•21| Or just pretending to

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O frio costuma picar minhas bochechas coradas como se fossem ferrões pontiagudos de abelhas, o suicídio de várias contra mim e contra todos aqueles que se atrevem a sair muito cedo de suas camas; ponho minhas mãos alí para evitar ferroadas, as cubro no calor das minhas palmas. Estou usando um moletom predominantemente verde. Um moletom disforme que uso muitas vezes. Jeans, tênis normais, qualquer um que sirva. E óculos. Eles são novos. Minha visão se deteriorou drasticamente no ano anterior. Eu me tornei míope ao longo de algumas semanas sem saber e fui ordenada a usá-los desde então.

A cada minuto que passa, sem ou com os óculos, vejo uma fileira de outros infinitos minutos, a espera de seu silêncio. E como é esperar por infinidades decimais, ela perguntaria, eu imagino sua voz me fazendo perguntas assim enquanto o sol adormece num berço dourado ao fim do entardecer, é como se sua atenção desviasse por um instantizinho, eu diria, e de repente o livro que escrevo sobre você, o café da manhã que tomo, o lugar onde estou fosse reduzido em nada, consegue imaginar o mundo como um pequeno átomo ridicularizado em um grande nada? É como observar uma garota presa numa cama de hospital tendo um sono eterno.

Há uma fronteira impenetrável que está entre nós. Talvez seja desprezo que tenho pelo teu sono. Aquele desdém, no mínimo. Mas não vejo ninguém além dela, sem ou com o óculos, é instantâneo e abrupto, ganha forma sem que ninguém perceba, eu ou você ou qualquer um, tudo através dos números que prolongam dias e quando menos espero estou tagarelando sobre a metafísica das cores durante um ano sem receber nenhuma resposta sua.

Faz tanto tempo que o loiro do teu cabelo foi mudado para o preto, breu total.

Ao menos a máquina sinaliza que teu coração ainda bate, e isso nunca mudou.

"Você tá uma merda S/n" Camila veio me trazer um pouco de café

"Obrigada" murmurei, dando uma boa olhada para a cubana antes de me voltar a Billie. "Ela nem sequer mexeu um dedo até agora"

"Eu sei" disse baixinho "acho que deveria cuidar um pouco mais de você" se sentou ao meu lado "acha que ela gostaria de te ver desse jeito?"

"Não mesmo" ri imaginando o puta esporro que levaria dela

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"Ela perdeu muito sangue" o doutor analisava a prancheta, tinha uma postura cansada, provavelmente ficou horas e horas ali no hospital sem nenhum turno de descanso "O impacto em sua cabeça quando caiu no chão só favoreceu na situação atual dela" limpou a garganta e olhou para Finneas e eu "Quando Billie acordar, é possível que algumas sequelas ainda persistam em sua fase de recuperação. Falta de orientação, dores de cabeça, apagões constantes e amnésia temporária são só alguns exemplos, não implica que necessariamente acontecerá."

O ruivo bagunçou seu cabelo em frustração e eu apenas fiquei lá, sem saber muito o que fazer. Eu e Finneas nunca nos demos bem, ele sempre me avisou pra não me meter com sua irmã e antes de eu conhecer ela de verdade, não entendia o por que ele era tão contra ao nosso relacionamento. Agora eu entendo.

"Não estou surpreso por isso estar acontecendo, S/n" ele disse finalmente, depois de um silêncio constrangedor "Não vou estar surpreso se ela tentar se matar de novo" limpou seus olhos "Por que continua aqui S/n?"

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"Como posso fazer você olhar para mim, S/n?"

The Devil Hostage™ - Billie&youOnde histórias criam vida. Descubra agora