Capítulo 1

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Eu simplesmente amo fazer caminhada à tarde. Mas bem no finalzinho mesmo. Quando o sol já se pôs e o céu está ficando escuro. Quando a lua já está bem visível e se é possível ver algumas estrelas. Me traz uma paz inexplicável, um refúgio do mundo real; apesar de eu continuar nele enquanto faço isso. Acho que o vento batendo no meu rosto e o aroma das flores que você encontra a cada quadra que cruza, falam comigo e paressem entender os meus problemas; coisa que nem minha psicóloga consegue às vezes.

Geralmente eu não escuto música; gosto de ouvir o som da natureza. Mas hoje em específico eu senti que precisava do meu celular e dos meus fones de ouvido, porque estou simplesmente viciada em um álbum que encontrei por acaso no Spotify. Eu, que geralmente sou difícil de agradar quando o assunto é música, me apaixonei na primeira melodia da primeira música. Foi surreal, como se feito para mim.

Em uma das trocas do álbum, a música parou e o meu celular começou a vibrar. Certo, era alguém ligando para mim. Mas quase todos que me conhecem sabem que este é o meu horário de caminhar. Um tempo que eu tiro só para mim e... ai, merda. Do que eu estou falando?

— Alô... — Desconequitei meus fones e coloquei o celular entre o ombro e a orelha para poder me abaixar e amarrar o cadarço do meu tênis.

— Margot, que bom que atendeu! — a voz de Chris soou estranha do outro lado da linha. — Eu preciso que venha até a minha casa... ham... dentro de meia hora?!

Me levantei após amarrar meu tênis e peguei o celular, afastando ele da minha boca para poder suspirar sem que ela ouvisse logo em seguida.

— Eu estou caminhando... Mas, claro, eu vou sim. — Se Chris fosse um pouco mais esforçada, ela teria notado o desapontamento na minha voz.

— Que ótimo! — sequer esperou eu dizer mais alguma coisa ou se despediu para desligar a chamada na minha cara.

É típico dela. Chris é do tipo que não se apega; ela é solta, desleixada. Tanto que não é por acaso que eu sou uma das suas duas únicas amigas. Ela não tem escrúpulo na língua e fala o que a vem na cabeça. Mas isso, às vezes ou quase sempre, se torna algo maçante e extremamente chato.

Desliguei a música e guardei meu celular no bolso. Também enrolei os meus fones de ouvido e procurei outro bolso para eles. Eu havia perdido o clima de escutar música. Seja lá o que ela quer de mim, me desanimou a fazer qualquer coisa que me alegra. E não pense que eu sou chata e egoísta. É só que estou cansada de ser o capacho dela. Sou tipo sua empregada pessoal e ela sequer me agradece por isso.

Fitei o jardim à minha frente com a feição frustrada e entristecida. Eu pensava em tudo e ao mesmo tempo em nada. Talvez a palavra boba estivesse estampada na minha testa agora. Mas foi eu quem permitiu que isso se tornasse rotineiro e se envolveu nessa bola de neve. Então a única culpada desta história sou eu mesma.

Foi quando eu me virei para continuar andando que senti o impacto de ser jogada para trás. Sem entender nada, eu fechei meus olhos, assustada. Mas então senti lambidas no meu rosto e não pude conter o meu sorriso.

— Ei, garotão. — Falei para o cachorro em cima de mim. Um cachorro extremamente grande e fofo.

O pelo dele era demasiado macio e brilhante. Ele cheirava a maracujá e eu estava fascinada em fazer carinho nele. Sem contar que pelo tamanho dele, eu teria que esperar sua boa vontade em sair de cima de mim.

— Minha nossa! Me desculpa... Eu... — Fui tirada do meu momento de fofura e levada até a pessoa dona da voz que implorava perdão.

Era um homem alto, de cabelos com cachinhos que iam até a altura de seus ombros e dono de um lindo par de olhos verdes. Mas acredite se quiser, o que chamou mais a minha atenção nele foi sua camiseta azul com flores rosas. Ela era linda de morrer.

— Não foi nada — disse rindo quando seu cachorro se afastou e eu pude me levantar. — Eu amo cachorros e sempre que isso acontece — coloquei minha mão direita ao lado da minha boca, como se eu fosse contar um segredo. —, não que aconteça com muita frequência — ele sorriu. —, eu encaro como um presságio de sorte.

— Bom, mesmo assim eu sinto muito. — Ele olhou para o cachorro que fazia xixi em um poste e eu acompanhei o seu olhar. — Charle costuma ser bonzinho e eu realmente não sei o que deu nele.

Ele voltou a olhar para mim e, agora, eu podia ver claramente o seu rosto. Com o sorriso ainda presente nele, eu notei suas covinhas. Era um homem muito bonito, não nego.

— O que eu posso fazer para te recompensar? — perguntou, dando de ombros.

— Não se preocupe com isso — me esforcei para segurar a minha risada. — Eu já disse que não foi nada.

Eu ia voltando para o meu caminho quando me lembrei de algo.

— Bom, na verdade, tem uma coisa sim — me aproximei dele a passos lentos e um pouco tímida. — Eu queria muito, mas muito mesmo, saber aonde foi que você comprou essa camiseta. — Levei minha mão à minha testa fazendo um leve drama.

Ele riu desajeitado e olhou para baixo.

— Eu não vou saber te explicar o endereço... — Fiz bico, mostrando estar triste. — Mas, se quiser, eu posso te levar lá. — Ele sorriu de lado, me pegando de surpresa.

— Eu bem que gostaria, mas tenho um compromisso agora e...

— Ah, tudo bem. A loja não está mesmo aberta a esse horário — ele olhou para Charle, colocou a mão que não segurava a coleira do cachorro no bolso e com o olhar ainda distante, continuou: — Mas amanhã ela estará. E se quiser ir, eu posso te passar o meu número, talvez...

— Ok. Eu topo. — O interrompi porque ambos nós dois compartilhamos aquele momento de tensão. — Mas só porque eu quero muito uma camiseta igual a essa. — Apontei para a que ele vestia e pisquei. — Vou indo nessa... Até amanhã.

— Espera — ele me parou antes de eu me virar. — Como iremos se eu ainda não te passei o meu número?

Ri pausadamente enquanto o meu rosto ficava extremamente vermelho.

— Que cabeça a minha... — Peguei meu celular no bolso e depois de desbloquear o entreguei para ele. — Coloque o seu número aqui, amanhã eu te chamo.

Ele assentiu e pegou o aparelho. Digitou alguns números, escreveu o seu nome que eu ainda não sabia e me devolveu o celular.

— O meu é Margot — falei lendo "Harry Styles" no contato.

— Até amanhã, Margot. Foi um prazer te conhecer!

Ele se virou e se afastou para perto de Charle, que o esperava com o rabinho balançando.

— Digo o mesmo. — Sussurrei, vendo os dois ficarem cada vez mais longe.

Sweet Creature | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora