Capítulo 5

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— Ele o quê? — Sophie soltou a bolsa que acabara de pegar em cima da mesa. Ela caiu ao lado do notebook e o impacto foi tão grande que a tela do mesmo abaixou.

Eu já estava na porta, esperando a boa vontade dela de terminar de se arrumar para irmos ao shopping almoçar e fazer umas comprar que ambas estavamos necessitando. Mas tive que sair do meu lugar para ir até ela. Como eu já disse, Sophie não é boa em lidar com as suas emoções. Eu precisei ajeitar o computador na mesa e pegar a bolsa dela, que abriu e derrubou suas chaves e carteira; porque a mesma sequer se mexia.

— Ele me deu uma camiseta da Gucci. Mas eu não quero falar sobre isso, ok? Ao menos não agora. — Fechei a bolsa depois de guardar o que havia caído e entreguei para ela, que pegou com a mão trêmula e não desviou o olhar de mim por nem um segundo sequer. — Segure forte, senão vai derrubá-la de novo.

Quando ela fechou a mão envolta da alça da bolsa, eu revirei meus olhos por ter que aguentar aquilo. Parece que quando se fica anos sem sair com um cara, mesmo que como amigos, os seus amigos começam a pegar no seu pé. Até um "oi" é motivo para serradas de olhos e sussurros entre eles. Imagina então um presente da Gucci. Acho que fiz foi arrumar problema para a minha cabeça ao contar para ela; eu devia ter falado que foi um presente da mulher do Alex, que sempre está a viajar pela Europa.

— Entre no carro e me conte, detalhe por detalhe, de como isso aconteceu! — ela suplicou quando conseguiu enfim andar para fora da casa. Eu fui logo atrás e tranquei a porta - que a despercebida da Sophie iria deixar aberta se não fosse por mim. — Eu só sei que é um carinha com quem você esbarrou durante sua caminhada rotineira que usava uma camiseta linda e te passou o número pra você comprar uma igual...

— Poxa, isso já é detalhe demais — a interrompi, parando com a mão na porta do carro. — Acho que, se você olhar bem fundo, consegue ver até as coisas que não aconteceram. — Franzi as sombrancelhas, fazendo uma careta.

— Para de ser besta, Margot! — ela bufou irritada e entrou no veículo. Fiz o mesmo. — Eu só quero saber quem ele é, pra ter certeza de que é o cara certo pra você!

— Mas eu não acho que ele seja! — joguei as palavras contra ela, que pareceu surpresa com a minha reação. — Eu estou cansada de todos me dizendo que eu tenho que encontrar o cara certo e enfim me casar para ter o meu final feliz. — Cruzei os braços e virei o rosto para a janela. — Essas coisas não existem na vida real. É idiota quem acredita.

— Não! — ela falou de uma só vez. — Não é idiota quem acredita, não porque você acha isso. — Ao ligar o carro, ela abafou seu suspiro no volante. — Tenha dó, Margot. Aquele que não citamos o nome foi um erro, e você sabe disso. Mas nem sempre erramos. Às vezes é bom arriscar e tentar a sorte. E às vezes sequer precisa tentar. Ela já está lá... pronta pra você, te esperando.

Eu não a respondi, apenas encostei minha cabeça no banco e fechei meus olhos, entrando assim em uma conversa séria comigo mesma.

Em partes ela está certa. Eu tenho medo de me relacionar com outra pessoa por causa dele. E com ele eu quero dizer o meu primeiro e único namorado. Nos conhecemos no pátio da faculdade em que eu estudava. Ele nem estudava lá também, estava apenas visitando um amigo. Conversamos a tarde toda e quando a noite caiu, ele me convidou para ir a uma festa em sua faculdade. Eu acabei indo, e, garanto, se eu soubesse que naquela noite eu ia começar a sentir coisas por ele e que isso resultaria em uma relação de dois anos e meio de pura toxicidade, eu teria ficado no meu quarto, vendo um filme de pijamas e me enchendo de porcarias.

Mas não tem como prever as coisas. Elas simplesmente acontecem.

— O nome dele é Harry... Harry... — Ponderei sobre contar seu sobrenome. Sophie não ia perder tempo e logo pesquisaria seu nome no Instagram, coisa que nem mesmo eu fiz ainda. — Harry alguma coisa.

— Hum... Que estranho. — Ela fez bico enquanto mantinha os olhos fixos na rua à sua frente.

— O quê? — perguntei, tentando ver se era alguma coisa fora do carro.

— Nada... É só que... Tem uma banda da cidade — ela começou, dando uma leve checada no celular. — Um dos integrantes se chama Harry e, pela sua descrição, coincide bastante com ele. Mas... — Ela riu. — Até parece que seria ele. Harry se tornou reservado de uns anos pra cá. Lógico que você não sabe quem ele é, porque parece que vive em uma caverna!

— Ah, me dê um tempo! Você sabe que eu nunca fui de ser fã de pessoas... — Comentei.

— Sim, eu sei. — Ela entrou na rua do shopping e antes de achar uma vaga para estacionar, olhou para mim. — Por isso digo que não é ele. Não mesmo.

(...)

— Vestido? Neste frio? — perguntei, boquiaberta. — Nem ferrando!

Sophie revirou os olhos, outra vez, para depois voltar para a sessão de roupas pretas. Já era a quinta peça que ela me mostrava e eu ainda não havia gostado de nenhuma. Na verdade, eu meio que nem queria comprar uma roupa nova para usar hoje à noite. Pensava em ir com a camiseta que Harry me deu, uma calça jeans preta e uma jaqueta de couro por cima. E, claro, meu coturno.

— Tudo bem... — Eu estava passando os olhos por entre umas camisetas estampadas com frutas quando escutei Sophie falar atrás de mim. — Pode não fazer o seu estilo, mas olha isso...

Me virei aos poucos, tentando não esbarrar nos cabides e acabar por derrubar as roupas da loja todas em cima de mim.

— Mamamia! — exclamei com os olhos arregalados ao ver a jaqueta que Sophie segurava.

(...)

Compramos dois lanches e os comemos no carro. O tempo estava passando depressa e logo já seria de noite, o que me daria poucas horas até eu me encontrar com Harry e os meus amigos no bar. A cada vez que eu pensava nisso, minha barriga gelava mais. E foi quando Sophie finalmente decidiu a qual bar iríamos e eu já tinha o endereço para mandar para ele, que achei que iria desmaiar alí mesmo, no estacionamento.

— Eu não quero... Eu... — Resmuguei com os dedos parados na tela do meu celular, hesitando em clicar na conversa com o Harry.

Ela deu uma leve empurrada no meu ombro e tomou o celular das minhas mãos.

— Ei! — repreendi a atitude sem graça que ela tomara.

— Ei uma ova! — retrucou. — Se você demorar mais um pouco, ele vai pensar que você desistiu de convidá-lo e irá fazer outros planos para esta noite, baby.

— Se é que ele já não tem, né... — Me virei de uma vez e joguei minhas costas com tudo no banco, deixando a angústia presa na minha garganta sair em forma de suspiro.

— Ai, cala a boquinha pra eu gostar de você, Margot! — Sophie provocou.

Deixei escapar uma risada amarga e logo ela me lançou um olhar de: Não, você não sabe mais do que eu! E talvez eu não saiba mesmo. Mas algumas vezes é bom não saber, assim você se poupa de problemas maiores.

Querido Harry... — Ela começou lendo em voz alta enquanto digitava.

— Mande "querido Harry" e sinta sua alma se esvair do seu corpo.

Ela riu.

Boa tarde, Harry! Espero que ainda esteja afim de ir ao bar! Vou te mandar o endereço e nos encontramos na entrada às 20:30.

— 20:30? Não é muito tarde? — questionei.

— Muito tarde pra quem? Minha sobrinha de sete anos?

Balancei a cabeça tentando entender como ela sempre tem uma resposta na ponta da língua.

E, no fundo, eu até que gosto disso.

Sweet Creature | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora