Crescendo

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Como tudo que é bom dura pouco. Minha confiança foi se esvaindo e conforme Naruto acariciava meu rosto, eu sentia cada vez mais forte a culpa crescendo no meu interior. Nunca voltei ao orfanato e conforme os dias, meses e anos foram passando. Eu ficava exponencialmente mais feliz e realizada por ter alguém que cuidava de mim. Distante. Essa era a definição. Esquecendo completamente do Menma e, consequentemente, da minha promessa de voltar ao orfanato para visitá-lo. Quando atingi a adolescência, já nem fazia questão da época que vivi naquele lugar. Eu só queria esquecer e foi o que fiz pouco a pouco. Entretanto, nem sempre foi assim, no começo tudo o que eu queria era vê-lo. Sentia saudades e pedia que vovó Chio me levasse lá. Só que ela insistia que não seria bom que eu frequentasse muito aquele lugar. Que era melhor esperar e então me levaria, os anos foram passando e minha necessidade de ver Menma foi ficando para trás. Fiz novas amizades, fui amada, cresci e comecei a namorar. Menma já não existia na minha memória. Era como algo passageiro, uma lembrança tão distante que eu sequer conseguia diferenciar o que foi real e o que eu cogitava ter imaginado.

Acho que minha vó não queria que eu ficasse próxima a ele, não havia outra desculpa para que não me permitisse cumprir minha promessa. Óbvio que a maior parte da culpa foi minha, quando já era crescida, eu podia ter ido sozinha. Ninguém me impediria, no entanto, minha promessa havia deixado de ser importante para mim há tempos. Voltar ao lugar do meu abandono não era mais desejável. Eu tinha tudo — ou quase tudo — o que sempre quis.

Menma não fazia mais parte da minha vida, o que eu diria se o visitasse após tantos anos? Constatar naquele instante o quanto fui mesquinha e egoísta, me doeu mais do que eu poderia suportar.

— Não mereço seu sentimento — retruquei, retirando suas mãos — agora quentes como eu me lembrava — do meu rosto. — Jamais cumpri minha promessa, eu te esqueci depois que conquistei a vida que eu sempre desejei. Você não precisa passar por cima disso! — exclamei e fiz que iria me levantar.

Mas os dedos de Naruto rodearam meu pulso repentinamente e um gemido de dor rompeu de seus lábios devido ao movimento brusco.

— Aí... — ele arfou, afrouxando o aperto.

— Tá vendo, eu te machuco até sem querer. — constatei, me afastando. — Por favor, não fica se mexendo, você precisa ficar bom.

— Se você se afastar de mim novamente, eu não vou aguentar... — seus olhos se encheram de água, ficando ainda mais brilhantes e profundamente azuis.

A dor que me acometeu ao fragrá-lo tão venerável foi quase física. Eu sentia como se uma mão de ferro apertasse meu coração até reduzi-lo a nada.

— Ah, Naruto... — resmunguei em dúvida entre aceitar seu amor e evitar machucá-lo ainda mais com meu egoísmo. — Como pode ainda me amar se te abandonei no orfanato?

— O amor é assim, paciente, bondoso. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor... — recitou e eu discordei com a cabeça, antes mesmo de fazê-lo com a boca.

— Essa visão bíblica do amor é muito sublime e irreal. Na maior parte do tempo não é assim que as coisas funcionam. Na teoria é tudo lindo, mas na prática a história muda de figura. — respondi amarga, com a culpa me corroendo por dentro.

Quanto mais ele me amava em troca de nada, mais eu via com clareza o quão desprezível e podre eu era.

— O meu amor por você é assim, Hinata. — e não havia nenhum traço de dúvida em sua voz. — Eu vou te amar mesmo que não me ame de volta, porque não dá para tirar esse sentimento de dentro de mim. Está enraizado em cada célula do meu ser, só o que te peço é que me permita te amar. Não precisa haver um contato físico mais profundo entre a gente, se não quiser. Só me deixe ficar do seu lado pelo tempo que for, um segundo, uma semana, um mês. Quem sabe? Não sei quando se cansará de mim, mas eu preciso de você um pouco mais. Pelo menos até eu me recuperar, depois pode me chutar se quiser... — nesse ponto seu tom confiante começou a vacilar, ao passo que meu coração se desesperava. — Por favor, hime. Só o que eu te peço é um tempo a mais para poder estar ao seu lado. Eu vou conseguir superar, vou seguir em frente e...

Eu o calei com um beijo sutil nos lábios, minhas mãos espalmaram seu rosto aflito e ele relaxou. Sua respiração voltando a regularidade, enquanto eu sentia tudo se agitar dentro de mim.

— Deixa de ser bobo — sussurrei rente aos seus lábios. — Você acha que cometerei o mesmo erro duas vezes? — e aprofundei o beijo, sugando seu lábio inferior.

Permitindo-me finalmente ser amada por Naruto.

Ainda que eu não merecesse, não assim, de cara. Contudo, eu faria o possível para merecer, retribuiria todo o amor que Naruto me ofereceu. Ou não me chamava Hinata Hyuuga.

(...)

Ter Hinata assim, em meus braços, era mais do que eu esperava da vida. Não nutria esperanças de que ela me correspondesse amorosamente. Isso era algo distante da minha realidade e eu me conformava em receber sua amizade, seu cuidado. Apenas.

E, quando ela se afastou, senti como se meu mundo desmoronasse. Infelizmente a consequência de me deixar envolver novamente por Hinata, seria que, quando ela fosse, eu teria que sofrer toda aquela dor de novo e de novo. Vejam bem, eu já havia superado, ou fingido, sei lá. Não tinha importância mais. Afinal, todo meu autocontrole, minhas barreiras erguidas com o esforço de anos foram derrubadas uma a uma. Quando eu me vi outra vez diante daqueles olhos que tanto me fascinavam. Eu não era mais um garoto, conseguia limitar meus sentimentos, ou pensava que conseguia. Foquei na minha vingança e com isso consegui viver, estudar, fazer amigos e namorar como um cara normal. Ainda que o buraco no peito por sua ausência sempre existisse. Agora, aqui, não há mais nada que eu possa fazer, estou rendido. E se ela for embora, não sei quem vai conseguir pegar os cacos que restarão de mim. Eu devia me preocupar, erguer novamente a barreira segura e fingir a indiferença costumeira que já não existe dentro do meu coração. Só que eu estou cansado de fugir, se é para sofrer, então sofrerei. Desfrutarei de cada segundo ao lado de Hinata e quando se cansar de mim, ao menos as lembranças de nós dois juntos me aquecerão em meio ao frio da solidão. Eu já era um homem feito, saberia lidar com um coração partido? Não saberia?

É o que eu dizia a mim mesmo, como um mantra, enquanto puxava seu corpo para mim. Sentindo o local do curativo da bala arder com o esforço. A sensação era semelhante a estar à beira de um precipício, eu tinha a opção segura de retornar. Mas não podia fazer isso, se significava me manter longe de Hinata. Escolhi me jogar e esperar que ela não me permitisse cair.

— Hinata... — declamei seu nome, quase como uma prece. Pedindo internamente que ela não deixasse mais. — Eu te amo.

Não era difícil dizer que a amava, as palavras jorravam de mim como se tivessem vida própria. Eu temia assustá-la com meu sentimento transbordando dessa forma descontrolada. Mas é que passei muito tempo reprimindo esse amor e agora eu já não conseguia mais fingir.

— Eu... — hesitou, já iria silenciá-la, quando o que eu mais desejava ouvir escapou de seus lábios: — Eu acho que também te amo, Naruto.

Destinos entrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora