Pov BillieO tempo nunca me incomodou, os ponteiros dos relógios e sua sintonia apressada jamais teve relevância quando se tratava da minha existência. Nenhuma preocupação humana poderia me atingir ou ao menos deixar meus sentidos mais ativos. Nunca tive interesse de buscar as horas pois nunca cheguei a precisar delas. Então, quando meu olhar correu involuntariamente para o indicador de horas mais próximo, deixei que minha mão caísse na testa dela. Sabia com precisão quanto tempo fiquei de pé observando S/n adormecida em minha cama. A tranquilidade conforme sua respiração suave ia e vinha me irritava, a sua calma me tirava do sério porque, devido nossa ligação, também sentia isso. A sensação que Camila tanto me contava em devaneios noturnos quando sua humana dormia, a emoção mais pura e mais próxima da paz. Eu não merecia isso.
"Tá parada aí que nem uma planta é?" Gustav me sacudiu. Soltei um protesto silencioso, meu cérebro trabalhou duro para encontrar maneiras de proteger S/n, minha primeira reação foi segurar o braço do garoto com força, o empurrando para trás. Longe dela. De nós. "Calma gay, não vou chegar perto dela"
"Desculpa. Tudo ainda é meio confuso" falei na espera dele compreender que não estou totalmente no controle de mim mesma. Gustav sorriu, aquele sorriso sugestivo "Nem comece, porra"
"Eilish já está se apaixonando" começou, fazendo uma careta e rindo consigo mesmo. Se não fosse pela calmaria que S/n estava me fazendo sentir, a extrema necessidade de pular na garganta dele, de rasgar ela, de arrancar todos os membros do seu corpo, com certeza me atingiria. Franzi a testa, isso vai ser uma merda, assumir esse outro lado protetor que vai contra minha vontade. Seria doloroso me acostumar com isso.
"Caralho" passei minhas mãos pelo meu rosto, frustrada "Pensei que pelo menos nessa vida de merda eu estaria livre disso!"
"Ela tava em perigo, Bill."
"Deveríamos ter interferido de um jeito indireto"
"Não comece falando bobagens como sempre faz quando está irritada. A companhia dela será boa pra você e-"
Eu podia ouvir o coração de S/n acelerar, assim como meu, toda aquela calmaria sufocante agora tinha sido substituída pela ansiedade. Minha cabeça foi guiada até ela, os olhos estavam abertos e assustados, como um cervo acunhado avistando seu predador. Ótimo. Suspeitei, nossa ligação era fraca e eu ainda sim podia me incomodar com as suas sensações e sentimentos. Imagine quando for forte.
"Oi S/n, se sente melhor?" Gus usou sua voz meiga, me olhando de relance com hesitação. Apenas dei de ombros, deixando de lado meu incomodo secreto.
....
Pov S/n
Demorou um pouco pra minha cabeça voltar ao lugar, tudo parecia meio turvo e embasado. Eu preferia mil vezes ter levado um soco na cara e desmaiado do que ter sido drogada.
"Parece que fui atropelada" reclamei olhando pra ele, o menino riu e sacudiu a cabeça.
"Esse tipo de droga não é daquelas que te fazem voar" piscou de um jeito brincalhão.
"Peep" a voz repressora de Billie me fez estremecer, parecia chateada, realmente espero que ela não desconte em mim. Peep revirou os olhos, balançando a cabeça.
"Tá bom, já entendi" bufou, me lançando um olhar de desculpas "Até mais, S/n."
Mais uma vez me encontro sozinha com Billie. A atmosfera do quarto era mista, uma mistura amarga de irritação e perigo. Pude sentir seu olhar fuzilando o meu crânio, entretanto, não fiz nenhum movimento para encontrar seus olhos.
"Você está com medo de me encarar?" ela parecia divertida, como se estivesse numa brincadeira de gato e rato.
"Eu não sinto a necessidade de te encarar no momento" fiz questão de enfatizar, ignorando todo o meu medo e hesitação. A raiva finalmente ganhando um lugar em toda essa situação e eu não podia ficar menos agradecida por isso.
A figura de Billie rapidamente entrou no meu campo de visão, sua mão apertando minha bochecha com força, o bastante para me fazer gemer em pura surpresa. Não sei se super rapidez está na lista de poderes de um anjo, mas ela foi tão rápida que meus olhos não conseguiram a acompanhar. Tentei me esquivar para trás, porém, seu aperto não vacilou em momento algum. Antes mesmo que minhas mãos tentassem empurrar os seus ombros, Billie agarrou meus pulsos e prendeu contra a cama, fazendo meu corpo se deitar no processo.
"Babygirl, esqueceu das regras?" perguntou numa falsa insinuação de confusão, depois, ela sorriu. "Eu posso te fazer lembrar." ela subiu em mim, mantendo seu rosto próximo do meu.
"Sai de cima de mim" rosnei, tentando soar o mais ameaçador que podia, mas a cada momento em que eu era obrigada a olhar prós olhos dela, me sentia menor, era como se eu estivesse perdida em um oceano enorme, presa comigo mesma.
"Se não o que, S/n?" Ela desafiou, umedecendo os lábios.
"Billie, sai de cima de mim" insisti, tentando me sacudir um pouco, mesmo estando 99% imobilizada. Se for analisar toda essa situação, uma parte do meu subconsciente dizia que essa cena era bem erótica, mas a maior parte do meu cérebro tava pouco se fodendo pra isso, só queria sair dali
"Me faça sair" suas palavras saíram pausadamente, dando um sorriso perigoso, desafiador e divertido. Ela gostava disso.
Eu pensei um pouco sobre as palavras de Camila e sobre o conceito de anjo, eles deveriam nos proteger, então por que Billie parecia tão diferente? Ela poderia me machucar, mas...enquanto a outra pessoa? Eu poderia me machucar? Isso a afetaria de alguma forma? Não custava nada tentar. Mordi meu lábio inferior com força, ganhando um olhar confuso de Billie. Senti o sangue na minha boca, mas não ousei diminuir a força da minha mandíbula.
"S/n para." ordenou, seu olhar inquieto e no mínimo desesperado me fazia querer rir por vê-la desse jeito agora, no entanto, a dor que eu sentia me impedia disso. Ainda assim, continuei "Eu mandei parar!"
Seu polegar entrou em minha boca, indo contra a força da minha mandíbula, em questões de segundos eu me boa de boca aberta. Ela tomou algumas respirações apressadas, sem ousar tirar seu dedo da minha boca, como se estivesse com receio do meu potencial autodestrutivo. Achei o ponto fraco dela.
"Vou pegar alguma coisa pra limpar isso" resmungou se referindo ao meu lábio machucado, parecendo desinteressada, finalmente saindo de cima de mim. Suspirei, feliz por ter conseguido incomodá-la, porém, com dor "Mas não ache que o que você fez não terá consequências."
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The Devil Hostage™ - Billie&you
Fanfiction"A imagem de um anjo furioso, das asas erguidas ao céu acima de nós, do sangue escorrendo daquelas mãos sagradas e do olhar tempestuoso que jorrava com tanta raiva trovões na minha direção. Eu tinha alguma chance contra aquilo? Nesse momento cheguei...