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As mil melodias que cantei por você [Em Atualização]
RomanceAyla Souza finalmente chegou ao seu último ano no colegial. Será a última "nova escola" e ela sabe que não está pronta. O futuro a deixa assustada e o passado a rodeou de barreiras até então indestrutíveis, no entanto, o guitarrista, compositor e vo...