9.

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     Caminho lado a lado com o príncipe. O sol está se ponto atrás de nós e com isso, pinta o céu em um tom alaranjado lindo. É tão lindo que olho para trás por um tempo, deixando que Theodore nos guie pelas árvores. Quando estava no Convento, eu e Grace nos sentavamos para ver o por do sol sempre que podíamos. Ela costumava brincar e dizer que eu estaria em breve vendo o sol refletir minha coroa. Não sei se está refletindo a tiara dourada em minha cabeça.

     Eu olho para o príncipe refletido pela luz alaranjada. Não posso dizer que o odeio, na verdade, estou começando a simpatizar com ele... a gostar dele como companhia, mesmo que eu fale a maior parte do tempo.

— Então, nós temos mesmo que voltar? — Eu pergunto em tom de brincadeira e chuto um galho com um dos meus pés. Theodore olha para mim.

— A senhorita deseja fazer alguma coisa? Não está cansada? Atiramos por horas! — Ele diz, surpreso e analisa meu rosto.

     Nestes momentos, eu fantasio que podemos nos apaixonar no futuro, com mais tempo. Eu me agarro a esta esperança sabendo que posso ficar terrivelmente frustrada.

— Estou adiando o máximo que posso uma redação sobre uma solução para a situação com os rebeldes. — Eu confesso e resolvo perguntar de uma vez: — Qual é a verdadeira situação, afinal?

     O príncipe para de andar e me encara. Ele tem uma expressão pensativa no rosto. Hum. É tão secreto assim? Achei que todos sabiam o que está se passando pelo Reino. É evidente que estou enganada e já devia esperar por isso. Silvia está tentando colocar na minha cabeça que todos guardam segredos, sem exceções. Principalmente a Realeza.

— Se vamos falar disso, preciso de vinho. — Theodore conclui. — Vamos, vou levá-la até a adega. Não tenho permissão para ficar com você até tarde.

    Eu me resigno. Achei que eu e ele tivéssemos passe livre para fazermos o que bem entendessemos, já que vamos nos casar! Deixo que me guie de volta para o jardim em silêncio. Estou apenas aproveitando o frescor da brisa geladinha que passa por nós, admirando as flores diferentes e coloridas. Estou oficialmente encantada com este jardim. É meu lugar favorito do Palácio e só guardo boas memórias dele.

    Theodore me analisa algumas vezes. Eu noto pelo canto do olho quando o faz, mas não digo nada. Nem mesmo uma piadinha. Como disse, estou muito tranquila e quero continuar assim. Ele parece se controlar para não puxar um assunto qualquer. Hum. Bom saber que já estou contaminando o príncipe com meu falatório imparável.

    As freiras ficavam malucas comigo. Elas não me davam tratamento especial apesar de saberem que eu era um caso especial. O Reino todo sabia que eu era a escolhida para ser a futura esposa de Theodore. Assim como o Reino todo sabia — erradamente — que eu havia sido enviada ao Convento para "melhorar minha classe". Elas definitivamente não esperavam uma menina tão cheia de vida e de pensamentos como eu.

    Volto ao mundo real porque Theodore solta meu braço e o vazio se instala no lugar. Percebo que estava me apoiando bastante nele. Eu olho para cima e vislumbro a estrutura toda feita de vidro. É como uma pequena casa feita de vidro. Sei que é apenas a adega, mas não duvido que muitas famílias do Reino vivam em casas menores que esta. Theo abre as portas largas de madeira e me convida a entrar.

— Você calada me assusta. — Ele pontua após fechar as portas atrás de si.

    Eu olho para a adega. Uau. Estou certa de que minha boca se abre em espanto. Há muitas garrafas e muitos barris aqui. As estantes sobem e devem ter, pelo menos, uns três metros. Tem vinho para umas três gerações aqui dentro. E sabe-se lá quantos anos algumas dessas garrafas tem. Eu viro para o príncipe e sorrio.

A Rosa DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora