PENETRA
Na sexta-feira, Emily e Júlia alegaram que precisávamos sair e eu concordei. Disse para minha mãe que ia à casa de Emily para uma noite do pijama. No início ela ficou receosa por não conhecer minhas amigas, mas disse que confiava em mim. Não sei se ela deveria mesmo, pois agora Emily e eu estamos em frente a uma boate com o intuito de aproveitar bastante a noite de sábado e o aniversário de Iuri que somente hoje à tarde eu fiquei sabendo que aconteceria.
Sei que estou de penetra, mas estou tentando não pensar nisso. Trouxe uma garrafa cara de whisky para compensar ao aniversariante.
Assim que entramos, sou surpreendida por luzes coloridas e o som que já não é mais tão imperceptível quanto era do lado de fora. Deixo o whisky na mesa cheia de presentes ao lado da entrada e Emily também coloca cuidadosamente o ursinho rosa. Quando questionei mais cedo, me disse que era um presente idiota para um garoto idiota e que ele amaria. Ela parecia genuinamente animada.
— Vou pegar bebida pra gente começar a noite da melhor forma que há. Me espere aqui, não vou demorar. - diz Emily, alto, tentando sobressair-se ao som das conversas ao nosso redor e da banda que está distante, quase ofuscada pelas pessoas em volta.
Ela me deixa sozinha e me sinto deslocada. Olhando em volta, todos parecem acompanhados, seja nos grupos das pequenas mesas, a galera reunida em frente ao palco ou os muitos casais nos sofás em cantos suspeitos. Não querendo me sentir a estranha, decido que vou procurar por Júlia, que garantiu que já estaria aqui.
E esse era o plano, até eu ser enfeitiçada pela voz do vocalista quando me aproximo um pouco mais de onde a banda está. Um sopro gélido de ar passa pela minha nuca, arrepiando-a e indo direto para a boca do meu estômago. Fico curiosa, a sensação é deliciosamente perturbadora. Me aproximo mais do palco e, quando encaro a banda sobre ele não quero acreditar no que vejo, mas, de todas as sensações que varrem meu corpo, surpresa não é uma delas.
Quando os olhos de Isak encontram os meus, minha respiração fica instável e eu odeio ter sido a primeira a desviar o olhar.
Eu reconheço os outros, um por um, todos da minha turma: O garoto negro super bonito e educado que está atrás do teclado, Bernardo. Ele é bem tímido também, descobri isso na tarefa em dupla que fizemos na quarta-feira; Luan é o de cabelo comprido. Um aviso? Nunca se aproxime do violão dele. Ele mataria por aquilo; Iuri, o aniversariante que vive em jogos de flertes com Emily; e o loiro de olhos verde-claros que está na bateria, Henrique. Cá entre nós, ele tem uma queda e tanto pela Júlia e não se dá bem com Isak, irmão dela e rei dos babacas. Ouvi boatos de que eles já foram melhores amigos, mas Anny tem muito a ver com o fato de não serem mais. E, sim, eu sei, não gosto do Isak. No entanto, isso não quer dizer que eu fiquei feliz ao saber que perdeu o melhor amigo, ainda mais podendo ser por causa de outra pessoa. Isso se os boatos forem verdadeiros.
Pelo menos para mim, amigos são legais, mesmo que eu não tenha facilidade com eles, mas melhores amigos são como irmãos e perder um deve ser terrível.
Meus olhos rebeldes logo retornam sua atenção para aquele que nunca deveria tê-la. E os seus olhos ainda estão em mim, como se não houvesse desviado um segundo desde que nossos olhares se encontraram.
Júlia aparece ao meu lado, me chamando a gritos alegres e me envolvendo em um abraço rápido.
Eu estou em choque tão absurdo que mal sei dizer se retribui a ela, mas Jú não parece se importar.
- Acabou de chegar? - Ela pergunta.
Tento dizer algo, mas quando as palavras não saem, eu apenas balanço a cabeça, assentindo. Isak não tem mas seus olhos em mim e isso é ótimo, mas...
- Onde está Emy?
- Foi pegar bebida.
- E te deixou sozinha?
- Sim, ela disse que voltaria logo, eu que...
Caramba, Ayla! Pare de olhar para o palco!
-Estava te procurando - digo a ela.
- Entendi. - Ela passa os olhos pelo lugar, procurando por algo. - Ah, olha ela alí! - Júlia aponta para a garota num vestido prata colado ao seu corpo e os cachos que antes eram naturais, agora lisos. Nos leva até ela.
Emily entrega a mim uma bebida rosa.
- Já conheceu a banda da noite?
Eu não posso acreditar nisso. Emily sabia? Merda, é claro que sabia!
"A banda de uns amigos vai tocar", disse ela na nossa chamada de vídeo ontem.
- Sim, mas não acho que conhecer seja bem a palavra certa - digo ácida.
Ela ri, Júlia é a única que parece culpada.
Elas precisam se sentir culpadas? Imagino que sim, ou ao menos arrependidas. É o justo. Os outros garotos da banda parecem ser legais por mais que não tenho tido muito contato com eles, mas Isak tem sido um babaca insuportável desde o meu primeiro dia. Com sorrisinhos idiotas, palavras travessas e muitas outras coisas que fazem meu sangue ferver. Em suma, elas sabem da nossa aversão, então por que nem sequer avisaram? Eu poderia ter me armado melhor, poxa!
- Desculpa. Sabíamos que se falássemos você não iria querer vir. Foi por uma boa causa.
- Uhum - murmuro antes de beber um gole generoso da bebida doce que a loira trouxe. - Tá tudo bem. - Sorrio. Estou apostando algumas fichas nessa amizade com elas e não vou deixar nada estragar nossa primeira noite juntas, nem mesmo o babaca. Não quero me sentir traída por um motivo tão besta.
Júlia nos guia para mais perto do palco.
Enquanto caminho com elas, vejo Anny com outras duas garotas. Infelizmente, ela me nota e cutuca as meninas ao seu lado. Não tenho ideia de quem são, mas me encaram como se soubessem quem eu sou. Eu desvio o olhar, optando por ignorar completamente.
Eu queria muito, muito mesmo, narrar o quanto essa banda é horrível, o quanto a voz de Isak é desagradável, mas eu não posso. Me tornaria uma grande mentirosa.
Caramba, eles são só uma banda de garotos do colegial, não deveriam ser tão bons!
A banda para de tocar, olho por cima do ombro e percebo que eles estão dando uma pausa para decidirem a próxima música.
- Hey, Emily, você está bem? Tô sentindo que seus olhos estão por tempo demais em mim, princesa. Porque não chega mais perto? - Iuri, o garoto que estava atrás do baixo, diz quando se aproxima da beira do palco, segurando uma garrafa com água. O mesmo garoto que jogou a camisa para Emy após fazer um gol, no meu primeiro dia no colégio e aniversariante da noite.
- Perfeitamente bem para não aceitar o seu convite, Iuri.
- Claro que sim, loirinha. - Ele sorri, fechando os olhos. Tem certo charme nisso, confesso. - Hey, Jú. - Ele cumprimenta. - E você, Ayla, certo?
- Certo - sorrio e repito seu nome, mostrando que também sei. - É um prazer e feliz aniversário.
Ele segura um sorriso e seus olhos tem um brilho cínico, como se estivesse se impedindo de soltar algo idiota sobre isso. Merda, eu sei exatamente qual é a piada! Rio de mim mesma e ele me acompanha.
- Vão ficar até depois do show, garotas? Claro que vão, essa é mais uma ordem do aniversariante. Me digam o que acharam do som depois.
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As mil melodias que cantei por você [Em Atualização]
RomantizmAyla Souza finalmente chegou ao seu último ano no colegial. Será a última "nova escola" e ela sabe que não está pronta. O futuro a deixa assustada e o passado a rodeou de barreiras até então indestrutíveis, no entanto, o guitarrista, compositor e vo...