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      Os rebeldes são espertos em usar a Floresta como sua principal rota para chegar no Palácio. Nós circulamos o Castelo pela Floresta, passamos pelo lago, até chegarmos em uma rua de pedras. Minhas pernas já estavam me matando e avisando que não pratico exercícios físicos e não costumo andar longas distâncias. É claro que não disse nada a Arin, ou teria que aguentar seus comentários zombeteiros. Estou segurando minha língua dentro da boca e contendo ao máximo minha tagarelice. Não quero que Arin pense que somos amigos nem nada. Principalmente depois que ele quase me nocauteou!

— Tudo bem aí? — Ele pergunta por cima dos ombros, já que está um pouco mais a minha frente. Dou de ombros e continuo muda. — Você não pode estar chateada ainda pelo... pequeno incidente, princesa. Você me socou! — Ele resmunga como uma criança.

— Você me atacou primeiro! — Eu respondo em grunhido que é respondido com uma gargalhada. Argh! — Tanto faz. Se fizer isso mais uma vez, atiro uma flecha em você. — Ameaço.

— Não posso prometer nada, princesa, tenho que ficar alerta. — Ele responde em um tom de voz normal, enquanto diminui o passo para caminhar ao meu lado.

— Então... qual é a sua? — Pergunto.

— Não acha que está meio cedo para descobrir quem eu sou? — Sua resposta é outra pergunta.

— Não. Você sabe tudo sobre mim. — Qualquer um sabe tudo sobre mim. Minha vida é um livro aberto, com erros e acertos impressos em manchetes a qualquer um.

— Pelo contrário... eu não sei nada sobre você. Você você. — Ele enfatiza tanto a palavra "você" que por um segundo fico confusa.

     É. Acho que Arin está certo. As pessoas sabem quem é a capa da Hyacinth. A futura esposa de Theodore, a bela dama. Mas elas não me conhecem realmente. E me pergunto se eu me conheço.

     Eu volto a ficar muda enquanto andamos apressados lado a lado. Eu poderia facilmente parar e apenas observar a rua de pedras. Nunca estive aqui, essa é a distância mais longa que já devo ter andando com meus próprios pés. Passei três anos confinada no Convento, e antes disso confinada a minha própria casa, raros eram os momentos que íamos ao Palácio ou a qualquer outro lugar. Estive escondida a minha vida inteira por causa do meu título.

     Andamos em linha reta até chegarmos a um beco sem saída, onde um cavalo amarrado esperava por nós. Faço uma careta. Só há um cavalo e duas pessoas, e mesmo que ele tenha outro, não sou a melhor pessoa para andar a cavalo de forma rápida. Arin é prático enquanto desamarra o cavalo e monta na cela. Ele estende a mão para mim, e por alguns segundos, apenas encaro.

— O caminho não é tão perto para irmos a pé, princesa. Vamos lá. — Ele diz com a voz calma e suave, enquanto mantém a mão estendida.

      Eu vim até aqui, não posso desistir mais. Eu pego sua mão com a minha e dou impulso no chão. Se Arin sofre para me levantar com apenas uma mão até às costas do cavalo, não demonstra. E em um pulo, estou sentada atrás dele, minhas pernas pressionando as suas de leve. Mantenho meus braços caídos nas laterais do meu corpo, o que leva Arin a rir de leve.

— Segure-se, princesa. Teremos que ser rápidos. — É um aviso, não uma ordem. Mas o que eu poderia fazer? Cruzar os braços e me recusar a segurar nele, e então despencar do cavalo?

     Envolvo sua cintura com meus braços, quase encostando meu nariz em sua nuca. Ele entende isso como um incentivo para que prossiga, e começa a cavalgar. O cavalo parece amar ser direcionado por Arin, porque dentre poucos minutos, já está correndo mais rápido que uma carruagem.

     Fico enjoada na hora por tentar olhar a paisagem, que passa rapidamente por nós. Mal consegui ver algumas construções e casas no caminho. Abaixo a cabeça e encosto minha testa nas costas de Arin, enquanto seguro firmemente sua cintura. O cavalo parece quase flutuar, dando longas galopadas rápidas, sem quase tocar o chão.

A Rosa DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora