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     Balanço meus próprios cabelos molhados em frente ao espelho como um cachorrinho tentando se secar. Mal posso acreditar que sábado chegou e sobrevivi a uma semana inteira, a vida quase voltando ao normal. Quase.

     Não estranhei quando descobri que meus pais foram embora assim que o açoitamento terminou sem me avisar. Acho que não teriam nada para falar e  provavelmente queriam minha cabeça naquele momento, então... foi melhor para todos sua partida. Silvia parecia a Sílvia de sempre, posturada e fria, como se a Festividade e as últimas duas semanas nunca tivessem acontecido. Mas eu não podia culpa-la por querer fingir que nunca aconteceu, não quando Jazz se revelou uma rebelde infiltrada no Palácio. Na verdade, agradeci por Silvia simplesmente ter seguido em frente com as aulas porque era uma distração e um lugar neutro, onde ninguém apontava meus erros.

     A imprensa já fazia isso por todos. Saí na capa da revista rindo ao lado de Jazz de alguma coisa. A legenda era: Princesa rebelde? Ou enganada e inocente? Tive vontade de queimar o jornal, mas me contive em dar descarga no vaso, igual fiz com o bilhete de Oscar. Quem eles eram para dizer algo assim? A imprensa. É praticamente o dever deles dizer algo assim! Graças a essa capa, tive que sustentar a pena de Theo na quinta e todas suas palavras bonitas sobre quanto confiava em mim e como era um ultraje que me chamassem de Princesa Rebelde, quando eu era tão inocente. A cada palavra bonita, eu quase implorava por seu perdão. Com certeza estou mais para princesa rebelde do que inocente.

     Suspiro em frente ao espelho. Não tenho forças para sair nesse sábado e pretendo aproveitar a folga dentro do quarto, ao lado de um bom e empolgante livro, usando calças largas de algodão e um suéter rosa, roupas que trouxe de casa e apenas Lucy verá. Ela não está aqui agora porque foi buscar coisas para fazer durante nosso dia "N": dia Nada. Lucy claramente não entende o significado de fazer nada.

     Ouço batidas leves na porta e franzo o cenho, indo até lá. Por que Lucy está batendo na porta se pode simplesmente entrar quando quiser? Já estou abrindo a boca para dizer exatamente isso enquanto abro a porta, mas substituo dando espaço a um gritinho esganiçado que é coberto por uma mão grande enquanto outra me empurra delicadamente um passo para trás, fechando a porta atrás de si. Mordo sua mão sem pensar duas vezes. Ele retira a mão no mesmo momento e eu me afasto, adquirindo posição de ataque.

— O que você está fazendo aqui?! — Rosno repleta de ódio, sentindo minhas bochechas arderem.

— Céus, princesa! Quase arrancou um dedo meu! — Arin diz enquanto balança a mão no ar e a encara, conferindo se todos os dedos estão no lugar.

     Pelos Céus! Ele se vira para mim, me encarando com os olhos grandes violetas e com um sorriso no canto dos lábios. Estou começando a achar que é a forma natural deles. Estreito os olhos para analisá-lo. Arin está vestindo um uniforme de guarda, a calça branca apertada e o sobretudo vermelho, e cai estupidamente bem nele.

— O que você está fazendo aqui? — Abro uma distância enorme entre nós dois e fico ao lado da cama, meu pé encostado na caixa do arco. Se este garoto tentar qualquer coisa, juro por Deus, atirarei nele.

— Checando como você está. — Ele dá de ombros e assume a postura de "ei, isso é tudo uma brincadeira." Solto uma risada irônica. — É sério. Também vim te atualizar sobre o casal.

     Baixo a guarda só um pouco, mas não me aproximo nem pego o arco. A curiosidade revira meu estômago.

— Você é maluco? — Explodo. — Se alguém te ver aqui dentro, eu juro que vou dizer que você ia me atacar. — Ameaço, forçando o tom mais firme que consigo. Arin abre um sorriso imenso, que faz covinhas irritantes aparecerem nas bochechas.

A Rosa DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora