8: Ismália e a Festa da Coxinha

259 77 99
                                    

A coisa que eu mais tinha gostado do meu aniversário, além da comida - logicamente - foi o meu vestido

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A coisa que eu mais tinha gostado do meu aniversário, além da comida - logicamente - foi o meu vestido.

Depois de insistir muito, mamãe abriu mão do que tinha escolhido para mim e deixou que esse detalhe ficasse por minha conta.

A veste sem alças tinha o tecido apertado de forma inacreditável no busto, o que ressaltava minha falta de curvas para todos que quisessem ver. Quando percebi esse detalhe em frente ao espelho, senti a vontade quase irreprimível de trocar de roupa. Meu estômago borbulhou e, instantaneamente, minhas orbes vagaram para o guarda-roupas, onde as peças mais compostas e largas se refugiavam na sua proteção de madeira. Mas, ao invés de me entregar a essa velha insegurança como quase sempre fazia, fiz a anotação mental que daquela vez seria diferente.

Mostrei um sorriso quase cínico ao espelho, ao contrário do que aquele bastardo provavelmente esperava. Então, dei as costas para a superfície refletiva e caminhei para fora do quarto, a saia vermelha do vestido deslizando no ar sempre que eu andava. Era engraçado olhar para baixo e ver o tecido dançar para frente e para trás, revelando meu par de tênis no processo.

Saltos e Ismália era uma combinação que nunca dava certo. Aprendi isso da pior forma possível, depois de torcer o tornozelo por escorregar sobre um salto agulha na formatura do irmão do Afonso, e, desde então, fujo desses monstros como a cruz foge do diabo - ou seria o contrário?.

- Ajeite a postura. - foi a primeira coisa que mamãe disse, assim que me viu despontar na sala de estar.

Com um suspiro, forcei a coluna a ficar ereta e mirei suas orbes castanhas perfeitamente ressaltadas pela sombra azul, que criava um contraste perfeito com o tom escuro da pele. As mechas negras estavam presas em um coque tão apertado no topo da cabeça que me perguntei como não estava fazendo caretas de dor.

Um sorriso sublime enfeitou os lábios cobertos do batom vinho.

- Está bonita, mas se tivesse escolhido o vestido que eu te dei de presente, teria ficado ainda melhor. - disse, e eu resisti aí impulso de bufar. - Sabe quem está ali? - questionou, mais baixo, seu olhar vagando para além das metades abertas da porta de vidro que dava para o jardim, onde uma orgia de gente tinha se formado em meio a decoração.

Balancei a cabeça, negando.

- É o filho dos Oliveira! Aquele que você teve um casinho, o João! - falou, o sorriso em seus lábios crescendo ainda mais.

Eu sabia exatamente o porquê de mamãe estar tão interessada.

A família Oliveira era, provavelmente, a mais famosa da região. Não existia um par de orelhas que nunca tivesse ouvido falar sobre eles, já que eram donos de mais da metade da cidade graças à sua construtora que existia há mais tempo do que a minha avó era viva.

Quando contei à Rosana que estava gostando do filho mais novo dos Oliveira e que era recíproco, minha digníssima mãe ficou exultante. Durante o pequeno espaço de tempo que estive com João, ela foi a mulher mais feliz do mundo. Incentivou casamento e tudo, não por estar interessada na fortuna da família dele, mas por eu, finalmente, parecer desencanar do Afonso em prol de um "garoto melhor pra mim", já que jurava que eu era apaixonada pelo meu melhor amigo.

Ismália, Afonso e o Rato Devorador de CoxinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora