A Rosa Dourada

31.

— Essa foi a pior ideia da história. — É o que Lucy diz quando saio do banheiro com o vestido preto midi de mangas curtas, o tradicional uniforme das criadas.

— Não. Isto foi genial. — Retruco e vou até o espelho, parando na frente dele.

    Meus cabelos estão presos em um coque baixo e não há tiaras em minha cabeça. Eu pareço incrivelmente normal, mas não uma criada. Argh! Espero que Lucy tenha se convencido que estou me passando por uma criada e não volte atrás em me levar junto com ela ao Comércio. Dou uma rodadinha em frente ao espelho. É meu rosto. Meu rosto é muito famoso, muito conhecido. Desfaço o coque, deixando que as mechas caiam por meus ombros e pelo meu rosto. Com os cabelos soltos consigo esconder meu rosto e passar despercebida.

— Certo. Vamos fingir que você está disfarçada, Hyacinth... — Lucy diz dando uma risadinha. Solto um suspiro conformada e dou de ombros.

    Passei a noite acordada. Estou certa de que começarei a colher as consequências de tantas noites sem dormir em breve, mas não posso me dar o luxo de passar oito horas sem pensar! Eu tenho um plano para hoje a noite e preciso fazer com que os rebeldes concordem. Nada pode dar errado e não podem haver furos. É arriscado? Demais, e posso ter perdido totalmente a noção, mas preciso tentar.

    O trajeto é incrivelmente rápido, apesar de apertado, já que dividimos a carruagem com mais três Guardas, sentados a nossa frente o caminho inteiro. Eu tive, pelo menos, duas crises de riso só por olhar para o rosto deles. Quando meus pés tocam ao chão, eles concordam em nos seguir de longe, sem chamar atenção desnecessária — e acredite, eles conseguem. Eles se camuflam de uma maneira que parecem ficar invisíveis, e então, do nada, eles ressurgem. Assustador. E muito, muito ruim quando você quer despista-los.

     Diferente daquele sábado, a feira é mais calma nesta terça-feira. Ainda há uma movimentação pelas barracas, mas não parece que o povo inteiro está aqui. Eu caminho lado a lado com Lucy, tentando manter minha cabeça baixa e sem fazer contato visual com alguém. Como vou "me perder" de Lucy se nem há uma multidão aqui? Argh! Isso esta se tornando mais difícil do que eu pensei. Observo as barracas uma por uma, procurando a que seja entre peixes e flores. Não tinha um lugar melhor não? Lucy também evita o contato visual com as pessoas, mas ela está em vantagem porque conhece o comércio como a palma da mão. Seu rosto é conhecido por ser minha única dama de companhia e por visitar bastante aqui. É óbvio que ela será reconhecida, sou eu quem não pode ser.

    Ela para em uma barraca que vende laços — nada de peixes e flores. Então para em uma barraca que vende aviamentos, como linhas e botões, em outro corredor — e nada de peixes e flores. Eu solto um suspiro alto desanimado. Ele só estava brincando comigo, não é? Não há nada disso aqui. Não, não posso desistir. Só vou me dar por vencida quando rodar todo o comércio e olhar barraca por barraca. Não é hora de perder as esperanças, tem pessoas contando comigo — mesmo que não saibam.

     Eu comentei por alto com Theodore enquanto estávamos sentados na grama a beira do lago, sobre Jasmine. Ele me disse que o Rei estava furioso com ela por ser uma rebelde também e que estava a um triz de fazê-la de exemplo como o noivo. Tive de me esforçar para engolir em seco e balançar a cabeça e continuar a perguntar sobre Kilian. Tudo que Theo me disse é que tinha sido melhor para mim ter saído e para Jasmine também. O príncipe deixou escapar, ou simplesmente falou porque quis, que Jazz estava com Kilian em uma das celas. Eu devo ter feito uma careta muito feia no momento porque ele apenas balançou a cabeça e sussurrou que sabia de forma triste. Ela não está lá porque o Rei é um romântico e quer o casal junto, ela está presa. E é por isso que vou achar a barraca entre peixes e flores.

— Hum, Lucy... — Falo e alcanço os ombros da loira a minha frente. Ela para de andar e se vira para mim. — Posso dar uma volta enquanto você compra o que precisa? Prometo não arrumar encrenca. — É.