•20|If I'm getting over you

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Estou escrevendo para chegar até você — mesmo que cada palavra que eu coloque seja uma palavra mais longe de onde você está. Estou escrevendo para voltar no tempo, no dia sem nome, naquela noite que poderia ter sido numa terça, quarta ou quinta-feira, quem se importa com a total perda desse detalhe? Os calendários certamente ficaram para trás, esquecidos no espaço tempo, anos luz de distância que deixaram de existir assim que você surgiu entre multidões.

Por que tão triste? As pessoas se afastavam para que você pudesse passar, elas te notavam mesmo bêbadas. O que te tornava tão notável? Podia ter sido seu cabelo verde neon ou o jeito que você agia como se não quisesse ser vista. Segurando um filhotinho de cachorro numa mão (talvez fosse isso) e um copo vermelho na outra, você fugia do barulho e pra minha surpresa, caminhava em minha direção.

Eu me apavorei. Porra, porra, porra.

"Segure" a garota gritou, sua voz competindo com a barulheira das outras vozes e da música alta.

A cachorrinho foi erguido em minha direção, balançava as patinhas como se quisesse dizer "ei, me segure logo humana lerda!" E  eu não pude fazer outra coisa se não pegá-lo. Ele tremia em meu colo.

Contornamos pessoas, deveríamos encontrar uma saída. .

Foi um dia sem nome - embora posso precisamente recordar quando sem ao menos saber de fato, esqueça terças, quartas ou quintas- feiras, esse começo tinha características que iam muito além do comum, do despertador arruinando sonhos das cabeças mais sonhadoras em seus travesseiros, da rotina monótona cujo alguns levavam a sério em um lugarzinho qualquer do mundo.

"Ele é seu?" Fiz a pergunta mesmo com medo de perguntar.

Ela balançou a cabeça, não.

"E o que vamos fazer?" Vamos, nós. Agora aquele cãozinho também era problema meu.

"Ficaremos com ele" então ele seria nosso.

Eu mal a conhecia e já tínhamos um cachorrinho juntas, quis rir mas mordi o lábio para me impedir. Se Lauren soubesse....

"Como deveríamos chamá-lo?"

Você demorou pra responder, a festa e todas as suas luzes coloridas tinha ficado para trás.

"Peep"

"Peep?" Franzi as sobrancelhas.

Sim, Peep. Depois daquele noite ela me contou que Peep tinha sido o seu melhor amigo mas o perdeu. Como assim? Questionei certo dia, ele se matou.

*

Talvez ela saiba todas essas pequenas coisas sobre mim.
E ela sabe todas essas pequenas coisas sobre mim, até às mais chatas que ninguém aguentaria saber mas ela quis.
Então ela quis?
Ela quis.
Por quê?

Um mês passou e naquele outono tive a breve sensação de estar agindo feito uma criança boba porque queria que você abrisse os olhos e me visse de algum jeito, parasse de pensar tanto no que eu daria tudo pra saber, nesta dia ensolarado no entanto frio, queria que pudesse entender a complexidade da sua existência, que se visse do mesmo jeito que eu te vejo, porque você respira sem dificuldade ou necessidade alguma mas é acostumada a isso, é como piscar, você mal percebe.

Sentada alí no sofá, muita gente escreve histórias sobre você, mas ela sequer mexeu um dedo ou fez qualquer som que pudesse sinalizar reconhecimento ao que eu tinha dito, talvez não se importasse comigo, talvez fingisse, vai saber. Porra, eu queria saber.

O sol batia em seu rosto pálido, nos ombros, em seu cabelo loiro que brilhava feito ouro, o sol parecia te amar.

Invejei você, seu corpo, seus ombros, suas pernas, seus lábios, seu nariz, da cabeça aos pés mas não os seus olhos porque eu ainda não os tinha visto por muito tempo.

O cãozinho Peep tinha arruinado todos os tênis dela e agora corria pela casa, indo de um lado para o outro, brincava sozinho feito uma criança solitária. Aquele cãozinho roubava sorrisinhos afetuosos de Billie, até quando ele aparecia com alguma coisa cara entre os dentes.

*

Mês dois
E ela sabe que não vou embora.
E talvez saiba que ela mesma não quer isso.
Eu digo isso a ela

"Você não quer que eu vá embora"

Billie continuou me encarando e eu esperando, eu poderia esperar se fosse isso que ela quisesse, poderia sentar em uma das cadeiras jogadas ali ou naqueles sofás bem arrumados, até mesmo no chão, esperaria no lado de fora se ela pedisse, bastasse uma palavra que fosse. 

Ela me encara como se soubesse o que estou sentindo, diz que nós não dariamos certo.
E eu pergunto o por quê?

"Por quê?"

Seus pulsos sangravam. Billie diz que a resposta é essa.

Ela continuou me olhando enquanto eu lavava com cuidado seus pulsos, seus olhos me seguiam de lá pra cá enquanto eu tentava buscar alguns curativos, e quando eu a olhava, Bill desviava e fingia estar interessada com outra coisa. Quando finalmente achei a merda dos curativos, me sentei ao lado dela na cama.

*

Mês três

Terça foi o dia em que desafiei os deuses e minha própria sorte, se é que eu ainda a tinha guardada em meus bolsos — sentamos, nós duas desta vez, em um banco público. Ainda sem palavras. Eu queria saber o que você pensava naquele dia, naquele banco público, naquela hora, que desperdício seria não ter vindo até aqui, esse dia tinha seu nome e se chamava Billie e tinha características longe de serem comuns, sem despertadores mas se fosse você arruinando os sonhos de todas as cabeças sonhadoras caídas em travesseiros, ninguém reclamaria... Eu não reclamaria.

Um dia ela me perguntou o por que não vou embora.
Agora os papéis se inverteram, eu brinquei.
E ela perguntou se era pelo dinheiro?
Não
Pela fama?
Não
E ela continua perguntando o por quê
Porque eu gosto de você.
E ela diz que estou mentindo, fala que nós nunca dariamos certo, diz que nunca me deu uma chance real de ir embora. Ela grita, diz que nosso relacionamento faz mal pra nós.
Concordo.
Então eu deveria ir embora.
Não.
Por quê?

Estou escrevendo porque me disseram pra nunca começar uma frase com porquês.

Porque amo o jeito que o sol te envolve, como um vestido tecido de fios de luz. 

Porque eu amo o jeito que seus olhos brilharam com esperança, como um diamante arrancado da terra e polido pela primeira vez ou o jeito que seu sorriso pode romper os olhos dos mais ignorantes 

Porque adorei sua inocência incontaminada pelo tempo e sem limites delimitado pelo destino.

Porque adorei sua curiosidade, e como você foi cautelosa o suficiente para saber o que estava em jogo.

Porque eu estava querendo te agradar quando sugeri que fossemos no centro, porque nos levei até lá e tudo que ganhei foi o seu silêncio intrometido.

Porque eu não precisava e ainda sim fiz.

Porque continuo iniciando as coisas com vários porquês.

Porque te fiz ser um anjo numa história mal contada.

E porque gostei de você desde o dia um.


The Devil Hostage™ - Billie&youOnde histórias criam vida. Descubra agora