39.

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— Um jantar de noivado? — Repito as mesmas palavras que Lucy acabara de dizer. Ela confirma com a cabeça, as sobrancelhas se unindo em desconfiança.

— Recebi ordens de prepara-la para um jantar de noivado esta noite. Parece que o príncipe Theodore queria surpreende-la. — Lucy fala animada e eu murcho na cadeira.

— Estamos noivos desde que tenho dez anos de idade. Isso é tão desnecessário. — Resmungo e apoio meu rosto nas mãos.

     Um jantar de noivado? Tipo... encarar toda a Corte com tudo que tenho entalado na minha garganta? Hum... isso não vai dar certo. Minha vida ainda está de cabeça para baixo e, francamente, não sei se algum dia retornará ao normal.

— Olha... acho que será bom para a senhorita se divertir um pouco. — Lucy recomeça usando um tom de voz calmo. Levanto a cabeça, curiosa em saber aonde ela quer chegar. — A senhorita tem estado... muito triste. E calada. Tem sido... horrível. — Ela arfa e joga as mãos para cima. — Sinto muito, eu só...

     Suas bochechas coram e eu a encaro, sem dizer nada. Lucy está certa, afinal. Eu passei a semana inteira num constante estado de silêncio absoluto, apenas observando. Os jantares calmos apenas contribuíram para minha quietude. Durante as aulas, eu só ouvia Silvia falar e falar, e em nenhum momento ela mandava que eu comentasse. Talvez ela tenha sentido que uma nuvem escura pairava sobre minha cabeça, como se estivesse sempre chovendo e trovejando.

      É sufocante! Estar dentro deste palácio agora que sei tudo é sufocante! Eu tenho vontade de chorar o tempo todo e há um vazio dentro do meu peito que não sei como preencher. Eu me olho no espelho, usando a tiara e um vestido bonito, e não me reconheço mais.

— Sinto muito. Minha cabeça só está muito cheia, Lucy. Eu não... não imaginava que meu jeito estava influenciando a outros. — Me desculpo, mesmo que não veja melhora. Na verdade, daqui um mês, partirei.

— Não. Está tudo bem. Eu só... senti falta da tagarela, sabe. — Ela solta uma risadinha baixa. — Seja o que for, é sempre melhor colocar para fora. Segredos apodrecem o coração.

      Ugh. Ela nem imagina como é o coração do Rei, então.

***

      O vestido dourado que Lucy escolheu é bonito. Suas mangas são compridas, começam justas e se alargam até chegar aos pulsos. O decote é um tomara que caia com o formato de coração, deixando meu colo a mostra. O tecido é brilhoso, como pontinhos de luz, em um dourado degradê, indo do mais claro ao mais escuro, até chegar aos meus pés. Meus cabelos estão apenas meio presos, com a parte da frente repuxada para trás e cachos soltos no resto do cabelo. A coroa reluz e pesa na minha cabeça, e só consigo imaginar que a Coroa que está na cabeça de Albert Vetturius será minha. Logo.

       Quase caí para trás quando Lucy disse que meus pais estavam no Palácio para o jantar. Meus pais. Não posso olhar para eles. Não sei nem mais o que sentir por eles. Lucy disse que Theo estava empenhado em fazer ser uma noite mágica para mim — ele nem faz ideia.

      É estranho ver Theodore. Ele chegou mais cedo, mas não foi ao meu quarto falar comigo. Eu preferia que nosso encontro fosse a sós, ou será que ele esqueceu que viajou após uma briga entre nós? E pior, que ele escondeu quem eu era, e duvido muito que planejava me contar. Gostaria de ter essa conversa com ele antes, a sós. Onde ele poderia mentir e eu acreditaria porque não consigo ser firme diante de seus olhos caramelo. Mas, não. Nosso encontro é na Sala de jantar, diante toda a Corte que já está sentada a mesa.

A Rosa DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora