Damian

Ajuda

Damian ouvia todos aqueles discursos um por um, mas não queria abrir. Sua mente analisava cada frase dita, concordava com algumas coisas, mas não significava que iria abrir a porta. A lembrança de seu pai brigando consigo ao descobrir dos remédios lhe atordoava, tudo estava acontecendo rápido demais. Queria alguém que lhe abraçasse, lhe desse carinho e sabia que receberia tudo isso se abrisse a porta, mas também sabia que perguntas seriam feitas e expressões de pena seriam lançadas sobre si. Ele queria ajuda, mas não alguém que lhe julgasse. Sua mente estava atormentada, não conseguia pensar em nada além daquelas imagens horríveis e acabou se perdendo nelas. Ficou trancado por dois dias.
Bruce quase enlouqueceu nesses últimos dois dias. Ao descobrir do medo que o filho tinha de se tornar um monstro, de voltar para a mãe, foi direto falar com ele e garantir que só descobriu porque obrigou Jason a contar, não queria que ele perdesse a fé no irmão.

- Damian, eu obriguei Jason a me contar a conversa que teve com você. - Não conseguiu ver o menor ficando assustado. - Eu não vou deixar sua mãe lhe tirar de mim, não deixarei que volte para a liga. Confie em mim, abra a porta.

Ficou mais alguns minutos tentando fazer ele abrir, mas nada adiantou. Damian havia ficado assustado, não queria que ele descobrisse, ao menos não assim. Eram tantas coisas contraditórias em seu peito. Não sabia quando iria contar, mas não queria que ele descobrisse quando estivesse em crise, preferia contar quando tudo estivesse tranquilo. Continuou trancado desesperando a família. Nos dois dias que ele ficou no banheiro, Alfred levou comida para ele, mas os pratos não foram tocados.

- Precisamos fazer alguma coisa, Bruce.
- Acha que eu não sei?! Estou tentando, Dick!
- Calma! Não vai adiantar nada brigarmos entre nós! - Repreendeu Tim.
- Tem razão, desculpe.
- Temos que tirar Damian do banheiro. Você é o melhor detetive do mundo, não tem alguma ideia? - Questionou Selina.
- Eu tenho uma última opção.

No dia seguinte, a opção de Bruce veio. Ela estava a par da situação e seu coração estava apertado. Teve uma conversa séria com o Wayne mais velho antes de ir até Damian.

- Damian? - Chamou.

Aquela voz o fez levantar a cabeça que estava escondida entre seus joelhos. Não queria ela ali, porque ela estava ali?

- Me contaram tudo. - Encostou-se na porta e deslizou até o chão. - Não precisa falar nada se não quiser, entendo que queira ficar sozinho, mas não sei se é a melhor ideia. Sabe o quanto é estranho Batman ligando para você e lhe pedindo ajuda com seu filho? Eu fiquei muito surpresa, e preocupada. Achei que tinha morrido, mas para minha sorte você se trancou no banheiro. - Parou de falar por alguns instantes. - Eu queria poder te dar um abraço.

Ela ficou quieta e no silêncio que se instalou ela ouviu a porta sendo destrancada. Levantou e viu como Damian parecia péssimo, o rosto dele estava inchado e restos de lágrimas podiam ser vistas nas bochechas dele. Maya o abraçou e os dois escorregaram até o chão, o menino chorou ainda mais. Eles ficaram um bom tempo assim com a garota acariciando as costas do Wayne, não falaram nada até Damian se afastar.

- Quer conversar?
- Acho que sim.
- Então comece pelos remédios, tudo bem?
- Certo. Eu os tomo já faz tempo, no começo era só para dormir melhor, mas as coisas foram piorando. Imagens horríveis vêm a minha cabeça, é como se minha mente quisessem garantir que eu me sentiria culpado por todas as coisas que eu fiz a mando de minha mãe. Todas as coisas erradas que fiz não me deixam em paz, eu não consigo me livrar delas, não consigo me livrar da culpa.
- Essas coisas nunca vão sair da sua mente, sempre estarão lá, mas você não pode deixar que elas lhe controlem. Você pode ter feito coisas ruins pelas quais não se perdoa, mas sei que está disposto a não cometer os mesmos erros. Não precisa esquecer de nada disso, apenas aprenda a lidar com isso. Quando as imagens vierem, pense em outra coisa, em coisas felizes ou repita para si mesmo que você é melhor do que aquelas imagens lhe mostram. Você é melhor do que elas só por se esforçar em não repetir os erros. Quer redenção? Busque se redimir consigo mesmo. Liberte-se, busque ser aceito e perdoado por si mesmo.
- Obrigado por me ajudar.
- Eu sempre vou lhe ajudar, basta pedir.

Eles se abraçaram novamente e ficaram mais um tempo ali. Enquanto Maya tinha ido falar com ele, Bruce e os outros se preocupavam com a possibilidade dela falhar.

- O que vamos fazer se não funcionar? - Perguntou Dick.
- Eu não sei. - O pai suspirou.
- Não sejam pessimistas, vai funcionar. - Tentou Selina.
- Ela está certa, temos que ser positivos. - Comentou Alfred.

Enquanto eles conversavam, Jason puxou Tim e o levou para um local mais afastado. O menor achou que ele poderia ter um plano para tirar Damian do banheiro, mas acabou se enganando.

- Precisamos ter uma conversa séria, Tim.
- Hã, tá bom.
- Quando o Damian sair de lá, e eu sei que ele vai, quero que você tenha uma conversa com ele.
- Sobre o que?
- Sobre essas brigas de vocês. Vocês têm que parar com elas, isso só os deixa para baixo. Não precisa parar de brigar para sempre, sei que é impossível, mas tente fazer com que não sejam tão sérias, estabeleça uma ordem ou padrão ou sei lá o que.
- Eu falo com ele, não se preocupe. Sei que ele deve estar passando por algo difícil, e sinceramente, eu prefiro ele brigando comigo do que trancado num banheiro. Talvez nossas brigas tenham passado do limite, vou conversar com ele.
- Ótimo. - Sorriu.

Alguns minutos depois, Maya aparecia com um Damian tomado banho e de cabeça baixa. Assim que o viu, Bruce abraçou o filho. Ducard pediu para todos conversarem, iria contar o que aconteceu. Todos se reuniram e ouviram o que os mais novos tinham a dizer. Com ajuda de Maya, Damian abriu seu coração e explicou quando começou e porque tomava os remédios. A família foi compreensiva e garantiu que ele não ia mais precisar dos remédios, agora eles estariam lá para ajudá-lo seja com palavras carinhosas ou com abraços. Quando terminaram, Damian comeu e foi descansar.

- Obrigado pela ajuda, Maya. - Agradeceu Bruce.
- Não foi nada. - Sorriu.
- Obrigado mesmo. - Dick a abraçou.

Sem saber, Maya conquistou a confiança de toda a família e mesmo que já estava sendo tratada com carinho, ganhou ainda mais o afeto deles.