THIN WHITE LIES - lrh

it's all downhill from here

[03:20 a.m, 08 de Janeiro de 2009 - NY]

Coloco água quente em minha caneca e observo o sachê de chá de valeriana emergir, ele boia sobre o líquido que lentamente muda de cor. Ashton sempre guarda chás para insônia e ansiedade no armário da cozinha, ele não gosta de pílulas.

Vou para o meu quarto e Sabrina está deitada na cama, seu escuro e cacheado cabelo cobre todo o travesseiro, ela ainda dorme e não me vê entrar. Deixo a caneca na mesinha de cabeceira e me deito com ela, seu corpo está quente e seu cheiro é de cedro e pinho direto do estado dos grandes lagos, passamos o dia no píer parados olhando a neve cair na água. Pude falar o que sempre quis e envolver meus braços ao redor de seu esguio corpo.

Continuo ali com ela, rezando pra de novo não estar apenas dormindo.

Foi apenas um sonho triste, mais um para conta.

Acordo e ouço meu telefone está tocando, escuto ela me ligando e deixo o telefone tocar. Levanto da cama, coloco uma jaqueta jeans e vou para a garagem, pego meu carro e vou embora, apenas dirigindo pela cidade de madrugada enquanto escuto o som do rádio tocar. O vidro da janela está abaixado e meu cabelo balança com o vento gelado assim como algumas lágrimas saem do meu olho e apenas vão embora no ar.

Quando volto para o apartamento — o sol ainda não nasceu — Ashton está sentado no sofá, está muito frio, mas ele usa uma fina camisa preta com bolinhas brancas, uma calça de moletom azul escuro e seus óculos enquanto toma café e come torradas com geleia.

— Te acordei quando saí? — pergunto e ele apenas sacode a cabeça dizendo que não, sua boca está cheia e envolta dos seus finos lábios há pequenos farelos de pão, depois da viagem nossa relação anda sinuosa.

— Luke — ele diz depois de tomar um gole de café e empurrar o pão para baixo, o vapor quente embaça seus óculos — Você sabe que te amo, não sabe?

— Sei e me desculpa por todo o trabalho que dou, quando eu acho que estou ganhando só estou perdendo. — minha voz falha, há um nó na garganta.

— Como andam as coisas com ela?

— Não sei, tô tentando entender.

— Você gasta muito tempo tentando entender coisas que não fazem jus a você, deveria só viver e viver pode ser deixar ela pra lá, já pensou nisso?

— Todos os dias — tiro meu tênis e coloco os pés na mesinha de centro como Ashton, meus pés ultrapassam os dele pois mesmo sendo mais novo sou bem mais alto que ele, mas ele odeia quando eu falo isso — É estranho continuar falando com Sabrina, meu sentimento por ela ainda é bem confuso porque não sei a verdade e tenho medo de confrontá-la.

Não sou o mesmo Luke do início, chega um momento que você não aguenta mais mentir pra si mesmo, não aguenta fingir que está tudo bem e passa a pensar que deve haver um jeito melhor de se viver.

— Ainda conversamos todos os dias, ainda trocamos mensagens, e-mails, ela ainda me manda pinturas — contínuo — Eu não sei onde a verdade termina e a mentira começa, não sei nem se há mentiras ou verdades. Bem... Na verdade eu sei que existem mentiras, não contei pra ela sobre o que aconteceu em Chicago e também não questionei muito a história dela de "deu problema no carro", acho que estamos quites.

O problema é que uma parte de mim fala "Se você não confia nela por que persiste? Apenas fuja, apenas pare de responder, não é como se ela fosse aparecer e te cobrar alguma coisa", mas a outra parte insiste em pensar que ela poderia talvez mentir seu nome, sua aparência, ela poderia até ser real só que comprometida, ainda assim, como você fica horas, dias e meses conversando com uma pessoa? Não dá pra mentir isso, mesmo que por ligação, você não mantém contato com alguém que não se importe, nem que minimamente, não pergunta do dia de uma pessoa que não sente nada. E pra completar, tem uma parte minúscula que reza todos os dias para que todos estejam errados, reza pra que um dia eu acorde e ela fale "Querido, amanhã estarei à caminho e serei sua!", se essa parte de mim fosse maior tudo seria mais fácil, o problema é que eu nunca acreditei muito no amanhã.