capitulo 8

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Klint está cantando. A voz dele é calma  e macia, gosto de ouvir.


"Há um garoto dentro de mim
Que vivia na escuridão
E decidiu sair em fim
Mas encontrou reprovação
Mas ele não quis se esconder
E tinha mais a oferecer
Pois pra dar paz a um coração
Tem que sair da escuridão"


Ele passou três dias pensando na letra dessa música e eu até dei alguns palpites.
Ele vem mantendo seu bom humor, eu sei que é por minha causa, nenhum de nós dois estamos bem, em teria como. Ambos estamos chegando aos nossos extremos, mas ele continua tentando, o invejo por isso. Fico imaginando Klint antes de tudo isso, com sua banda de rock, ele, com sua bela voz, cantando uma daquelas músicas com letras, que nos levam a refletir sobre vida. O sorriso arteiro e aquela olhadinha de lado seguida de uma piscada para uma das garotas da plateia. Ele parece ser do tipo, que não perde uma oportunidade.



"Garotos fortes choram muito
Muito, muito mais do que o normal
Pois eles sentem quase tudo e tudo aquilo que faz muito mal
Garotos fortes sabem muito, muito, muito sobre ser real
Pois eles vivem nesse escuro mundo e com esse instinto animal"




Ele tem razão, garotos fortes choram. Nos considero homens muito fortes, já faz tanto tempo e ainda não erdemos de vez o juízo. É verdade que ele é mais fort do que eu, a maior parte das vezes ele é a minha força.  Nós já choramos bastante aqui.




"Garotos fortes podem ser aquilo que quiserem
Porque eles querem, sim, crescer o quanto que puderem
Garotos fortes são ouvintes, eles sabem como se portar
Garotos fortes podem ver, do seu jeito especial de olhar"



Klint deve ser aquele cara, que nunca deixa a conversa morrer, que sempre faz as coisas acontecerem e sempre está lá. não importa o que aconteça.



"Eles são incompatíveis, com o tal padrão geral
São meninos imprevisíveis, mesmo na pose formal
São garotos inocentes, que só querem seu lugar
São chamas de um fogo ardente, que incendeia todo lugar"




Eu já devo ter dito isso, mas gostaria de te-lo conhecido antes disso. quando eu ainda era eu e ele aind era ele. Que tipo de maravilhos historia nós podriamos ter vivido.
Ele brinca comigo dizendo que quando a gente for resgatado, nós vamos para um daqueles bares chiques e cantar essa música num dueto.

-- Eu não canto bem. -- Respondi.

-- Eu gosto da sua voz e nada além disso precisa importar.

Eu nem sou capaz de descrever um bar. Lembro que bebíamos e que tinha pessoas, muitas delas. Sinto falta de ouvir o barulho da cidade, apesar de não saber mais como era. A ultima vez que mensionei isso a Klint, ele ficou fazendo vários barulhos com a boca, fingindo ser um carro e depois uma moto. Ele foi um avião e um cachorro latindo no que ele diz ser uma daquelas ruas de residenciais familiares aonde crianças brincam na rua.
Fico impressionado com sua capacidade de lembrar dessas coisas, ele diz que lembra porque sempre prestou muita atenção a todos esses detalhes.

-- O mundo é cheio de detalhes, feios, bonitos, pouco importa, os detalhes é que moldam a coisa toda.

Klint é o maior detalhe de todos pra mim nesse momento, isso é minha única certeza.

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