Damian

Medo

Damian se jogou em sua cama depois de dar o resto de seu sorvete a Titus, o cão dormia tranquilamente até ser acordado por seu dono. O garoto olhou para o teto, estava tudo bem então por que sentia isso? Por que estava com medo? Todos estavam felizes, até ele mesmo, mas por que sentia essa dor? Não entendia, o que acontecia consigo? A porta de seu quarto se abriu, pegando-o de surpresa, amaldiçoou a si mesmo por esquecer de trancá-la.

‐ Tt, o que você quer? – Sentou na cama.
‐ Conversar. – Fechou a porta e sentou ao lado dele. – Você parecia muito distraído, o que aconteceu?
‐ Nada. 
‐ Não minta.
‐ Por que acha que estou mentindo?
‐ Por que eu não sou burro, sei que tem algo errado.
‐ Tt.
‐ Escute pirralho. – Tocou nos ombros dele. – Sei que tem algo lhe incomodando, pode contar comigo para o que for. Se alguém vai lhe entender, serei eu. Pode parecer horrível, mas nós dois somos muito parecidos, somos as ovelhas negras dessa família, devemos nos entender e nos dar bem. Sempre pensei que poderíamos ser amigos, que um poderia ajudar o outro. Por isso, se você se sente substituído ou com ciúmes, fale comigo.
‐ Acho que essa foi a coisa mais bonita que você falou para mim, uma pena que esse final estragou tudo.
‐ O que? – Levantou uma sobrancelha.
‐ Eu não me sinto substituído! – Gritou e finalmente começou a deixar todos aqueles sentimentos confusos virem a tona, finalmente colocou tudo para fora e começou a entender o que estava acontecendo consigo. – Eu sei que não serei substituído, quem iria querer ficar no meu lugar?! E ciúmes?! Por que eu teria ciúmes de algo que sei que vai ser melhor do que eu?! Eu tenho é medo! – Após dizer isso sentiu seu coração ficar mais leve e as lágrimas surgiram, Jason ficou surpreso ao ver aquilo. 
‐ Medo? – Repetiu.
‐ Sim, medo! Eu sei que é idiota, mas e daí?!
‐ Mas do que você tem medo?
‐ Essa criança vai ser tudo o que eu não sou e eu não a culpo. Todos vão perceber que eu sou horrível, sou um assassino, a ovelha negra como você disse. Logo todos vão me esquecer, não lembrarão mais de mim, ficarei sozinho e ela vai voltar, eu não quero voltar para ela. – Sua cabeça estava abaixada e pequenos soluços escapavam.
‐ Ela quem?
‐ Minha mãe. Se eu voltar pra ela, me tornarei um monstro pior do que já sou. Eu não quero matar nenhum de vocês, nem mesmo Drake, mas se eu voltar pra ela isso vai acontecer.
‐ Você não vai voltar pra ela, nunca mais irá seguir as ordens dela ou da liga, não vou deixar. Os outros nunca irão lhe deixar de lado, não vão te esquecer, mas se acabar acontecendo eu estarei aqui. Não vou deixar você ficar sozinho, não deixarei que volte para ela. Posso não ser a melhor pessoa do mundo, mas posso tentar ser um bom ombro amigo ou o melhor irmão que conseguir. Podemos ser as ovelhas negras da família, desde que não fiquemos sozinhos.

O menor fungou e tentou secar as lágrimas, vendo isso o mais velho lhe abraçou, no começo Damian resistiu, mas logo o abraçou de volta.

‐ Que história é essa de você ser um monstro?
‐ É a verdade.
‐ Tudo bem, você pode ser um monstrinho, vai ser o meu demôniozinho.
‐ Tt. Eu não sou de ninguém.
‐ Certo, certo. – Soltou uma risada baixa.
‐ Não conte à eles sobre isso.
‐ Não vou, mas ele vai me encher de perguntas.
‐ Não conte, por favor.
‐ Já disse que não vou, principalmente agora que você pediu com educação. 

Eles ficaram mais um tempo abraçados até o maior se separar e bagunçar os cabelos do irmão.

‐ Vou deixar você se recuperar, voltarei para junto dos outros, não demore. – Caminhou até a porta, antes de abrir se virou. – E lembre-se, conte comigo.

Assim que ele saiu, Titus correu para o seu dono e começou a lamber o rosto dele, o cachorro parecia ter entendido que algo sério estava acontecendo e que agora poderia ir até Damian para tentar consolá-lo. O garoto afastou o cão e fez um carinho na cabeça dele, enquanto com sua outra mão secava seu próprio rosto.

‐ Preocupei você, desculpe. – Ouviu um pequeno latido como resposta.

O humano se levantou e foi ao banheiro, viu seu reflexo no espelho e fez uma careta, estava horrível. Lavou o rosto tentando ficar mais apresentável, olhou atentamente para o seu esconderijo de remédios e decidiu que não tomaria nenhum nesse momento.
Na sala, todos estavam nervosos, achavam que Jason estava demorando muito. Bruce quis ir atrás dele, mas foi impedido pelo mordomo. Os filhos que ficaram tentaram desviar a atenção falando de outras coisas, sabiam que o melhor era ficar tranquilo. Quando Todd apareceu, todos se levantaram, Jason arqueou uma sobrancelha que fez todos voltarem a sentar.

‐ Então, como foi?
‐ Desculpa Bruce, não posso contar.
‐ Como assim?! – Levantou irritado.
‐ Eu prometi que não ia contar. Mas acho que agora as coisas vão melhorar. – Sorriu.
‐ Confia nele. – Dick colocou a mão no ombro do pai e o encarou.
‐ Tudo bem. – Suspirou. – Mas se algo ruim acontecer, você vai ter que me contar.

Jason deu de ombros, não queria pensar que as coisas podiam piorar e não sabia se contaria para Bruce o que o pequeno Wayne falou. Talvez contasse se algo muito, muito ruim acontecesse. Quando Damian apareceu eles já haviam mudado de assunto, mas não significava que tinham esquecido, com um olhar Alfred teve que impedir que Bruce falasse alguma coisa que estragasse tudo.