21.

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— A senhorita está bem? — A pergunta vem de uma voz forte e um tanto brava e me tira do transe em que eu me encontrava, encarando a imensidão da cozinha e todas aquelas pessoas trabalhando.

       Estava pensando no dia de ontem. Bem, na briguinha de ontem, para ser mais exato. Não consigo tirar as palavras de Theodore do meu coração, elas continuem retumbando dentro de mim e mostrando que ele não me entende, não me aceita e provavelmente não me apoiará em tudo. Talvez eu só esteja sendo injusta e colocando muita pressão nele. Talvez. Apesar desse pequeno incidente, o resto do nosso dia foi muito agradável. Ele me fez rir diversas vezes enquanto atiravamos flechas no nosso circuito — aquele que ele montou especialmente para mim. Ele também me fez suspirar enquanto tocava minha pele e me beijava. Theodore faz com que eu sinta muitas coisas, de fato. Inclusive a dúvida.

        Deixo esse pensamento de lado e jogo Theodore e nosso relacionamento para a gaveta de minha mente, para que eu possa focar no que vim fazer aqui: falar com Jasmine.

— Sim, sim... Estou ótima! — Respondo com um sorriso polido e doce ao criado que me pergunta. — Eu gostaria de falar com a Jasmine. — Peço de uma vez. Meu tempo é curto e eles estão todos correndo com o almoço, então não quero atrasar ninguém.

— Certo. — O rapaz estreita os olhos para mim, mas acaba por dar de ombros e se virar para trás. — Ei, Jazz! Lady Hyacinth quer vê-la! — Ele eleva o tom de voz, enquanto a busca no meio daquela multidão. Então se vira para mim novamente. — Ela é minha noiva.

       Ele tem um sorriso bobo quando menciona que Jasmine é sua noiva. Olhando bem para ele agora, posso ver o quanto ele é bonito. Sua aparência é polida e contrasta com sua voz forte e brava do início. O rapaz tem olhos verdes claros, beirando o cinza, enquanto a pele branca faz com que seu cabelo quase vermelho chame atenção demais. Ele poderia, facilmente, ser um irmão perdido de Grace.

— Acredito que seja um homem de sorte. — Eu digo sorrindo, e ele confirma com a cabeça, no mesmo momento que Jasmine vem até nós com uma expressão duvidosa.

       Jasmine é mais alta do que eu, e tem cabelos curtos, que batem na altura do queixo, pretos escorridos. Em mim, ficaria horrível, mas nela se emoldura perfeitamente ao rosto e aos olhos ligeiramente puxados. Ela provavelmente tem alguma descendência proveniente no leste, da Nova Ásia. Se ela se incomoda com o tempo que passo olhando para ela, enquanto se aproxima, não comenta.

— Lady Hyacinth. — Ela me cumprimenta e faz uma reverência. Ah, céus! Isso é desnecessário. — Devo lhe avisar que nenhuma torta foi queimada hoje. Em que posso lhe ajudar?

       Solto uma gargalhada alta, beirando a histeria, porque não estava preparada para a leveza que sua piada traria. Foi um bom dia, sem dúvidas. Jasmine também tem uma expressão leve no rosto e dispensa seu noivo com uma leve inclinada de cabeça. Lucy me disse que os criados geralmente casavam entre si, mas que ela não tinha tempo para isso.

— Bem... preciso mesmo de sua ajuda, mas não será para queimar tortas. — Eu começo e indico que ela me siga.

       A cozinha é barulhenta demais. São panelas batendo, talheres caindo ao chão e vozes brigando constantemente com os pobres criados. É agoniante de ver e presenciar. E o que tenho para falar, exige que Jasmine esteja concentrada e em paz para entender meu pedido.

       Ela entende meu recado e me segue lentamente a ante sala que antecede a cozinha. É apenas uma saleta sem decorações, com as paredes pintadas em tom de creme, como um buraco inútil. O Palácio é cheio destes ambientes sem função. Consequência de se viver em uma construção de anos e anos de idade.

A Rosa DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora