16.

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     Eu batuco a mesa com os meu dedos impacientemente. Não estou preocupada com o atraso de Theo, na verdade, ainda faltam alguns minutos para dar a suposta uma hora que pedi. Eu estou inquieta por causa da situação com minha mãe... e tantas outras coisas. Argh! Como se eu não tivesse problemas maiores para me preocupar, como: os rebeldes do Reino! Serei Rainha e ainda estou me preocupando com coisas de família. Mas eu... eu não posso evitar. Ainda não sou Rainha, de qualquer jeito. Prefiro lidar com estes problemas do que com os que envolvem o Reino, e que não posso controlar.

     Paro de mexer os dedos e olho em volta. A cozinha é imensa! Muito, muito maior do que imaginei que seria. Eu me questiono quantas pessoas poderiam morar aqui sem problema algum de espaço. Bem, morar eu não sei, mas trabalhar... há dezenas delas. Muitas pessoas fazem seus serviços como formiguinhas e tem tanta coisa sendo preparada ao mesmo tempo que não sei por qual cheiro permitir minha barriga roncar primeiro. Meus olhos caem sobre uma criada, que está jogando uma torta de limão no lixo.

— Não! — Eu grito e minha voz ecoa por cima dos barulhos de panelas se batendo e máquinas trabalhando.

    Todos os olhos se viram para mim. Alguns só notam minha presença agora e ficam completamente envergonhados, ou então meio bravos. Ah, céus! Eu estraguei totalmente meu disfarce... quer dizer... a chefe da cozinha me deixou ficar aqui.

— Não jogue fora! Me dê! Estou morrendo de fome, não estive no almoço hoje! — Eu digo soando calma e confiante, olhando para a criada. Ela me encara com a boca aberta em surpresa, segurando a torta bem acima do lixo, como se estivesse paralisada.

— Mas... mas... — A moça tenta buscar as palavras, então endireita a postura e traz a torta para a altura do peito. — Minha senhora, a massa queimou um pouco nas beiradas e não está digna. — Ela explica envergonhada.

     Não é para menos. Agora, todos os olhos estão nela. Todos nós sabemos o quanto criados podem ser fofoqueiros, não é mesmo? Mas eles são meus maiores aliados e amigos nessa história. São pessoas como eu. Ela também acabou de assumir que cometeu um erro. Ah! Eu não queria colocá-la nessa posição!

— Bem... — Saio de onde estou, em frente a uma grande mesa de madeira, e caminho até ela, parando em sua frente e estendendo as mãos. — Ficarei mais do que feliz de comer esta torta agora mesmo. Só entre nós, eu gosto quando as coisas passam um pouco do ponto. — Digo, com um sorriso nos lábios e pisco com meu olho direito para ela.

     Ela parece estupefata com toda essa atenção que está recebendo. Eu pego o tabuleiro redondo de suas mãos e sorrio para ela mais uma vez. A jovem sorri de volta, um pouco mais confiante, então, faz uma leve reverência e volta ao trabalho. Eu volto a mesa e coloco o tabuleiro nela. Antes que eu peça, já há talheres e pratos dispostos especialmente para mim. Dispenso e pego apenas um garfo e dou uma generosa garfada na torta. Solto um suspiro. Está divina.

— Isso está muito bom! — Eu digo, com a boca um pouco cheia ainda. Escuto risadinhas de alívio e a cozinha volta a funcionar como antes. Todos satisfeitos com o desenrolar da situação.

     Eu sento na mesa, ao lado da torta de limão e a como com garfadas generosas. Minha mãe me mataria se visse isso! Ah, como estou torcendo para que ela veja! Uma moleca! Nada parecida como uma dama sentada na mesa da cozinha comendo diretamente do tabuleiro! É dez vezes mais gostoso do que comer durante o jantar.

— Então... perdi muita coisa? — O príncipe surge, encostado no batente da porta, com uma expressão admirada e de quem, com certeza, assistiu toda a cena.

    Dou de ombros e sorrio, um convite para que ele se aproxime, e é o que ele faz. Eu pego o tabuleiro com minhas mãos e o repouso em meu colo, encima do vestido lindo azul. Espero que não caia nada nele.

A Rosa DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora