14.

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     Suspiro devagar e levemente. Meu coração está mais leve, sem dúvidas, e coloquei Kile de lado. Serei forte por ele como me pediu, mas não deixarei de procurá-lo. Preciso saber que meu irmão está bem e ter certeza de que isso não vai mudar. Mas por enquanto, não posso fazer nada além de torcer por ele.

— Já lhe disse que a senhorita me assusta quando está muito calada? — Theodore diz e viro meu rosto para ele, sorrindo e dou de ombros.

    Nós ficamos por mais alguns minutos abraçados na cama, calados, enquanto eu me acalmava — como se fosse possível. Eu já não estava mais nervosa por Kile e, sim por sua proximidade. Pareciamos tão íntimos daquele jeito. Talvez... talvez passar o resto da minha vida com ele não será algo ruim.

— Estou muito concentrada criando a melhor obra de arte que verá em sua vida. — Respondo e pisco o olho esquerdo para ele como uma brincadeira.

     Depois que me acalmei, Theodore atendeu ao meu pedido de pintar. Ele me trouxe a aquele mesmo lugar onde eu e Atlas havíamos o encontrado no outro dia. E tudo já estava preparado. Os quadros, as tintas e os pincéis perfeitamente posicionados na grama curta e fofa, junto a dois banquinhos — que descartei para sentar na grama.

     O sol aquece minha pele na medida certa, e a brisa suave e gelada equilibra a temperatura. Ah! É perfeito. Não há nenhuma outra palavra para descrever o momento.

— Então... você sempre gostou de pintar? — Eu pergunto e vejo o príncipe me olhar por detrás do cavalete. O que será que ele está pintando?

    Eu estou pintando o príncipe! Quer dizer, vai render boas gargalhadas se seguir conforme o plano porque descobri que sou péssima nisto! Tenho certeza que esbarrei o pincel azul na minha bochecha e devo estar manchada, além do meu vestido e da grama ao redor do quadro. E, bem, não sou a mais talentosa desenhando uma pessoa. Mesmo assim, sigo com o plano.

— Ahn... sim. Mas não é nada demais, é apenas um hobby. — Ele desconversa e volta a olhar para o próprio quadro.

— Você tem um talento imenso, Theo. Não devia esconder isso... — Eu comento e suspiro. O príncipe dá de ombros e vejo suas bochechas corarem um pouco. — Você tem problemas com elogios, é?! — Eu gargalho baixinho e estreito os olhos para ele.

— Não, eu só... — Ele me olha e suspira. — Não sei reagir quando eles são verdadeiros. — Ele solta e... acho que nunca o vi tão aberto e exposto. Eu sorrio para ele.

    Entendo sua resposta. Theodore cresceu bajulado por todos em sua vida. Até pelas pessoas que não fazem parte de sua vida, como a mídia e o povo do Reino. Ele está acostumado a receber muitos elogios, mas não verdadeiros. Como quando elogiam minha habilidade no arco e flecha.

— Ah! — Eu exclamo. — Tenho algo a lhe contar.

    O príncipe deixa o pincel apoiado no cavalete e deixa seu olhar focar apenas em mim. As vezes, é muito difícil dizer que este garoto ao meu lado é o mesmo parado ao lado do trono. São... pessoas muito diferentes.

— Fiz um resumo daquela redação sobre os rebeldes... — Eu começo e Theo concorda com a cabeça. — Silvia detestou. Olhe, eu apenas disse que nós devíamos escuta-los. Dar uma chance para que eles expliquem seu ponto de vista. Eles não estão totalmente errados!

— Hyacinth... — Ele alerta, mas levanto a minha mão para indicar que ainda não acabei.

— Posso ter dito que deveriam dar um título a família Clarke e... não encarar isso de uma maneira pessoal boba. — Eu solto e sorrio constrangida.

— Hyacinth, nao fale isso para mais ninguém. — O príncipe é incisivo e agita os braços levemente em um movimento nervoso. Eu abro a minha boca e solto um "mas" que é cortado no mesmo momento. — Você não vai querer entrar para lista negra do meu pai. Por favor, não.

A Rosa DouradaOnde histórias criam vida. Descubra agora