O Relicário de Heróis de Valamurk - O Levante Contra a Aljava do Destino

Capítulo 07 - Arius

Quando foi treinar em Zíer, Arius Vence pensava que, se ele se dedicasse bastante, se tornaria cavaleiro e seria mandado para Abbenhoth, mas apenas metade disso era verdade: ele conseguiu o destaque que tanto buscou e se tornou um jovem cavaleiro, com apenas vinte e um anos, mas seu sonho se perdeu no caminho quando ele foi alocado em Kwenda, uma pequena e miserável colônia em uma pequena e miserável ilha.

Em pouco tempo Arius aprendeu que o ideal de honra e heroísmo dos cavaleiros não passava de falácia. Não havia nada a ser protegido em Kwenda além dos interesses do reino. Suas tarefas consistiam basicamente em recolher os impostos dos trabalhadores, assegurar que todos estivessem cumprindo suas metas e, principalmente, vigiar para que ninguém desviasse recursos para si ou para sua família. Fora isso, também era esperado que os cavaleiros mantivessem a ordem e resolvessem conflitos internos entre os moradores, como brigas pessoais, mas essa era uma função quase esquecida. Além disso, aquelas pessoas viviam tão pacificamente que chegava a ser tedioso. Com o tempo, Arius abandonou sua armadura de cavaleiro passou a trajar a mesma proteção simples da guarda local.

Nesta manhã especial, porém, Arius usava sua armadura completa novamente. Ele estava empolgado por dois motivos: primeiro, ele havia sido notificado que o Circo das Ondas estaria aportando em Kwenda para passar a semana. E segundo, Gwinvaal Swana estava vindo visitá-lo. Ela e Arius cresceram juntos em Haimes e vivenciaram juntos suas primeiras experiências sexuais, mas nunca chegaram a namorar realmente. Enquanto ela era declaradamente apaixonada por ele, Arius só pensava em ir embora, o que de fato acabou fazendo.

As circunstâncias da visita, no entanto, eram infelizes: Gwinvaal estava sofrendo de uma enfermidade que comprometia seu olho direito. Quando soube, Arius a convidou para ir vê-lo imediatamente, pois ele sabia de alguém que talvez pudesse ajudá-la. Enquanto ela desembarcava, Arius a observava de longe: ela agora era uma mulher adulta, mas ainda preservava os mesmos moldes dos quais se lembrava: corpo pequeno, seios e quadris grandes. Seus cachos ruivos estavam presos em um rebelde coque baixo, mas alguns fios ainda caíam em seu rosto e busto, salpicados de sardas. Seus lábios eram carnudos e vermelhos. Seus olhos eram azuis - Ou pelo menos um costumava ser: ao se aproximar, Arius percebeu o grande curativo em seu olho direito, de onde escapavam escuras veias que se ramificavam pelo seu rosto como raízes.

A primeira coisa que Arius sentiu foi frustração, pois planejava matar a saudade de ir pra cama com Gwinvaal, mas com aquela deformação em seu rosto, seu plano estava adiado indeterminadamente. A segunda coisa que sentiu foi culpa, por pensar nisso enquanto Gwinvaal estava sofrendo com um problema sério. Ela se aproximou dele sorridente, mas, ao perceber sua expressão de descontentamento, virou o rosto constrangida.

-Não. - Ele a puxou delicadamente para o seu abraço - Estou feliz que esteja aqui.

Gwinvaal o abraçou de volta, mas o corpo de Arius estava completamente protegido pela armadura, de modo que ela sentiu como se estivesse abraçando uma estátua.

-Tem certeza que esse tal médico pode me ajudar? - perguntou ela insegura.

-Absoluta. - Ele recebeu a mala dela e lhe ofereceu o outro braço para caminharem - Acredito que em dois ou três dias você estará de volta a Haimes, novinha em folha.

-Na verdade - ela sorriu timidamente - ouvi algumas pessoas comentando que o porto está parado desde ontem, por causa do Circo das Ondas. Não vai ter nenhum navio saindo de Kwenda até a próxima semana, então a gente podia... - Gwinvaal continuou falando, mas Arius não prestou mais atenção. O Circo das Ondas realmente era um grande evento e os moradores de Kwenda viviam somente para trabalhar. O mínimo de entretenimento era, portanto, motivo suficiente para paralisar toda atividade na ilha.